Não é particularmente difícil inovar. Basta muito simplesmente fazer alguma coisa que ninguém tenha feito. Por exemplo, António Mexia no Público de hoje descreve uma série de intervenções por parte de artistas plásticos em barragens do Douro como uma inovação, tal como será uma inovação convidar alguns Pritzkers, nacionais e internacionais, para projectarem outras tantas dessas barragens. A inovação consiste aqui em usar o crédito cultural dos artistas e arquitectos para minimizar uma intervenção bastante destrutiva na paisagem e nos ecossistemas da região. Torna-se assim a administração patrimonial numa espécie de contabilidade aritmética: menos uma paisagem e mais uns tantos monumentos. Outra inovação é dar nomes de marcas a estações de transportes públicos. E vai-se percebendo um padrão: a inovação vai sendo uma designação para a erosão lenta e irremediável de um património comum que ainda ia sendo protegido por uma lei ou tradição qualquer. Ás vezes há boas razões para nunca ninguém ter feito uma coisa.
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