The Ressabiator

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Se não podes pô-los a pensar uma vez, podes pô-los a pensar duas vezes

A Minha Irmã 2

 

Do facebook da minha irmã, ainda em relação à situação de ontem:

Amigos, querido amigos. Ele veio ontem a casa por uns momentos para fazer a mala e partiu. Seguiu para castigo, tecnicamente não é prisão. Por agora.. terá de estar uns dias a envergar um uniforme e uma arma de assalto na mão. Perversões características de regiões onde a liberdade não abunda. Mas está comunicável. E tem montes de tabaco para aguentar. Abdicou da posição política explícita e aceitou um acordo por minha causa, percebi agora, para eu não ser deportada. Estamos a meio de um processo kafkiano de obtenção de visto. Prisão indefinida significaria não conseguir os meus documentos e teria de sair de cá, entre muitas outras coisas. Mas a prisão virá da próxima vez que o chamarem.. é uma questão de tempo. Este foi um aviso, para o quebrar. Da próxima vez estarei preparada e sei que vos tenho todos comigo. Por isso um monumental obrigado a todos. Fico tão grata.. A esta distância senti-nos rodeados de amigos, foi decisivo para nós. Não sabem a diferença que fez para mim todo este apoio aqui longe. Todos estão no meu coração para sempre.
Agora estou à espera que ele volte para casa para mim. É um direito humano não querer matar e oprimir, viver segundo a consciência individual dos direitos humanos do próximo de não serem mortos e oprimidos. Se nos tirarem isso, que resta da nossa humanidade? Liberdade para todos os prisioneiros políticos, do rio Jordão até ao mar e por todo o mundo onde estejam. Juntos, permaneceremos fortes. Um obrigado sentido e um abraço a todos aqueles que estão connosco, amigos queridos.

Vossa, Violeta e Avihai.

Filed under: Crítica

O Photobook Infantil

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Nos últimos dez anos o photobook tem sido um formato na moda. Têm-se multiplicado as publicações sobre o assunto, os artigos, as teses e os próprios photobooks, cujo preço, de novos e velhos, tem atingido valores astronómicos. Mas se a procura é muita e a produção maior, ainda assim os seus temas são poucos: documentário, denúncia política, sexo, glamour, ruína. Tudo temas que poderíamos adjectivar como “adultos”. Leia o resto deste artigo »

Filed under: Fotografia, Ilustração

A minha irmã

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A minha irmã Violeta é repórter. Tirou o curso de design. Depois mudou de ideias e foi para jornalismo. Tirou um mestrado. Estagiou em Barcelona, depois em Israel. Teve que voltar durante um ano para Portugal porque o estágio e o dinheiro acabaram, e teve problemas de saúde que a obrigaram a fazer uso do nosso, ainda assim, generoso Sistema Nacional. Deixou lá o namorado israelita, Avihai, activista pró-palestiniano. Apanhou no pêlo enquanto fotografava junto ao parlamento. Esteve a cobrir os movimentos de combate à fome em Portugal. Há menos de dois meses voltou e estava feliz. Hoje o namorado foi preso por objecção de consciência, por se ter recusado a voltar ao exército. Vai a tribunal marcial e pode ser sujeito a pena de prisão.

Update: para já, últimas notícias, castigo e não prisão.

Filed under: Crítica

Investigar como sair daqui

Hoje em dia, nas instituições onde se ensinam e se aprendem artes toda a gente investiga, discute a investigação e, cada vez mais, lamenta a investigação. Escrevem-se papers, elaboram-se teses, organizam-se congressos. As novas regras de avaliação a isso obrigam. E cada vez mais gente lamenta o tempo que isto rouba. Eu já o fiz várias vezes aqui no blogue. Jorge Figueira, crítico de arquitectura do público e professor, fê-lo na sua coluna da semana passada. Leia o resto deste artigo »

Filed under: Crítica

Moção de Censura

Não acredito que haja qualquer tipo de censura quando manifestantes interrompem os discursos de qualquer ministro deste governo cantando o “Grândola Vila Morena”. Se calhar até se trata de legítima defesa. Habitualmente, são os discursos destes ministros que interrompem o “Grândola Vila Morena” e tudo o que lhe está associado.

Não foi censura; quando muito foi uma moção de censura. Leia o resto deste artigo »

Filed under: Crítica

Publicidade não endereçada, não obrigado

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Depois do cacilheiro apareceu um Toyota da Joana Vasconcelos. Edição limitada a cinco exemplares. Preço só revelado a quem encomenda. Diz Bruno Galante, do departamento de comunicação e marketing da marca: “Estes exemplares podem vir a tornar-se nos mais valiosos que a marca produziu, pelo facto de serem obras de arte.” E qual é o problema? Leia o resto deste artigo »

