É mesmo fantástico que a direita do Observador se chateie com o Mamadou Ba por ter dito «bosta de bófia». Dizem que foi incendiário e ofensivo. Tem piada, porque deve ser humor. O mesmo Observador que se está sempre a queixar de que já não se pode dizer nada, que é a ditadura do politicamente correcto. Se for um comediante a fazer piadas de pretos, fixe. Se for um jornalista a dizer que não há problema nenhum em chamar cigano a um ladrão, porreiro. Se for um historiador a garantir que a culpa da escravatura é dos africanos, óptimo. É o direito de ofender, é a liberdade de expressão. Tudo isto e muito mais nunca chega a ser racismo para os Observadores. Racismo é ter a lata de soltar um «bosta de bófia» depois de uma vida toda a aguentar tratamento abusivo por parte da polícia – amplamente documentado. Adoraria ver idiotas como José Manuel Fernandes, que estão sempre a ver gulags e Estalines quando se lhes aponta qualquer coisinha, a viver nas mesmas condições que os habitantes do Bairro da Jamaica, que estão condenados a ser presos, interrogados, interpelados na rua, simplesmente pela cor da pele e pelo sítio onde vivem. A vida deles não é um hipotético 1984 que há-de chegar se alguém criticar uma piada sobre gajas, é um 1984 já aqui, agora mesmo. E sim, é racista apontar o dedo a um afrodescendente quando desabafava um «bosta de bófia» em relação a isto tudo, enquanto se acha uma vitória da liberdade de expressão continuar a dizer «piadas de pretos.»
(Republico do meu facebook)
Filed under: Crítica
Comentários Recentes