São mupis e capas de brochuras sem qualquer imagem, puramente tipográficos. Apresentam aforismos curtos em inglês e em português: “A Cidade é tua”, “Less No!”, “Tactics not Systems”, etc. Em baixo, o slogan do evento “Close, Closer.”
Não se anunciam eventos, datas ou sítios. Não há nada que nos esclareça. Não se divulga ou anuncia o conteúdo do evento, apenas o seu teor, a sua identidade. Quase só se marca um território (neste caso Lisboa) e uma duração. Habitualmente, não seria preciso muito mais – uma trienal não é propriamente o tipo de evento que apanha o seu público pela calada.
As frases são vagas e bem intencionadas. Não fosse a brancura do fundo ou a ausência de três ou quatro candidatos sorridentes, até podiam passar por propaganda autárquica. Quando as li pela primeira vez, pensei que eram apenas exemplos de bienalês – um jargão curto e esperançoso, afinado para não hostilizar ninguém. Estava quase enganado: na verdade, são respostas do público a perguntas apresentadas no site da trienal (“Que perguntas deve a arquitectura perguntar?”, “Quando começa a arquitectura?”, etc.) As respostas vão-se acumulando no site como um padrão de fundo. Algumas foram seleccionadas pelos curadores para ilustrarem a divulgação do evento.
É participativo, sim, é a voz do público, sim, mas aparada das perguntas que a motivaram, tornada oracular pelo processo expedito de lhe amputar parte do sentido – o que nos é apresentado é um diálogo partido ao meio, uma opção curiosa num evento virado mais para o público em geral do que para a comunidade dos arquitectos.
Através destas respostas transformadas em aforismos pela escolha de um comissário está-se a mostrar que esta não é uma trienal sobre arquitectura mas uma trienal sobre comissariado de arquitectura, o que é plenamente confirmado quando se visita os diversos eventos: uma exposição comissariada onde se convidam instituições para comissariar eventos comissariados; o género de refeição que se costuma descrever como sendo comissariada; etc.
E mostra-se também uma tendência um pouco irritante do comissariado actual: não fala, não tem opinião, mas procura dar condições ao público para que fale e tenha a sua própria opinião. Mas como estes diálogos truncados demonstram, é bastante difícil ter uma opinião sobre algo que prefere não se definir. O que fica são fragmentos de opinião reduzidos a decoração.
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