Filed under: Arte, Crítica, Cultura, Design

Nomes de Código

Já me habituei a que se responda a uma conferência ou a um texto meu dizendo: mas não falou de Deleuze, Heidegger ou outro nome qualquer – estes são exemplos mais ou menos inventados. O que interessa aqui é que alguém responde a um argumento com um nome. É evidente que esse nome é apenas um resumo de um outro argumento, uma espécie de abreviatura, uma sinédoque (tomar a parte pelo todo; tomar o autor pela obra). Assim, se alguém invoca Foucault a propósito de certos assuntos, prisões ou sexualidade, quem conheça a obra percebe do que se fala. Mas para quem não percebe a discussão torna-se logo mais obscura. Por uma questão de transparência, para abrir a discussão, prefiro ter um pouco mais de trabalho expondo os argumentos, evitando se possível referir os seus autores. Se cito directamente alguém, identifico-o; se uso uma linha de argumentação ou um método crítico prefiro não o fazer. Não apenas por transparência, mas também para evitar preconceitos. Se uso argumentação vinda de Foucault ou de Marx, essa origem chegará para invalidar o argumento junto de algumas pessoas, para lhe retirar toda a autoridade ou para ser aceite acriticamente. A última razão para evitar os nomes é (também) estratégica: dizer o nome de uma estratégia argumentativa ou do seu autor é meio caminho andado para que se torne mais fácil uma contra-estratégia.

Filed under: Crítica

Prophet

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Sempre à procura de boa ficção científica, dei com Prophet, uma banda desenhada, a recuperação de um velho personagem da Image Comics, criado nos anos 90, quando estavam na moda heróis musculados e carrancudos, se possível versões mais agressivas de superheróis clássicos. Prophet, um sem-abrigo submetido nos anos 1930 a um tratamento experimental que lhe dava força e resistência, periodicamente congelado e descongelado para cumprir missões, não andava longe do Capitão América. Uma espécie de clone perfeitamente dispensável no meio de muitos outros. Leia o resto deste artigo »

Filed under: Banda Desenhada, Crítica

Muito para lá do cacilheiro

Ao longo da discussão do cacilheiro, argumentou-se (Alexandre Pomar, por exemplo, mas também uma ou outra pessoa nos comentários) que nada disto era ainda crítica porque ninguém tinha visto o objecto final.

A minha definição operativa de crítica, não apenas de arte, mas literária, musical ou cultural, é que se trata de uma especialização dentro da área mais geral da opinião – que inclui os comentários sobre política, religião, futebol, etc. Leia o resto deste artigo »

Filed under: Arte, Autoria, Crítica, Cultura

Ó, a ironia disto tudo…

Quando escrevia sobre o cacilheiro de Veneza, ocorreu-me que alguém ainda diria que aquilo na verdade era uma crítica do poder, das instituições, dos símbolos nacionais, do próprio mundo da arte, etc. – uma ironia que o nosso governo seria demasiado tótó para perceber.

Mas, sinceramente, muito sinceramente (uso aqui o termo com rigor, por oposição a “ironicamente”), estou-me nas tintas para a ironia. Leia o resto deste artigo »

Filed under: Arte

Concluindo

Concluindo, a ida do cacilheiro para Veneza interessa a muita gente. Porque concorda, porque discorda, porque se está nas tintas, porque acha tudo uma anedota. Acaba por não fazer diferença. Com toda a certeza, só significa com toda a certeza que interessa. Prova disso foi o aumento de tráfico aqui no blogue: mais de 5300 visitas, mais de 3000 visitantes, em apenas um dia (mais 1700 visitantes que o record anterior). Em 2007, quando me mudei para o WordPress tinha isso num mês. O texto em questão teve mais de mil shares (só durante o dia) no facebook. Esteve no primeiro lugar do WordPress português e o próprio blog chegou ao quarto lugar. Já da última vez que tinha dedicado algum tempo ao assunto, em Julho do ano passado, quando a escolha de Vasconcelos foi anunciada, houve bastante burburinho. E entretanto continua a não haver uma revista de arte em Portugal. E a crítica em jornais nas semanas mais mexidas chega aos seis artigos. Poramordedeus, não é preciso citar Agamben, Grois ou Deleuze para criticar isto. Basta descrever o que se está a ver em voz alta. Se parece uma piada ou se alguém do governo diz bem daquilo é porque é mau.

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Cacilheiro Gurmê

Só mais uma achega, grande demais para incluir no texto anterior sobre o cacilheiro de Joana Vasconcelos. Pelos vistos também pertence a um género de “arte política” muito em voga, que consiste em agarrar na ruína de qualquer coisa política, social ou popular, transformando-a numa coisa bonita, gurmê, de luxo.

Diz ela ao Expresso:

“O cacilheiro é o barco dos trabalhadores, o barco das pessoas, e é o meio de transporte que há mais tempo faz a união entre as duas margens do Tejo em Lisboa.”

E assim agarra-se nos destroços de um transporte público e leva-se a coisa para Veneza para servir de quiosque gurmê, business center e salão de Fado flutuante. Nada melhor para monumentalizar as políticas deste governo: um empreendorismo saloio sustentado por um discurso que louva a austeridade e a pobreza mas que só as pratica depois de bem forradinhas a luxo.

