The Ressabiator

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Se não podes pô-los a pensar uma vez, podes pô-los a pensar duas vezes

E, já agora

Em relação a Fernando Ulrich, e ao chorrilho de insultos que não tem parado de atirar a quem tem aguentado bem mais a crise do que ele próprio, e é obrigado (ainda por cima) a despejar os seus impostos para os bolsos dele. Muita gente tem apelado a que se boicote o BPI, retirando de lá o dinheiro e fechando as contas. Pessoalmente, não tenho lá conta. Mas irei ler com bastante atenção os patrocínios de eventos culturais, aquela faixazita de logos ao fundo de um cartaz. Se lá estiver o logo do BPI, lembrar-me-ei que foi o dinheiro dos meus impostos que, via juros, pagou esse patrocínio, tendo sido desviado do seu uso legítimo de apoio público à cultura, saúde e educação. Não acredito em boicotes absolutos e eternos, sobretudo num país onde as opções são tão reduzidas, mas farei o possível por protestar publicamente o meu desagrado por esse patrocínio.

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Liberalizem é o voto

Hoje com a votação do OE, multiplicam-se os apelos a que os partidos do Governo  quebrem a disciplina de voto. Rui Tavares lembra que é inconstitucional; Daniel Oliveira apela a que se responsabilize individualmente cada um dos deputados pela sua decisão hoje. Nada mais justo, e pela minha parte fá-lo-ei: não apenas pelo meu voto, mas farei campanha sempre que possível para que esta gente não volte a ser eleita. Participem na vida democrática, ninguém vos pode expulsar disso, mas apenas como cidadãos no meio dos outros. Pode ser que aprendam alguma coisa.

Em todo o caso, acho significativo que um governo ultraliberal liberalize tudo, menos a possibilidade dos deputados votarem livremente. Não são vocês os representantes da iniciativa individual contra o Estado forte e colectivo? E que tal liberalizarem o voto?

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Menos pão! Mais Impostos!

Mais do que tudo o que este governo fez até agora, é a “refundação” que me mete mais medo. Isolada é só mais um rebranding na longa linha de rebrandings com os quais o neoliberalismo foi sendo revestido em Portugal, camuflando sempre a sua agenda base – menos Estado, mais mercado. Mas, pelo seu efeito cumulativo, obsessivo, imparável arrisca-se a ser a gota que faz transbordar o copo. Não: arrisca-se a ser a gota que esvazia finalmente o copo. Leia o resto deste artigo »

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Rebentaram os diques entre a realidade e a ficção

Ontem, apanhei esta imagem dos túneis inundados do metropolitano de Brooklyn, que pode muito bem ser falsa (ter aparecido no instagram não deixa muitas esperanças). Um dos efeitos secundários a esperar de qualquer tragédia americana é um aluimento da diferença entre facto e ficção – incluo no rol das desgraças qualquer tipo de corrida eleitoral, como é óbvio. Não se trata tanto de ironia, mas da consequência de se viver cada vez mais a realidade através da ficção e dos filmes, Leia o resto deste artigo »

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Dinheiro, Cultura e Democracia

Nas discussões que tenho ouvido sobre o assunto, há sempre uma ambiguidade quando se fala de cultura. Por um lado, diz-se que é aquilo que nos define como povo, país, época (mais termos ambíguos, que deixaremos passar). Por outro, é algo feito por profissionais ou pelo menos especialistas treinados para o efeito. Se a cultura é algo que nos define, então porque precisamos de alguém que a faça por nós? Se as telenovelas, os ranchos populares ou a gastronomia são cultura, para quê gastar dinheiro com isso? Não viveríamos melhor sem gastar dinheiro com cultura que aparentemente só serve para legitimar grandes interesses: o Governo, Bancos, a Europa, etc.? Leia o resto deste artigo »

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Patrões e Patronos

Qual o futuro que se prevê para a cultura, na nossa sociedade refundida refundada? Bastante parecido com o passado. Há uns tempos escrevia eu isto:

Passeava pelo Porto com um amigo americano, um jovem curador assistente, que a certa altura me perguntou, apontando o logotipo do BPI, se era de uma instituição cultural: tinha-o visto em Serralves, na Casa da Música, um pouco por todo o lado, em cartazes e folhetos onde era muitas vezes o único elemento a cores e com algum destaque. Leia o resto deste artigo »

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Marginalia

Em Guimarães, cada loja tinha o seu coração geométrico, de renda, em madeira, em bolo. Crianças trepavam as arestas de versões maiores na Praça do Toural. Um pouco exaustivo demais para o meu gosto. Só vi o meu coração preferido a caminho da estacão de comboios, de mochila às costas e preparado para o regresso: um grafitti stencil azul com o slogan “unpaid artists perform better”.

