Assiste-se à discussão da crise nos jornais e na televisão e parece que as coisas estão a mudar, que está tudo mais político, mais crítico e mais interventivo, mas acaba por ser uma ilusão. Só se tornou quotidiano o acto de chamar nomes ao Presidente ou rir de mais uma previsão falhada do Ministro das Finanças ou encolher os ombros perante as tretas pomposas do Primeiro Ministro. Mas é como ver futebol, um entusiasmo sincero mas à distância. A maioria das pessoas acredita lá no fundo que a crise vai parar antes de lhe chegar aos tornozelos e, mesmo que chegue, acredita que com sorte pode voltar tudo a ser o que era. Não me parece. O design gráfico já vai mudando. Os ateliers intermédios dependiam em grande medida de encomendas de entidades mais ou menos públicas e de eventos culturais apoiados pelo Estado. Era uma espécie de função pública externa em regime freelance. Cortando-se nos dinheiros públicos, corta-se nos rendimentos destes ateliers. E já se assiste a algumas reacções: a reivindicação de concursos públicos com preços dignos ou até simplesmente de concursos públicos, quando o dinheiro já falta, já nem existe. Em alternativa, muitos designers dedicam-se a trabalhar com o pequeno empreendorismo, gurmê, alternativo, de hostel, de bar, de café, de concerto, de livraria. Às vezes, nem se trata de trabalhar para clientes mas de criar e manter a identidade do próprio negócio. Volta-se ao design total dos anos 50 e 60 mas numa escala de vão de escada e pelas mesmas razões: onde não há dinheiro não compensa a especialização.
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