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Fazer Caixinha

Aspen, Magazine in a Box #4

Aspen, Magazine in a Box #4

Já andava atrás de uma há anos. Não é difícil encontrá-las. O difícil é encontrá-las por um preço acessível. Hoje o carteiro trouxe-me finalmente a minha Aspen. Uma caixa de papelão com outra caixa, mais antiga, lá dentro. Mais rasa do que estava à espera, cerca de dois centímetros, mas quase do tamanho de uma revista e parecendo-se bastante com uma, descontando o facto óbvio de ser uma caixa (tem numeração e lombada). Leia o resto deste artigo »

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A Artista como Marca Portuguesa

Vasconcelos

Joana Vasconcelos manda um velho cacilheiro para Veneza, forrado a azulejos e com um interior uterino. Nem vale a pena analisar demasiado, porque é tudo muito óbvio. Um cacilheiro. Para Veneza. Forrado a azulejos. Com um interior uterino. E podem-se fazer festas e beberetes no tombadilho. E vai ter uma loja da Vida Portuguesa. Leia o resto deste artigo »

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O Máximo do Mínimo

fernando pessoa

Quando a vi na Fnac, gostei mesmo muito desta capa, que deve ter sido feita pelo Rui Silva (não verifiquei). Tem muito mais impacto ao vivo do que neste jpg tirado do google. A ideia é simples mas eficaz: um arranjo simétrico, económico, duas cores, das letras, tornado dinâmico pela geometria do resto. Muito bom, e com um grande impacto no meio das outras capas mais ruidosas, mais riquinhas, da estante portuguesa. Mesmo quando são minimais só raramente são tão despojadas e elegantes.

Confesso que sinto uma certa falta deste género de modernismo, onde uma folha de papel era posta a vibrar com o mínimo dos toques, um ritmo, uma textura, como se fosse fácil.

 

 

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Mais Cinema Engripado

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Hoje, a primeira parte de um documentário sobre o Punk de Los Angeles, The Decline of Western Civilization, de Penelope Spheeris (1981), mais conhecida por ter realizado Wayne’s World nos anos 90. Surpresas? Darby Crash dos Germs tinha dentes como o pateta da Disney e a banda um dia encontrou um trolha morto de ataque cardíaco no jardim. Enquanto a ambulância não chegava tiraram fotografias estendidos ao lado dele. Já os Black Flag viviam na cave de uma antiga igreja Baptista. Um deles dormia na prateleira de cima de um armário embutido que alugava por 16 dólares ao mês (não faço ideia se era muito ou pouco). Leia o resto deste artigo »

Filed under: Crítica

Ciclo de Cinema Engripado

Repo Man

Repo Man

Quando estou com gripe, o remédio costuma ser uma botija de água quente, um anti-gripe de oito em oito horas, banda desenhada e muitos filmes. Desta vez uma dose de nostalgia vista com novos olhos, olhos de crise. Leia o resto deste artigo »

Filed under: Crítica

O Mercado Comum

Tenho-me dedicado a tentar perceber a história da União Europeia e o papel que a Alemanha teve nela. Mesmo uma investigação preliminar leva à conclusão que a Europa foi, desde a sua origem, uma construção neoliberal – as expressões “Mercado Comum” e “Comunidade Económica Europeia” sugerem isso mesmo, uma união onde a política deriva a sua legitimidade do mercado, e não o contrário. É claro que havia outros rumos possíveis, mas este era o Alemão e o de certa direita. Leia o resto deste artigo »

Filed under: Crítica

A Constante

Hoje, José Manuel Fernandes saiu-se com uma brilhante: acha que o Governo vai terminar a legislatura. E acha que isso se deve às boas notícias que começam a aparecer, a ida aos mercados e a boa execução orçamental. Leia o resto deste artigo »

Filed under: Crítica

O Futuro das Artes

Há umas semanas, dizia eu que para se perceber o futuro das artes em Portugal era uma boa ideia olhar para a cena do Porto durante a última década, uma economia cultural abandonada – pelos financiamentos, pelos media, pelas grandes instituições – e que encontrou uma identidade e uma saída a produzir dentro do contexto da viagem low-cost, que lhe traz um público de turistas internacionais, mas permite também a circulação de objectos e artistas. Neste contexto, percebe-se bem como a música, a comida, a roupa e a ilustração, formatos portáteis por excelência, ganham protagonismo. O melhor exemplo será talvez o livro de ilustração: pequeno, cabe numa mochila, agrada a crianças mas também a adultos, incluindo aqueles que não falam bem a língua.

Pois bem, podemos confiar no nosso governo para f***r tudo, com particular perigo para o que esteja a funcionar bem: a venda da ANA arrisca-se a dar cabo desta cena toda muito rapidamente.

Filed under: Crítica, Cultura, Design, Economia, Ilustração

Mário Moura

Mário Moura, blogger, conferencista, crítico.

Autor do livro O Design que o Design Não Vê (Orfeu Negro, 2018). Parte dos seus textos foram recolhidos no livro Design em Tempos de Crise (Braço de Ferro, 2009). A sua tese de doutoramento trata da autoria no design.

Dá aulas na FBAUP (História e Crítica do Design Tipografia, Edição) e pertence ao Centro de Investigação i2ads.

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