
Quando me perguntam que livro levaria para uma ilha deserta, costumo escolher a edição portuguesa da Sociedade do Espectáculo, de Guy Debord, com uma capa convenientemente espelhada que talvez me ajudasse a sinalizar a minha presença a aviões ou navios. Para uma estadia mais prolongada, escolheria este Almanaque Lello de 1933, com uma pequena régua e uma tábua de multiplicação incluídas na capa e não me espantaria se o seu peso não correspondesse também a alguma medida do sistema métrica – umas tantas páginas uns tantos decigramas. Apesar de todos os programas de televisão sobre sobrevivência em ambientes hostis, que assinalam talvez um obsessão contemporânea pela escassez, um medo de perder irremediavelmente a nossa bolha envolvente de tecnologia e sociedade, a verdade é que há apenas cem anos as nossas ambições e obsessões nessa área da possível subsistência em ilhas desertas eram mais estranhas e extremas: na Ilha Misteriosa, de Verne, alguns prisioneiros naufragados num balão com pouco mais do que a roupa que tinham no corpo, no dia seguinte já tinham ideias de reconstruir ali mesmo a civilização, com fábricas, forjas e casas. Nessa tarefa, só contavam com a sua cultura geral, mas não tenho dúvidas que o Almanaque Lello os ajudaria, um livro-ferramenta que era também um registo de factos, dicas, mapas da terra e do céu, criminologia, agricultura, filosofia, política, etc.
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