Se vale a pena vir aos Grandes Eventos Datados (Guimarães 2012, Porto 2001, Expo98, etc.) não é apenas pela arte e pelos eventos oficiais, mas também pelos desabafos, protestos e trocadilhos que inspiram. Alguém me dizia ontem que Alfredo Jaar tinha escrito “Cultura = Capital” já não sei em que ocasião, mas não se compara ao slogan clandestino que apareceu durante o Porto 2001: “Cultura do Capital Europeu”. Ou da boca do “Allgarve, Poortugal.”

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Capitais da Cultura

Em viagem, não muito longe de casa, em Guimarães, onde não vinha desde as aventuras da Cena Independente do Porto há meia dúzia de anos. Também nessa altura se tinha dado um valente safanão ao país que atirou uma data de gente do Porto para aqui. Agora, encontra-se gente de todo o lado. E a cidade está mais arranjadinha (nem sempre mais bonita). Curiosamente, essa primeira incursão aproveitava os restos do Porto 2001 e ficava exactamente a meio caminho entre as duas capitais da cultura. Marcou a estranha consolidação de uma geração que foi aparecendo no Porto por volta e no pós-2001 e a sua desintegração mais ou menos rápida. Serviria, não de modelo, mas de primeira instância da cena cultural tal como vai acontecendo agora: espaços que também são bares ou galerias; doses iguais de precariedade e burguesia. Um quotidiano artístico bastante activo e que já desistiu de aparecer nos jornais, mais atentos a Lisboa e ao dinheiro.

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Libertinos, Braga, Explendor

 

Por várias razões mostro aqui a minha colecção de Libertinos que Passeiam por Braga: porque gosto do texto; porque vou ao Minho (embora não a Braga); porque Pacheco foi até lá à boleia de uma das carrinhas das Bibliotecas Itinerantes da Gulbenkian; pela gralha rasurada na capa da segunda edição; porque a primeira edição (abaixo) é bonita, clássica, quase iluminista e tem o dedo de Vítor Silva Tavares. Por tudo isso. Leia o resto deste artigo »

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Leituras Electrónicas

Já lia muita coisa no ecrã antes de comprar o iPAd, mas foi ele que me decidiu a optar por e-books e assinaturas electrónicas, em vez de livros e jornais. É mais rápido (posso começar a ler um livro no dia em que é lançado); fico com menos coisas em casa (praticamente já só compro livros e revistas vintage, para colecção); é mais fácil pesquisar e arquivar informação útil (nada de recortes ou arrependimentos de ter atirado para a reciclagem um artigo que afinal era importante); e, para quem viaja, é tudo mais portátil (pode-se ler no mesmo aparelho onde se vê um filme, lê a correspondência, ou faz uma apresentação). Leia o resto deste artigo »

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Crítica

uns textos atrás, falei da urgência de uma atitude mais interventiva dos curadores em relação à maneira como a cultura tem sido tratada durante esta crise. Digo isto porque as tomadas de posições dos artistas não têm sido, claramente, suficientes. Falta-lhes autoridade e visibilidade. Leia o resto deste artigo »

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Identidades

Cada vez mais acredito que o desafio para as artes e para o design em Portugal será a criação de identidades que se oponham e (se possível) substituam as que nos trouxeram aqui, a este momento. Não será fácil, porque as ideologias e identidades que provocaram e mantêm esta crise não só estão bem vivas nas artes como em grande medida foram ensaiadas e aperfeiçoadas dentro delas, antes de serem largadas na população em geral – os estágios não remunerados; o recibo verde; a precariedade; o trabalhador como empresário a título individual, financiando a sua participação em empresas ou eventos de grande escala, que só asseguram visibilidade ou currículo; a valorização da gestão (curadoria, p. ex) acima do trabalho propriamente dito; etc. Leia o resto deste artigo »

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A Doença do Tio Patinhas

Parece que Fernando Ulrich também anda com a Doença do Tio Patinhas, que já tinha afligido Soares dos Santos, e supostamente, antes dele ainda, Maria Antonieta, uma espécie de Síndroma de Tourette social, que leva o paciente a proferir afirmações que a maioria das pessoas (99% para ser simbólico) achariam ofensivas, mas que o próprio considera serem o mais puro senso comum. Leia o resto deste artigo »

