Sempre me irritei com a relativização do mal. Aquelas pessoas que argumentam que o Estado Novo não chegava bem a ser fascista. Ou que certo massacre de milhares de pessoas não chegava bem a ser um genocídio. E nesta crise ouvem-se absurdos semelhantes diariamente.
Ouvi outro dia alguém a defender que não, que a crise não era assim tão má porque não havia gente a morrer à fome. Não me contive e respondi que havia muita gente a viver à fome. O limiar da fome é como o limiar da pobreza. Uma zona dolorosa porque se tem vergonha de não viver melhor, claro, mas ainda tem que se gramar com bocas a envergonharem-nos por não vivermos suficiente mal.
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