Enquanto falava com os alunos que organizaram a exposição We Are Ready for Our Close Up reparei num estranho paradoxo da vida pública portuguesa. O evento teve apoios, mecenas e público; foi um sucesso. Na altura, queixei-me do tema, a empregabilidade. Argumentei que arranjar dinheiro para montar uma exposição daquelas era indício que o comissariado já era um emprego perfeitamente razoável como alternativa a um emprego a fazer “design como deve ser”. Resumindo, não era preciso fazer daquela exposição uma página de classificados – ela já era um anúncio de emprego porque anunciava um tipo novo de emprego.
Novembro 25, 2010 • 12:19 pm 1
Conformismo
Ontem fiz greve. Fui à escola mas não assinei nem dei a aula. Os funcionários disseram-me que estavam a faltar mais alunos do que professores e realmente só me apareceram cinco para a aula que não dei. Voltei a pé para casa pelo caminho mais longo e a cidade não me pareceu diferente do habitual. Não vi grandes ajuntamentos; de vez em quando vi autocarros que nem me pareceram muito cheios. Nos Aliados, podia-se ouvir música de luta junto à câmara, mas pouca gente a assistir. Mais tarde, disseram-me que houve uma manifestação de gente do teatro junto ao S. João.
Novembro 19, 2010 • 7:16 pm 0
Mais portugueses na AGI
Desta vez não é uma gralha: há mais dois portugueses na Alliance Graphique Internationale, também conhecida como AGI. António Gomes, dos Barbara Says e José Albergaria, dos Change is Good (ex-Barbara Says), que se juntam aos R2 e a Mário Feliciano. É um grupo, dentro da sua variedade, bastante homogéneo; poderíamos quase falar de um estilo, um conjunto de designers que começaram a trabalhar na segunda metade da década de noventa e a alcançarem reconhecimento nacional e internacional já neste século – falo aqui menos do trabalho de Feliciano que conheço pior. Têm todos um design a balançar entre o táctil e o digital, mas quase sempre a pender para o primeiro, usando temas mais ou menos vernaculares em composições fortes e quase sempre “sujas” e “quebradas” – é uma geração que começou com a Emigre e a Ray Gun. Trabalham quase sempre para clientes culturais, desde iniciativas mais ou menos independentes até grandes instituições nacionais e internacionais. São ao mesmo tempo mais versáteis e mais especializados que a geração dos seus professores. Foram de facto a primeira leva de designers portugueses a usar mais fluentemente o computador e a saber o que fazer com a tipografia – até ao final da década de oitenta esta era feita na gráfica ou pelo operador de computadores. Já não vêem o estúdio de design como uma pequena e média empresa que faz trabalho para outras pequenas e médias empresas – se o formato favorito do design português dos anos 80 e início de noventa era o logótipo (com alguma ilustração e tipografia mal espaçada), o formato desta geração é sem dúvida o cartaz e o panfleto com tipografia usada a gosto, em montagens fotográficas, tipográficas e de objectos encontrados.
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Novembro 19, 2010 • 1:12 pm 1
O Continente-Mapa
Há pouco tempo encontrei este mapa, que tenta dar uma ideia da escala continente africano comparando-o por sobreposição a uma série de países como os Estados Unidos, a China, a Índia, toda a Europa de Leste e uma quantidade avulsa de pequenos estados europeus, incluindo Portugal, que parecem ter sido usados só para encher. Olhando-o, é difícil não nos lembrarmos de um outro, feito por Henrique Galvão em 1934, em circunstâncias bem distintas. Já falámos dele aqui, a propósito do modo como a infografia não é algo neutro, mas argumentativo, e que um mapa pode funcionar como um logótipo, na medida em que pode ser usado para representar uma certa identidade nacional.
Novembro 17, 2010 • 11:34 am 9
Quem vê caras.
Entre os cartazes de cinema deste ano parece haver uma tendência: fotografias a cores de planos muito aproximados de caras. Não são imagens intimistas. São caras de gigantes, onde cada poro é visível. Prometem-nos uma familiaridade demasiado próxima – uma distância social inaceitável e tensa.
Novembro 12, 2010 • 3:18 pm 6
Vampiros, Zombies, Classe Média
Estreou há pouco tempo a série The Walking Dead, sobre zombies, que está a ter um sucesso de audiências sem precedentes. Vem na enfiada de uma lista já longa de narrativas inspiradas em mortos vivos, desde filmes a livros, passando por BDs e jogos de consola[1]. Em paralelo, esta tem sido a década dos vampiros, outro género de morto vivo, com características bastante diferentes, também ele com os seus livros, as suas séries e os seus filmes.
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Novembro 10, 2010 • 8:20 pm 4
Fernando Azevedo
Andava atrás do livro, um catálogo de um ciclo de ficção científica da Cinemateca, desde o fim dos anos oitenta, quando o costumava consultar numa biblioteca pública. Passava horas a ler os artigos, fascinado pelo tom coloquial de Benard da Costa, pelas imagens a preto-e-branco onde os actores posavam, mais ou menos hirtos, com os olhos brilhantes apontados para cima, no meio de sombras dramáticas, discos voadores, arranha-céus, monstros variados. Na altura, ainda não sabia que a maioria daquelas imagens não eram sequer fotogramas mas stills,fotografias publicitárias tiradas durante a rodagem. Às vezes, nem eram cenas do filme, o que só sublinhava o tom sobrenatural daquilo tudo – pareciam imagens tiradas de um sonho do filme, de uma realidade alternativa.
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Novembro 7, 2010 • 7:09 pm 9
Liberal, Irreal, Social
Pelos vistos, o governo vai tentar regular os estágios. Segundo um artigo no jornal i, a proposta de Lei de Orçamento de Estado vai tornar “obrigatória a existência de um contrato de estágio escrito, bem como a sua remuneração com um subsídio mensal, além de subsídio de alimentação e seguro de acidentes pessoais”. A lei deixa de fora os estágios curriculares, os estágios extracurriculares com comparticipação pública e os estágios de “emprego público”, que continuarão a ser não remunerados.
Novembro 5, 2010 • 11:54 am 6
Dobrado a meio é igual
via
Tendo terminado a parte escrita da minha tese, comecei a tratar da paginação e fui-me apercebendo de um conjunto de bloqueios – ou melhor, de preconceitos: não é fácil aceitar o formato A4, por exemplo. É demasiado óbvio, demasiado comum. Serve para fotocópias e para impressoras, mas mal chega a ser usado em publicações “a sério”. É um dos lugares comuns que os designers costumam evitar, daquelas escolhas preguiçosas que tomam apenas por defeito: como usar Times New Roman, Helvetica ou qualquer uma das fontes popularizadas pelos sistemas operativos mais vulgares, Arial, Courier, etc.
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Novembro 4, 2010 • 12:07 pm 3
Quem és tu?
Uma das questões mais frequentes com as quais um crítico se confronta é a da sua legitimidade para criticar. Alguém nos pergunta: “Quem és tu para escrever isto?” No meu caso, a resposta costuma ser “Ninguém.” Há quem acredite, pelo contrário, que para dar uma opinião em público são necessários todo o tipo de pré-requisitos: um curso, um currículo, ser alguém, enfim.
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