
Um dos desenvolvimentos mais curiosos desta crise económica, em particular no que diz respeito à cultura, é o modo como muita boa gente que defendia a privatização da cultura se dedica agora a pedinchar ao Estado por um subsidiozito [1]. Não falo, é claro, dos artistas, mas de galeristas, museus, fundações, etc. Não seria grande novidade acusar artistas de pedir subsídios, embora muitos deles também se recusem a pedi-los, acreditando que se podem sustentar através da sua própria arte. Enquanto não conseguem, vão trabalhando como funcionários para o mesmo tipo de instituição que agora pedincha o tal subsídio. Ou então para escolas, claro, sobre as quais não se pode dizer que andem atrás de subsídios, apenas de mais financiamento. Ou, na falta disso, de menos cortes. O remédio, neste caso, acaba por ser deixar entrar mais alunos, que pagam mais propinas. O problema é que acabam por sair. Numa escola de arte, isso dá origem – não a artistas, porque a arte, segundo alguns, não se ensina – mas a outra coisa qualquer, vamos chamar-lhes aspirantes a artista. Esses, enquanto não são artistas, vão fazendo as suas coisas que ainda não são arte, e enquanto não são pagos para a fazerem, vão-se sustentando, a si e às suas carreiras, através de empregos nas tais instituições que vão pedindo subsídios ao Estado para, entre outras coisas, lhes pagar. Ou então para escolas, que precisam de mais alunos para lhes poderem pagar. É um ciclo vicioso, claro, mas como evitá-lo? Muitos dirão: dando menos subsídios e pondo os aspirantes a artista a trabalhar a sério, mas o ciclo funciona precisamente porque não se financia directamente a arte mas as instituições que pagam a artistas para fazerem outra coisa qualquer.
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