
De volta de férias onde acabei – como de costume – por ler um livro comprado em viagem: A Supposedly Fun Thing I’ll Never Do Again, de David Foster Wallace, em particular um ensaio de cerca de sessenta páginas, com notas de rodapé exaustivas, entusiasmadas e abundantes, sobre a rodagem de Lost Highway, mas sobretudo sobre Los Angeles e sobre a obra de David Lynch, que Wallace vê pela primeira vez a urinar para um arbusto – o realizador é famoso por beber muito café – e do qual nunca se aproximou a menos de dois metros (apesar da distância, que o escritor explicitamente procura manter, o ensaio consegue, ao mesmo tempo, descrever o ambiente das filmagens de forma quase fotográfica, enquanto vai produzindo uma das melhores críticas que já li sobre os filmes de Lynch – apesar de eu ter sido um consumidor fanático, vendo cada um dos filmes várias vezes, Wallace consegue extrair significados atrás de significados que nunca me ocorreriam, tanto dos filmes como das reacções que vão gerando, desmistificando casualmente muito do que se diz sobre o realizador (enquanto lia, não consegui deixar de pensar que a brutalidade honesta e casual de DFW faria maravilhas pela crítica de design, embora não conseguisse – também – deixar de pensar que seria muito difícil aplicar este grau de intensidade a esta área)).[1]
[1] Ufa: andava a ver se conseguia fazer um post num só parágrafo, parodiando o estilo de DFW. Com o remate final desta nota de rodapé, missão cumprida.
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