Se quiserem ler as duas páginas acima, cliquem sobre a imagem. Para quem não tenha paciência, a história é simples: Mickey volta a sua casa que Minnie decidiu renovar, comprando mobília com design mais moderno e ambíguo do que os gostos tradicionalistas do ratinho conseguem suportar: confunde o chapéu da namorada com um abar-jour; senta-se num aparelho de televisão; decide finalmente trocar as novidade por móveis velhos, mais familiares.
Nesta outra página, Spirou tenta desligar um rádio cuja música o está a incomodar mas não o encontra no meio de electrodomésticos com design ambíguo: tenta desligar um termo-ventilador, uma torradeira e tira finalmente um retrato com uma máquina fotográfica.
A história do Mickey é de 1954, a do Spirou é de 1961. Em cada uma, a ambiguidade do design moderno é usado como pretexto para rir, antecipando nisso Playtime (1967) ou Trafic (1971) de Jacques Tati. Antecipa também O Sistema dos Objectos de Baudrillard onde essa perplexidade com estes novos objectos é tratada de modo mais sistemático.
Tratava-se de uma época onde a forma se dissociava da função, onde não era possível perceber de todo o que um objecto fazia até interagir com ele, muitas vezes com resultados cómicos. A miniaturização garantia até que um objecto podia ser virtualmente invisível e ainda assim funcionar perfeitamente – na história do Spirou, a aventura começa quando um pequeno rádio se aloja por acidente dentro do nariz de um dos personagens.
Se cada uma destes heróis explora a tecnologia, a moral da história é quase sempre o regresso ao objecto tradicional, aos velhos hábitos. No entanto, nesta altura já os designers percebiam bem a capacidade subversiva de objectos que viravam do avesso os costumes. (Em 1944, Munari procurava em vão uma posição onde sentar-se numa cadeira desconfortável.)
Para os designers, o desconforto perante estes novos objectos era o desconforto de perder um mau hábito, trocando-o por uma vida melhor.
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