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Ser Designer

Mais do que uma vez, tenho visto designers de formação desiludidos com o design. Não os alunos maus ou mais-ou-menos, mas os melhores. A desilusão, parece-me, tem a ver com a insistência em ensinar as pessoas a serem designers – em transmitir não apenas uma competência técnica e formal, mas uma identidade. Leia o resto deste artigo »

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A Última Utopia

Durante o Pós-Modernismo falava-se muito do fim das Grandes Narrativas, uma maneira de dizer que já não havia um grande sistema capaz de unir, a bem ou a mal, a sociedade. Tudo era relativo: o Marxismo, a Ciência, a Religião. A História, até. Já ninguém levava a sério as grandes utopias modernistas (daí o Pós). Já ninguém acreditava na possibilidade de uma Linguagem Universal, fosse na matemática, fosse nas línguas, fosse nas artes. As Vanguardas, a Arquitectura, o Design, todos eles já passaram a sua fase moderna, heróica, em que acreditavam ser essa linguagem, capaz de promover a harmonia entre os homens e de melhorar a sociedade. Mas, pelos vistos, ainda havia espaço para mais uma utopia: a Economia. Leia o resto deste artigo »

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Coisas que ando a debicar (enquanto leio outras)

Este é uma antologia sobre a precariedade do trabalho na arte, um assunto que me interessa há muito tempo, quase desde a altura em que escrevo para aqui. Podem encontrar alguns exemplos do que penso sobre o assunto aqui, aqui e aqui, quase tudo pré-crise. Agora, esta reflexão só se tornou mais urgente. E não basta interrogar o papel da arte na sociedade, mas também a maneira como se estrutura o trabalho dentro da arte e do design. Ou seja, não basta fazer arte política contra a precariedade quando a estrutura em que esse trabalho é produzido assenta também ela na precariedade. Leia o resto deste artigo »

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Unir os pontos

Depois de ler o artigo no Ípsilon sobre o Doc Lisboa, que apostou numa cobertura documental, quase em directo da crise, confirmo a ideia que, dentro da cultura, a resposta mais orgânica e dura da situação tem sido a do cinema. Por comparação, o resto das artes são muito menos vocais, silenciosas até, tirando uma ou outra voz isolada (Siza com a sua boca sobre vivermos numa ditadura ou Maria Teresa Horta). Leia o resto deste artigo »

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Coeurs Sanglants, 1988

Enki Bilal era um dos meus desenhadores favoritos da segunda metade da década de 80, com um estilo ao mesmo tempo colorido e sujo, onde ainda era possível ver os restos de um contorno, da linha clara. Não havia muita coisa que se lhe comparasse. Fazia uma ficção científica urbana, a cair para o fantástico e, muitas vezes, para o político. Pela origem jugoslava, foi o homem de serviço na altura da queda do muro, e antes ainda, quando o muro, as grandes estrelas de cinco pontas vermelhas, as locomotivas cheias de soldados eram recuperadas numa versão estilizada, nostálgica, decadente, das utopias soviéticas. Leia o resto deste artigo »

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Personal Views II

As Personal Views vão voltar e é uma boa notícia. Nas primeiras séries foram um acontecimento central no panorama do design português, dando oportunidade para ver os grandes nomes do design internacional ao vivo e a menos de dez metros. Havia grandes migrações e filas de espera. Mas nem era mau porque, enquanto se esperava, se podia pôr a conversa em dia com gente de Lisboa, Coimbra, etc. – eram também uma oportunidade para ver o design português como comunidade, ao vivo e acotovelando-se. Leia o resto deste artigo »

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Extinção em Massa

Outro dia no Facebook alguém dizia que, na Quadratura do Círculo, Pacheco Pereira parecia da oposição, a exigir a demissão imediata do Governo e António Costa, silencioso e a evitar o assunto, parecia do Governo. É uma boa imagem. Que mostra como o lugar do Governo é neste momento um buraco onde ninguém quer cair. Mas a alternância bipartidária dita que o PS deve cair lá. Leia o resto deste artigo »

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Mário Moura

Mário Moura, blogger, conferencista, crítico.

Autor do livro O Design que o Design Não Vê (Orfeu Negro, 2018). Parte dos seus textos foram recolhidos no livro Design em Tempos de Crise (Braço de Ferro, 2009). A sua tese de doutoramento trata da autoria no design.

Dá aulas na FBAUP (História e Crítica do Design Tipografia, Edição) e pertence ao Centro de Investigação i2ads.

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