Em relação ao texto anterior sobre trabalhar de graça, um esclarecimento: o que me arrelia é assumir-se que, precisamente por não haver dinheiro para a cultura, se pode promovê-la através de um dilúvio de eventos que devem a sua abundância a muito pouca gente que neles participa ser paga. Não se está a resistir. Não se está a assegurar alternativas. Apenas a garantir entretenimento gratuito. Haver dinheiro para assegurar um evento e para pagar a todos os envolvidos devia ser a mesma coisa, mas neste momento paga-se a quem gere e assegura-se a logística. Tudo o resto assume-se que trabalhará de graça. Não percebo como a malta das artes não vê aqui a mesma desigualdade que é tão criticada quando se trata de banqueiros e oligarcas. Cultura que é feita assim, só será política no sentido de monumentalizar a desigualdade nos seus próprios processos criativos, que não deixarão de se reflectir nas próprias obras.
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