Já por várias vezes falei com gente que diz que sim, que é preciso fazer qualquer coisa (política, revolucionária, etc.), que têm ideias (cartazes, intervenções, cenas), que só estão à espera (de mais gente, da ocasião certa, e por aí adiante). Depois digo-lhes: isso já está a ser feito ou já foi feito, conforme o caso. Acrescento que não há problema nenhum. Nestas coisas de intervenção pública não devia haver direitos de autor, apenas estratégias a usar na ocasião certa. Isto de ser obrigado a ser original só torna ainda mais difícil sair do sofá.
Em outras ocasiões, quando falo de exemplos históricos e actuais de intervenção mais criativa (a Oficina Arara, a Escola da Fontinha ou os Black Mask, entre outros) dizem-me que isso não teve consequências, ou que é só arte. Aí, começo a perder a paciência, porque percebo que não vale a pena discutir. Entramos no território em que tirando um dos membros desses colectivos aparecer do nada, à la Marshall Macluhan no Annie Hall, e colar um cartaz na testa da pessoa com cola de farinha, alisando-o com uma vassoura das antigas, não estou a ver como se poderá convencer a dita pessoa, que evidentemente confunde o seu próprio desconhecimento com a falta de consequências. A inconsequência é toda sua.
Eu não acredito na luta armada, nem na violência. Por temperamento e porque sei que o Governo será sempre melhor a fazê-la do que funcionários públicos, reformados e jovens precários (entre outras categorias possíveis). Porém também sei que tudo o que esteja abaixo da tal violência e da tal luta armada (e por vezes acima) será considerado como diletantismo, arte, e inconsequência. O que só sublinha para mim a sua relativa inutilidade.
Acredito mais nas coisas simples em que pouca gente acredita e que são uma seca interminável (é verdade): ir a reuniões, discutir, votar, debater, tentar arranjar algum compromisso com as decisões mesmo que não sejam na sua maioria as minhas. Não aprecio a intervenção política pela estética (para isso mais valia ser formalista e não gostar de arte política) nem pelo exercício físico (para isso já nado ou corro e se gostasse de andar à porrada metia-me no boxe ou no krav maga). Aprecio a intervenção política pelos resultados, que podem ser mínimos, e pelo incómodo que provocam, que também pode ser mínimo. Os exemplos que dei no meu segundo parágrafo são os meus favoritos.
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