Não foi uma conferência, mas uma coisa mais simples e privada, a apresentação do programa de uma cadeira sobre direcção de arte aos outros professores de um mestrado, mas chegou bem para demonstrar que Jorge Silva é um dos poucos designers portugueses com um discurso articulado e crítico, quer sobre o seu próprio trabalho, quer sobre o estado mais alargado da profissão, a sua história e as suas tendências actuais.
Usando o seu próprio percurso, mas também exemplos históricos de design e de direcção de arte portugueses, enumerou as capacidades e responsabilidades de um director de arte, frisando a capacidade de avaliar, escolher e acompanhar o trabalho de ilustradores.
Falou de novos formatos e tendências da ilustração (street art, grafitti); falou do seu trabalho para jornais (os suplementos do Público), revistas (Adufe, uma agenda cultural de Idanha-a-Nova com muito bom aspecto e M, uma nova revista sobre marketing); falou de livros e manuais escolares (mostrando, neste último caso, um conjunto de capas bastante interessantes simulando grafitti em Stencil ao estilo de Banksy). Terminou com o que chamou as “areias movediças” do branding, do marketing e da gestão de marca, usando como exemplo a sua campanha para as festas de Lisboa.
Penso que a capacidade de Silva para se posicionar criticamente no panorama mais alargado do design não é acidental. No ensino do design, é comum prepararem-se os estudantes para lidar com clientes que não percebem nada de design gráfico, mas um bom director de arte está numa posição mais complexa. Precisa de conseguir gerir, quer trabalhos específicos, locais, quer o percurso de uma publicação, tendo também uma boa percepção das carreiras e capacidades individuais dos seus colaboradores.
No caso de Silva, a mais-valia é a sua capacidade para adequar o trabalho de um ilustrador às características tipográficas de uma determinada publicação e que é visível sobretudo nas suas colaborações com André Carrilho. Mas a qualidade menos óbvia de um director de arte – e que Silva demonstra abundantemente – é a capacidade para defender as suas decisões perante editores e escritores, profissionais que não correspondem de todo à figura do “cliente burro” e que, frequentemente, conhecem tão bem os mecanismos da edição tão bem ou melhor do que qualquer designer.
Filed under: Cliente, Conferências, Crítica, Cultura, Design, Publicações, Uncategorized, Jorge Silva
Comentários Recentes