Segundo o Diário de Notícias, um cartoon de André Carrilho tem sido alvo da indignação da comunidade israelita. Mostra a progressão de uma vítima dos campos de concentração, debaixo da bota de um nazi, até ser ela própria um soldado israelita com um palestiniano debaixo da bota.
Este género de comparação é comum e a resposta comum é acusar quem a faz de trivialização do holocausto. Neste caso, porém, tem havido uma diferença importante. Para José Carp, presidente da Comunidade Israelita de Lisboa, o cartoon “troça das almas e da memória dos seis milhões de judeus executados nos campos de concentração da Alemanha”. Ora não faz nada disso. Não há nada de cómico ou trocista no desenho. Faz a comparação entre uma atrocidade e o que acha ser outra atrocidade. Não nega ou trivializa qualquer uma delas.
Pelo contrário, defender, como Carp, que “há mesmo coisas em que não se tocam, e uma delas é o Holocausto” tem os seus riscos. A ideia de uma atrocidade inefável, comparada com a qual todas as outras atrocidades se tornam banais, racionalizáveis, é ofensiva para todas as vítimas desses massacres menores, desses massacres mais incompetentes ou mais suaves mas que matam na mesma.
Muitas dessas vítimas, que continuam a ser perseguidas, a sofrer e a morrer, sem que se diga o quer que seja sobre elas nos media, estranhariam a própria ideia de honrar um massacre deixando de o nomear.
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Parece que esse cartoon é já de 2010, mas ganhou atualidade. Está na moda ser intransigente com os cartunistas e rirmo-nos dos políticos.