
“Testemunhar uma situação lamentável quando não se está no poder não é, de modo algum, uma actividade monótona e monocromática. Envolve o que Foucault chamou, em tempos, de ‘erudição implacável’, esquadrinhando fontes alternativas, exumando documentos enterrados, revivendo histórias esquecidas (ou abandonadas). Envolve um sentido do dramático e do insurgente, aproveitando ao máximo as raras oportunidades que se tem para falar, cativando a atenção da audiência, sendo-se melhor no humor e no debate do que os oponentes. E existe algo fundamentalmente instável nos intelectuais, os quais não têm lugares para proteger nem território para consolidar e guardar; a auto-ironia é, por isso, mais frequente que a pomposidade, a frontalidade melhor que a hesitação ou os gaguejos. Mas não há como evitar a realidade inescapável de que tais representações feitas por intelectuais não lhes vão trazer amigos em altos cargos, nem conceder honras oficiais. É uma condição solitária, sem dúvida, mas é sempre melhor do que uma tolerância gregária para com o estado das coisas.”
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