“Por decisão pessoal minha, amanhã mesmo, vou formalizar a renúncia a este direito que a lei me dá”, foi o que disse Miguel Macedo, justificando-o porque não quer “perder um minuto com uma polémica deste género.” O artigo de jornal só refere este argumento que por sinal é péssimo, demonstrando uma mentalidade que se preocupa mais com as formalidades da vida pública, com a letra da lei do que com a ética: tudo indica que o fez para acalmar uma polémica e não porque ache que é uma decisão honrada, inevitável mesmo.
Mesmo esquecendo por um momento que ainda há uma semana se forçou cerca de um milhão de pessoas a abdicarem de uma boa fracção dos seus vencimentos, a que têm direito por lei e por constituição, impondo flexibilidade, austeridade e espírito de sacrifício com a ameaça não muito velada que a alternativa seria o despedimento em massa. Mesmo esquecendo isso tudo, e o mau exemplo que é ter um ar impaciente quando apesar de ter a lei do seu lado, se abdica desse direito “por questões pessoais” e não devido às tais flexibilidade, austeridade e espírito de sacrifício. Mesmo se não houvesse crise nenhuma e Portugal fosse tão rico que a gasolina era gratuita, ainda assim seria difícil vislumbrar a ética de aceitar um subsídio de alojamento por não ter “residência permanente na cidade de Lisboa ou numa área circundante de 100 km”, quando se tem uma casa em Lisboa.
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