Só o digo porque, a propósito do pavilhão-jornal que representa Portugal na bienal de arquitectura de Veneza, se tem começado por discutir o formato, mas não o suficiente. Parece estranho fazer um jornal em vez de uma exposição mas para quem passou os últimos anos em debates sobre a relação entre edição e curadoria não constitui novidade nenhuma, apenas uma manifestação dentro da esfera disciplinar da arquitectura de um movimento mais amplo – e nem sequer a primeira. Durante a última Trienal de Arquitectura de Lisboa, houve alguma polémica quando se percebeu que ia ser mais sobre estratégias de curadoria do que sobre maquetas (a estratégia de curadoria por defeito dentro da arquitectura). Assim, ensaiaram-se jantares, espaços de convívio, de workshop e um sem número de publicações, uma máquina de fazer fanzines. Não surpreende quem venha das artes ou do design onde a tendência tem sido bastante mais visível: uma viragem para a curadoria acompanhada por uma viragem editorial. Curiosamente há quem veja a próxima trienal como uma correcção mas só confirma a tendência: convidaram-se arquitectos/editores para curadores. Talvez uma das razões para esta viragem seja realmente a falta de dinheiro para projectos de arquitectura, mas não me parece verosímil quando esta tendência já era visível em outras áreas antes até da crise. Nas artes e no design é possível datar um possível começo nos últimos anos do século passado, quando ainda não haviam problemas de dinheiro. Parece-me que a razão principal (há sempre mais do que uma, quando se fala de uma moda) é uma hegemonia da gestão enquanto estética que se manifesta na sua vertente mais comum como empreendedorismo e que nas artes se traduz enquanto curadoria e/ou edição.
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