Uma das frases feitas desta crise é que “temos vivido acima dos nossos meios”, significando que nos endividámos e que agora chegou a altura de pagar a factura. É inevitável. Para isso teremos que assumir uma austeridade digna, trabalhando mais por menos.
Mas, para muita gente, trabalhar mais por menos é o pão nosso de cada dia (ou a falta dele): estagiários a fazerem design de graça durante meses só para serem dispensados em direcção ao estágio não-remunerado seguinte.
Já não é novidade que muitas empresas encontraram a sua rentabilidade explorando um fluxo constante de trabalho gratuito, sendo efectivamente sustentadas pelos seus trabalhadores (ou mais exactamente pelos seus pais). Exposições e eventos de arte onde os comissários, carpinteiros e arquitectos são pagos, mas o pagamento dos artistas se resume a ajudas de custo (na melhor das hipóteses).
Devia ser óbvio que, quando se diz que não há emprego em Portugal, se está a cometer uma imprecisão: há bastante trabalho, o que não há são salários – o que leva à conclusão que também houve e há muitas empresas em Portugal que vivem acima dos seus meios, na medida em que conseguem ser concorrenciais, fazendo preços baratos e ainda por cima ter lucros, simplesmente esquecendo-se que o trabalho costuma ser pago.
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[…] The Ressabiator, Mário Moura, post de 25/11, aqui. […]