Há uma inocência necessária, essencial, no modo como os designers – mas também outros artistas – seguem uma moda. Apresentam um trabalho que segue uma tendência formal evidente (uma certa fonte, uma certa combinação de cores, um certo padrão, etc.) mas acrescentam que faz todo o sentido, a fonte adequa-se ao tema, as cores à história do cliente, o padrão assemelha-se a azulejos ou a um tapete tradicional, etc. Contudo, tudo se assemelha a outros trabalhos produzidos nesse mesmo momento. Faz parte da capacidade do designer fazer parte de uma moda, de um movimento, como se fosse algo essencial, inescapável. E como tal esquecer que antes desse movimento houve outros e haverá mais a seguir. É uma espécie de amnésia criativa.
Quando se fala de valores universais há um mal entendido comum. Acredita-se que o designer deverá trabalhar para que toda a gente entenda o seu trabalho. A amnésia do designer ilustra outro tipo de universalidade mais comum mas, pela sua própria natureza, mais discreta. A capacidade de embarcar numa moda transitória como se fosse eterna, como se fosse a solução para tudo, empresta a essa moda um desejo de universalidade. É o que (por incrível que pareça) Kant descreve na sua ética e na sua estética: só se deve fazer ou gostar de qualquer coisa se conseguirmos desejar que, nas mesmas circunstâncias, qualquer outra pessoa fizesse ou gostasse do mesmo modo. Não é uma garantia que qualquer outra pessoa realmente o fizesse mas é uma garantia da nossa boa fé. Que estamos a fazer ou a gostar da melhor maneira que nos é possível. Esquecendo o carácter transitório da moda, o melhor designer aspira a cada momento à universalidade.
Filed under: Crítica
Comentários Recentes