A primeira vez que me ocorreu a possibilidade de existirem universos paralelos ocorreu através do design automóvel. Eu era ainda muito novito, ainda nem tinha cinco anos. Nessa altura, o meu pai ainda guiava o nosso primeiro carro de família, um Renault 5 branco. Para mim, era o carro por defeito. Na altura, era um veículo pouco habitual. Na altura, ainda se viam muitos carros com o ar metálico, curvilíneo e cromado, dos anos 1950 e 1960. Por comparação, o Renault 5 parecia minimalista. Embora não fosse tão pequeno como um mini, parecia mais compacto, como se tivesse sido modelado numa só peça, talvez por causa da sua traseira “cortada” ou porque as suas arestas arredondadas davam mais a ideia de plástico do que de metal. Eu, naturalmente, não tinha como articular tudo isto; só o sentia por comparação com os outros carros que ia vendo.
Um dia, vi passar um Renault 5, exactamente igual, com a diferença que tinha uma mala saída. Pareceu-me um cruzamento entre o do meu pai e um carro “sério”, como os outros. Nunca mais vi nenhum igual. Foi como se tivesse assistido a uma incursão de um universo paralelo. Na verdade, era só um Renault 7 fabricado em Espanha. Pela televisão, eu sabia que nos Estados Unidos havia automóveis radicalmente diferentes, maiores e mais compridos. Mas a ideia de que em Espanha, aqui mesmo havia carros apenas um pouco diferentes dos nossos, era uma coisa nova. Da mesma maneira, que as línguas variavam, que o castelhano parecia quase português, o design também mudava subtilmente de país para país.
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