Ando a gostar muito do livro “Condor” do fotógrafo João Pina, excepto por um pormenor – que até é elogiado por António Rodrigues na sua recensão do Ípsilon:
“A opção de remeter as legendas para um catálogo colocado numa bolsa no final é das mais acertadas, permitindo que o livro seja antes uma testemunha visual e emocional desse momento abjecto em que vários Estados secretamente resolveram exterminar com requintes de atroz barbarismo parte da sua população.”
Esta separação de imagem e texto em publicações separadas é um tique – irritante – do photobook ou até da publicação de arte contemporânea.Walter Benjamin dizia que a única maneira de impedir que a fotografia se tornasse em mera moda, por mais políticos que fossem os seus temas seria exigir:
“ao fotógrafo a habilidade para escrever uma legenda sob a sua imagem que a resgate da moda e lhe confira um valor de uso revolucionário.”
O problema é o de impedir que a imagem seja desviada, relativizada, mas também de acesso e economia, de dar ao público de uma só vez todas as ferramentas que lhe permita fazer sentido da imagem.¹
Agora, é comum perder-se por descuido o booklet com todas as palavras de um photobook.
1. Outro dia, caí na esparrela de comprar um catálogo de uma exposição, pensando que tinha os textos de acompanhamento quando era apenas o volume que tinha as imagens dos trabalhos expostos. A capa era quase igual.
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