Mandei-o vir pensando que era o catálogo da 1ª Exposição de Design Português organizada em 1971 pelo Núcleo de Design do Instituto Nacional de Investigação Industrial (INII) – era assim que estava anunciado. Interessava-me pelos textos de introdução, mas sabia que o catálogo da 2ª Exposição, feita dois anos depois, era mais completo.
Quando chegou vi logo que era bastante mais do que eu estava à espera: uma compilação dos textos das duas exposições, incluindo bibliografias bastante completas de tudo o que tinha sido publicado em Portugal sobre design em jornais, revistas e catálogos – o que demonstra uma vontade de não expor apenas o design português como uma colecção de objectos mas também como um corpo crítico e teórico. Inclui textos de Frederico George, Daciano da Costa, Sena da Silva.
É um bom documento para compreender o discurso sobre design em Portugal na altura da sua institucionalização através de associações, escolas, etc.
Numa primeira leitura, percebem-se pelo menos duas diferenças importantes em relação ao discurso actual: há uma rejeição explícita de fixar o que é o design e de evitar que este se resuma ao “produto da actividade individual do designer”, muito diferente da vontade actual de regular legalmente o design e o seu discurso, tornando-os na propriedade exclusiva de uma classe:
Não cabe ao Núcleo de Design do INII propor uma definição oficial de design ou regulamentar uma actividade que terá de ir encontrando os seus próprios caminhos, vocações e estruturas.
[…]
Se nos é permitido assumir uma posição, ela será a de tentar evitar a definição do design como produto da actividade individual do designer.
O design é uma actividade que compromete indiscriminadamente tanto os industriais, quanto os quadros técnicos, os responsáveis políticos, os consumidores ou os profissionais de design.
Cabe a todos eles encontrar as respostas adequadas às exigências que temos de enfrentar. O design que há reflecte as responsabilidades de todos eles.
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Há já algum tempo que acompanho os seus textos, tenho inclusive o seu livro, mas confesso que fiquei particularmente contente quando li este seu texto porque foi o meu tema de tese de mestrado.
Adorei ter estudado este período, mas especialmente ter investigado o Núcleo de Arte e Arquitectura Industrial, posteriormente designado por Núcleo de Design Industrial.
Os textos nos dois catálogos são tão interessantes, e achei curioso como o significado dos conceitos foi alterando. Por exemplo, como inicialmente não usavam o termo “design gráfico” ainda que desenvolvessem já imagem de produto, só que como na altura consideravam que estava relacionado com a industria, chamavam apenas “design industrial”.
[…] Nos catálogos da 1ª e 2ª Exposições de Design Português, por exemplo, vinha uma bibliografia que se adivinha exaustiva de tudo o que se tinha publicado em Portugal até à altura (o final dos anos setenta), na sua grande maioria artigos em jornais e revistas. Não era uma lista grande – desconfio que com algum trabalho se podia ler aquilo tudo em muito pouco tempo. Agora isso seria impossível, mesmo reservando os esforços à produção nacional, alimentada sobretudo pela investigação académica (à primeira vista, e guiando-nos pela tal lista dos anos setenta, há menos escrita nos media generalistas do que na altura). […]
Caro Mário Moura,
Gostaria muito de saber como posso encontrar/comprar este catálogo ou o da 1ª e 2ª Exposições de Design Português organizadas pelo Núcleo de Design do Instituto Nacional de Investigação Industrial (INII).
Muito obrigada
Maria João Félix
Eu encontrei-o por mera sorte num alfarrabista salvo erro de Cascais através de uma pesquisa na net e nunca mais encontrei outro à venda.
Excelente texto, Mário Moura. Tem ai um verdadeiro achado.. Seria pedir muito, se pudesse digitalizar o catálogo? Estou a estudar design e dar-me-ia muito jeito.
Grato, ricaro nunes
De momento não consigo, mas pode ser que em breve.
Olá!
Também estou a desenvolver a tese de Mestrado em Design de Interiores e Equipamento, e este catálogo seria realmente uma óptima mais-valia para o meu trabalho!
Se, como anteriormente pediram, o puder digitalizar ou disponibiliza-lo de qualquer outra forma, também agradeço muito!
Fico à espera de noticias.
Obrigada!
catálogo 2, 1973

está em muito más condições… principalmente porque a encadernação é medíocre e agora são apenas folhas soltas. alguém sabe de que forma posso re-encadernar isto?
Este “catálogo” não é na realidade um catálogo mas sim a edição compilada dos dois catálogos. Como se diz actualmente: a versão em compacto. Não sei, com rigor, o que catalisou esta edição… mas já me disseram que foi uma tentativa do INII de escoar um reminiscente de volumes que não tiveram saída. Portanto quem tem os dois volumes originais, em termos de conteúdo, não perde absolutamente nada.
Foi a sensação com que fiquei.