Quando há quinze anos me mudei para uma transversal pacata da Costa Cabral pensei que estava no fim do mundo. Na altura, mal tinha começado a ter empregos que me pagassem a renda ou mais exactamente a prestação. Estava a sair de quase uma década de estágios pouco ou nada remunerados, de trabalhos que gostava mas que azedaram por não andarem perto sequer de dar dinheiro para o esforço que exigiam – a banda desenhada ou a ilustração começaram a ficar pelo caminho nesta altura. Assim, tenso e descrente, viver no fim do mundo não parecia uma má ideia.
Agora, até aqui já vejo turistas, poucos. Outro dia, um carro cheio de espanhóis pediu-me para apontar onde ficava certa “Quinta” de turismo de habitação num print tirado de um site de reservas. Não lhes soube dizer o caminho exacto mas reconheci a fachada do edifício, que já tinha visto entalado entre a Faculdade de Engenharia, a incubadora de empresas da Feup e um parque de estacionamento lotado. Bucólico.
Na Ribeira é pior, como é evidente. A Rua das Flores, onde morava antes de me mudar para aqui, faz o Chiado ao meio dia parecer deserto. Entrei esta semana pela primeira vez no polémico e renovado quarteirão das Cardosas. Casas modernas mascaradas com as texturas e os tiques da zona. À distância ainda enganam mas ao perto sentem-se os mesmos arrepios que afligiam o Danny Glover durante o Predator 2, as janelas como os padrões de olhos de uma aranha, a seguirem os arrastos infravermelhos deixados pelos turistas.
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