A propósito da Trienal de Arquitectura, já ouvi mais que uma pessoa a perguntar: Mas onde estão os alunos e os professores? Não se interessam? Não se está a discutir o futuro deles?
Não que a Trienal esteja às moscas: as inaugurações estão de tal modo cheias que os seguranças são obrigados a dosear as entradas e as saídas. Os eventos mais pequenos, visitas guiadas e discussões, também não estão sequer perto de estarem vazios mas não há tantos alunos e professores como se gostaria. E lá se diz que as novas gerações não se interessam, etc. E é injusto.
Se as escolas de arquitectura forem como as de design ou de artes plásticas, há eventos todos os dias da semana, de tarde, de manhã e à noite. Dantes, havia aulas de avaliação, agora há eventos abertos ao público com cartaz, página do facebook e catálogo. Dantes, o ano começava, agora abre como se fosse uma flor, com discursos, exposições, cartaz e catálogo. Dantes, o aluno entregava o trabalho ao professor numa pastinha meio amassada, agora faz uma apresentação e participa de uma exposição, se possível individual. Alunos e professores não têm tempo para mais nada que não seja produzir eventos.
Há quem insista que cultura e economia não têm nada em comum. Não é verdade. Os economistas mais à esquerda dizem (e eu subscrevo) que estamos a viver uma crise da procura. Ou seja, que não adianta dar apoios a empresas (a oferta) porque não há consumidores para comprarem o que produzem (não há procura).
Na cultura acontece o mesmo. Só se recebe apoios quando se produzem eventos. Mas se o tempo livre de quase toda a gente é ocupado a produzir eventos, cada vez menos gente tem tempo para os frequentar.
A solução? Do lado da economia, não desviar recursos dos trabalhadores para as empresas. Quanto mais salários e tempo livre têm os trabalhadores mais disponibilidade têm para os investirem no que as empresas produzem. Do lado da cultura, não é muito difícil perceber o que deve ser feito.
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