Já houve tempos em que me enervava com quem achava que a história do design era essencial porque vinha dar outra legitimidade à área, porque é importante os novos praticantes saberem quem era este ou aquele fulano, este ou aquele artefacto. Agora, só me apetecia ter uma máquina do tempo e chumbar esta gente antes de começar a debitar asneiras.
Não me interessa minimamente a história como pedigree ou como palmadinha nas costas. Aliás, como fonte de legitimidade é embaraçosa e não me espanta que acabem por ser os próprios designers a produzi-la: nenhum historiador digno desse nome faria história sob essas premissas. Contar anedotas fixes sobre nós mesmos e o que fazemos só se justifica em certas festas depois da sexta cerveja ou das quatro da manhã.
Felizmente, há exemplos de outro género de história: ando finalmente a ler o Theory and Design in the First Machine Age, de Reyner Banham, um clássico, uma história do modernismo. Não se limita a passar em revista os “génios” mas explica o processo como se tornaram conhecidos, como certas obras se propagam enquanto outras caem no esquecimento. Coisas pragmáticas: o comprimento e a eloquência concisa dos parágrafos em certo tratado de arquitectura garantia a sua citabilidade e portanto a sua circulação; certa obra de arquitectura foi considerada a primeira casa moderna em grande medida pelo modo como foi fotografada – de um ângulo apenas parecia radicalmente nova para a época. Não há aqui singularidade ou génios incontestáveis, que denotam apenas a preguiça do crítico ou do historiador, mas uma atenção constante ao pormenor, ao contexto.
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