Tenho pensado bastante sobre entusiasmo. Já não me lembro da última vez que vi um design que me deixasse a cambalear por dentro como se tivesse levado um estalo. O mais habitual é ficar a coçar a barba durante um segundo com os olhos semicerrados enquanto penso “Se calhar até é interessante” – no dia seguinte, o mais provável é ter-me esquecido.
Trabalho “interessante”, há-o aos pontapés. Murros no estômago são mais raros. Lembro-me das tonturas que tinha nos anos noventa quando via uma Ray Gun ou um disco da 4AD. Lembro-me de ler a revista Kapa. Lembro-me de ficar embasbacado com a banda desenhada The Killing Joke, de Alan Moore e Brian Bolland. Das aplicaçõezinhas de John Maeda no final da década de noventa. Do primeiro iMac. Ou da desconfiança visceral que tive das primeiras Dot Dot Dots. Da capa da primeira Nada.
É daquelas coisas que é difícil registar na história. Boa parte das histórias do design são demasiado sérias ou comprometidas. Picam o ponto e tentam não chatear os vivos. Ai, uma história do design mais parecida com certas histórias da música: England’s Dreaming, de Jon Savage, por exemplo, que transmite o entusiasmo e a animosidade à volta do nascimento do Punk. Tragam-me coisas para amar e o odiar. Para o resto, mais vale estarem quietos.
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