A indignação obscurece um facto: a posição da esquerda tankie tipo PCP não é irracional, nem no sentido tático imediato, nem acima de tudo nos seus princípios.
Não é uma aberração, uma alucinação ou uma maluqueira – é errada, a nível ético, tático, político, etc. Mas é racional.
Para o perceber é preciso regressar a Adorno ou a Benjamin: cada documento da civilização ou do progresso é, também ele, um documento de barbárie.
Georges Didi-Huberman resume bem: «quanto mais os vossos contemporâneos reclamarem para si, unilateralmente, o progresso, a razão, a “tecnologia”, maior será o poder social da desrazão, do pensamento mágico, senão mesmo da barbárie.»
O pensamento mágico não são só as teorias de conspiração mas a crença de que a esquerda estava isenta. Podia-se «safar», reclamando apenas para si o progresso, a razão, a «tecnologia».
A Ucrânia fez desabar tudo isso. Nessa esquerda só sobraram os que, por mecanismos muito racionais e complicados, recusam ver algumas valas comuns.
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