Olhem com atenção: poderia ser apenas uma nódoa de gordura na borda das páginas de um livro usado, se não fosse também o vestígio arqueológico de uma antiga tentativa, falhada, de dar cabo da própria ideia de livro usado.
Reparem que também aparece neste, embora muito mais esbatida:
Tratou-se de uma campanha para garantir ao leitor que um livro era novo e não vendido em segunda mão, através de um selo branco de cola ou de borracha líquida a fechar as páginas. Na breve nota explicativa que aparece nos dois livros (clicar na imagem abaixo para aumentar), a justificação é a higiene: “Defenda a sua saúde não manuseando livros usados.”
O mais provável é que tenha sido um estratagema para evitar a concorrência da venda de livros em segunda mão.
A invocação da saúde pública não é incomum nestes casos: lembro-me de, há uns vinte anos, um colega brasileiro ter estranhado não se dobrarem os filmes estrangeiros em Portugal, porque as legendas faziam mal à vista – talvez os vestígios de uma justificação oficial para a acção da censura política através da dobragem.
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