É sempre a mesma história. A melhor maneira de verificar como o “rigor” neoliberal é uma treta é a sua aplicação ao ensino onde a sua estupidez moralista está a vista de todos. A passividade de quem a aceita acriticamente idem.
Por exemplo, os prazos. Qualquer aluno de mestrado ou doutoramento tem agora que passar por meia dúzia de avaliações intercalares enquanto redige a tese. Ajuda a clarificar as ideias, dá para adiantar trabalho, diz-se. Só raramente é verdade. Na prática, interrompe-se o trabalho para participar em sessões de avaliação tipo aviário. Para o orientador, estas avaliações intermédias significam que é muito provável que todos os seus orientandos o contactem desesperadamente na mesma semana e no mesmo dia para ler uns tantos milhares de palavras escritos à pressa. Nos velhos tempos, quando não haviam estas avaliações, ninguém entregava na mesma altura. O atendimento era personalizado e dava tudo muito menos trabalho com muito menos stress. Agora, há muito mais “rigor” mas é só mesmo isso – no fundo uma culpabilização quase católica, de pôr os mandriões a rezarem tercinhos; é para terem as mãozitas ocupadas, não vão andar para aí a fazer poucas vergonhas.
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