A BBC elegeu esta semana Ricardo Salgado como o pior CEO do ano. Já toda a gente parece concordar que foi um mau banqueiro. Talvez se retirem conclusões disso no plano económico e político. Quase de certeza não se vão retirar conclusões nenhumas no plano cultural.
Falo, por exemplo, dos prémios Bes, que foram eventos determinantes na arte contemporânea portuguesa nos últimos anos. Quando o banco desabou, ainda se foi perguntando o que seria deles. Iam ficar no Novo Banco? No Mau? O Bes Revelação deste ano foi para o Ricardo Salgado?
Mas a pergunta mais séria deveria ser outra. Tivemos uma boa parte da nossa cultura determinada por gestores magnamente incompetentes. E embora se tente compartimentar a coisa, dizendo que as decisões não foram tomadas por Salgado mas por gente idónea, que é possível falar de cultura boa do banco mau, na verdade estamos a falar de arte de regime.
Se ainda se levantam problemas de arte feita directamente para um dado regime político, mesmo que se medeie a relação através de comissários, etc., não se vê tantos ou mesmo nenhuns problemas quando se fala de bancos, fundos de investimento ou empresas ex-públicas privatizadas.
Mas é de uma cultura de regime que se fala e não tenho dúvida nenhuma que o carácter resignado, decorativo, inerte e autoreferencial da arte de topo em Portugal se deve também a isto. Por mais polissémico e aberto que seja o objecto não é possível produzir objectos que simultaneamente contestem esta ordem e ao mesmo tempo nela circulem.
Argumentar-se-á que a função da arte não é essa, etc. Mas é uma questão de critério e de definição. Historicamente, já se reclamaram e conseguiram outros papéis para a arte. É possível e vai-se fazendo.
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