O texto de ontem teve direito a discussão no facebook. E a certa altura dizia eu que o”emprendedorismo e a inovação trouxeram ao design a era do ‘meh…’ – saímos da era do Designer como Autor para a era do designer-quando-for-grande-quero-ser-estagiário-competente.”
Vale a pena desenvolver mais esta ideia e, mais concretamente, lembrar que o Designer como Autor, numa das suas muitas versões, a proposta por Steven Heller, equivalia muito explicitamente à ideia do Designer como Empreendedor – ou “Authorpreneur”. O que Heller propunha (e que concretizou no seu Mestrado na School of Visual Arts, intitulado The Designer as Author) era uma nova metodologia para o designer onde este não ficava à espera de propostas vindas dos seus clientes mas criava os seus próprios negócios.
Em retrospectiva, percebe-se que este movimento em direcção ao empreendedorismo não se limitou ao design. A identidade de cada trabalhador e até de cada cidadão estava a ser reconstruída em moldes de torná-lo num empreendedor, no fim de contas em alguém mais virtuoso na exacta medida em que se conseguia comportar como se fosse uma empresa de uma pessoa. A identidade empresarial (ou corporativa) funde-se com a identidade pessoal: o logo, símbolo da primeira torna-se também num sinal da segunda – Naomi Klein tinha observado e criticado esta este processo subtil de substituir privacidade por privatização em No Logo. A identidade pessoal, pública ou privada de cada um, torna-se numa mercadoria, num asset.
Nesta altura, já se tornou cansativo apontar como o empreendedorismo se resume a um conjunto de tiques, um calão, uma manual de etiqueta. Basta ir a qualquer Pecha Kucha ou TEDx para ver três ou quatro firmas a venderem produtos idênticos com as mesmas palavras, os mesmos maneirismos, as mesmas piadas para perceber que a inovação consiste apenas em mudar o sentido da palavra inovação para descrever estas tradições.
O designer-quando-for-grande-quero-ser-estagiário é outro nome para o designer-como-empreendedor, ou talvez uma etapa no desenvolvimento desta patética criatura, como a lagarta está para a traça. Se o designer-estagiário for suficientemente talentoso desabrochará num vistoso designer-empreendedor, para o qual jovens designers-estagiários terão o privilégio de arriscar o seu trabalho sem receber um tostão, aprendendo com isso que não se vai a lado nenhum sem riscos.
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