Usar o peso e o movimento do adversário contra ele. Sun Tzu garantia na sua Arte da Guerra que nunca se deve interferir com um adversário que se autodestrói. Segundo consta, é o princípio das melhores artes marciais. Com a crise fui aprendendo que também é o princípio usado pelos mais eficazes e mortiferos dos idiotas – João Miguel Tavares fá-lo, Pedro Passos Coelho fá-lo, os mais grunhos de entre os designers fazem-no, os meus piores alunos também.
Somos treinados para assumir que há outro lado, outro ponto de vista na discussão. Para o interiorizar no nosso próprio argumento. A ideia é demonstrar que percebemos o ponto de vista da pessoa com quem estamos a discutir, tornando a nossa posição mais informada, mais complexa, etc.
O problema é quando se discute com anti-intelectuais. Aí, na grande maioria dos casos acabamos por ficar a fazer o trabalho deles para além do nosso. Percebemos ao fim de algum tempo que estamos a discutir com a nossa ideia do ponto de vista deles, com as coisas que projectamos neles. Se num momento de lucidez fazemos as contas, concluímos que o João Miguel Tavares não tem um argumento que se aproveite e só estamos a responder ao que pensamos que ele disse.
Acontece porque assumimos abertura de espírito e inteligência dos nossos interlocutores. Simplesmente ouvem-nos, acham piada, e continuam a fazer e a dzer o mesmo – é a austeridade, os estágios curriculares, a Ordem dos Designers, “os novos designers nem sabem quem é o Sebastião Rodrigues”, etc.
O meu voto para os próximos anos é deixar de fazer o trabalho por eles. Estou farto de tentar ser o Padre Américo.
Filed under: Crítica
Anti-intelectual, particularmente o tipo de anti-intelectual que escreve nos jornais, comenta na TV ou que pelo menos tem uma opinião sobre tudo, é um eufemismo para estúpido, idiota, cretino, imbecil, monte de merda, filho-da-ganda-puta, entre outros termos. Com gente desta não se discute, luta-se. Um bocadinho de Marx, via Zizek, poupava algum tempo.