Uma coisa (entre muitas) que gostei na intervenção de Martha Rosler ontem na Fbaup: a ideia de reutilizar as estratégias antigas mas sempre com atenção ao contexto onde são reencenadas. Talvez seja essa a dimensão de que falta sempre falar a propósito do site specific; também deve ser time specific. As coisas mudam e portanto repetir um objecto ou uma estratégia é sempre distinto e exige sempre um pensamento. Por oposição, ela falava de Ed Ruscha ou Lawrence Weiner que tinham uma espécie de máquina de produzir arte, mais atenta ao seu próprio processo que ao contexto em que é encenado.
Os exemplos que deu foram as suas Garage Sales, gigantescas vendas de objectos em segunda mão organizadas em instituições de arte ao longo de décadas e ilustrando por isso mesmo as mudanças da arte enquanto instituição, de uma cena alternativa, marginal, a um negócio cosmopolita. Falava também das colagens que fez sobre a guerra, em primeiro lugar do Vietnam, agora sobre o Iraque, que ilustravam como o contexto não tinha mudado assim tanto, tirando a própria maneira como as imagens da guerra tinham começado a circular.
Tenho sempre uma admiração por estratégias que põem em curto-circuito a originalidade, a ideia que a qualidade de certas coisas, objectos e estratégias, reside em serem irrepetíveis. Para mim isso só as torna inúteis. Não me interessa a experiência estética como liturgia nostálgica, que no fundo reduz a crítica a sentenciar o modo “correcto” de referenciar.
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