Por experiência, sei que as grandes rupturas só muito raramente são rápidas. A fé tem a sua própria inércia. Continua a mexer-se mesmo depois da sua energia acabar. Deixamos de acreditar em alguém, numa instituição ou num país, mas leva algum tempo a haver consequências dessa descrença, até para nós, os novos infiéis. Podemos até insistir, com quem nos queira ouvir, que perdemos a fé, que já não acreditamos, mas ninguém nos leva a sério, porque continuamos a fazer as mesmas coisas, a seguir os mesmos horários, os mesmos hábitos. Até podemos dizer que já não acreditamos, mas é como uma oração em negativo, um pedido para que a nossa falta de fé se concretize. E em geral só é atendido quando já nem isso pedimos.
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