The Ressabiator

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Se não podes pô-los a pensar uma vez, podes pô-los a pensar duas vezes

“Fui neles formado, é a partir deles que ensino e continuarei a ensinar.”

No Público Ípsilon de hoje, lá para o fim, um artigo de opinião do historiador Diogo Ramada Curto sobre os problemas e as distorções que a moda do paper académico em inglês levanta. Chama-se “O Livro: Contra a Corrente?” e vale a pena ser lido (não sei se o link é só para assinantes). Já me queixei por aqui das mesmas coisas, usando outros argumentos.

Ramada Curto refere (e prefere) a centralidade do livro, da sua escrita e da sua leitura, à fragmentação do paper e da busca numa base de dados. Eu acrescentaria que para dar uma cadeira, especialmente mas não apenas se for teórica, não basta somar aulas, sobretudo se forem dadas por convidados, cortando e colando conteúdos sem lhes dar um tratamento de fundo. A cada cadeira deveria corresponder de facto um livro ou (pelo menos, pelo menos) a investigação que a ele leva. Neste momento, pela multiplicação das cadeiras e dos alunos, esse rigor torna-se praticamente impossível.

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A Geração Desenrasca

Sem grandes surpresas, fica-se a saber que mais um ministro obteve a sua licenciatura na idade madura, já bem depois dos quarenta, concluindo um curso com 36 cadeiras em apenas um ano, por lhe terem sido concedidas equivalências que convertem a sua experiência profissional em créditos.

Ou seja, obteve numa universidade um certificado que garante não valer a pena frequentar sequer uma universidade, excepto para obter um certificado. É a demonstração perfeita que neste momento o ensino superior já quase só cumpre funções de legitimação.

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Occupy Tempos Livres

Nestas férias aproveitei para pôr desde já em prática a minha primeira resolução de ano novo: ter realmente férias. Não respondi a mails, não adiantei trabalho, não fui a reuniões, não marquei reuniões. Li o que me interessava sem outro objectivo que não os meus próprios caprichos. Tentei assegurar a mesma coisa aos meus alunos, não lhes marcando trabalhos imediatamente para depois das férias, o que os obrigaria a sentirem-se culpados durante todo o Natal, uma coisa talvez católica mas sobretudo injusta. Com o governo a cortar oficialmente feriados e a aumentar os horários laborais, parece-me que se deve dar o maior valor possível às férias, aos períodos de descanso e aos tempos livres.
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A ética democrática em Thoreau

De acordo com a data e o preço em escudos nos bilhetes de autocarro guardados lá dentro já não lia o Civil Disobedience de Henry David Thoreau pelo menos desde 1998. Confesso que quando o recomecei a ler, as primeiras frases me desiludiram, ao argumentarem que o melhor Governo é aquele que não governa de todo.

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Lembrando os pioneiros

Ando a reler o Pioneers of Modern Typography, pela primeira vez na sua belíssima primeira edição de 1969. Na imagem é possível apreciar o contraste vibrante entre as cores primárias da sobrecapa, do tecido amarelo da encadernação e do papel vermelho das guardas.

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Paper Tigers

Actualmente, no mundo académico das artes e do design há uma febre do paper, cuja origem é a obrigação de publicar uns tantos deles por ano para trepar na carreirita. A coisa funciona tão bem que neste momento a quantidade de doutores em design já é um argumento para demonstrar por si só a excelência actual da área. Mas, para além do efeito estatístico, qual é a influência disto tudo na sociedade?

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Tardia Pachecofília

Confesso que até há muito pouco tempo o culto à figura de Luiz Pacheco me deixava perplexo. Havia quem lhe chamasse libertino, mas ele pouco mais fazia nesse campo do que emprenhar empregadas domésticas e escrever sobre o assunto.

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Erudição Implacável

“Testemunhar uma situação lamentável quando não se está no poder não é, de modo algum, uma actividade monótona e monocromática. Envolve o que Foucault chamou, em tempos, de ‘erudição implacável’, esquadrinhando fontes alternativas, exumando documentos enterrados, revivendo histórias esquecidas (ou abandonadas). Envolve um sentido do dramático e do insurgente, aproveitando ao máximo as raras oportunidades que se tem para falar, cativando a atenção da audiência, sendo-se melhor no humor e no debate do que os oponentes. E existe algo fundamentalmente instável nos intelectuais, os quais não têm lugares para proteger nem território para consolidar e guardar; a auto-ironia é, por isso, mais frequente que a pomposidade, a frontalidade melhor que a hesitação ou os gaguejos. Mas não há como evitar a realidade inescapável de que tais representações feitas por intelectuais não lhes vão trazer amigos em altos cargos, nem conceder honras oficiais. É uma condição solitária, sem dúvida, mas é sempre melhor do que uma tolerância gregária para com o estado das coisas.”

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Chavões

“Design & Inovação” é uma das expressões mais irritantes do vocabulário político dos últimos anos. Em geral, aparece em plena campanha eleitoral, quando um político no governo, um ministro ou secretário de estado, inaugura um complexo agro-industrial numa terra com três nomes no interior do país. Nessas ocasiões, o “Design & Inovação” costuma ser a chave para o “Progresso & Desenvolvimento”, desde que se consiga as “necessárias sinergias” com a “Ciência & Tecnologia”, e por aí adiante.

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Cultural Marginal

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No fim de Abril de 2007, num debate no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, sobre “O que significa ser artista em Portugal?”, a artista Isabel Carvalho acusou o Museu de Serralves de ignorar os artistas do Porto. À primeira vista, a acusação parecia paradoxal, talvez até injusta – afinal, era o próprio Museu que disponibilizava o espaço para aquele debate –, mas, na discussão que se seguiu (e que continuou nos blogues e, mais tarde nos jornais), tornou-se evidente que o que estava em jogo não era a falta de interesse do Museu na cena alternativa, mas o próprio papel do Museu em relação à cidade. Se Serralves não dedicava ao Porto mais do que uma atenção circunstancial, como podia esperar assumir algum protagonismo ali?

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A Linha do Bronzeado

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Desde que me lembro, nas salas de reuniões do edifício principal das Belas Artes do Porto estão pendurados os mesmos quadros, pinturas a óleo de modelos nus, tons de pele pálidos sobre fundos escuros, exercícios de aulas de figura humana de há muitas décadas atrás. Nos momentos mais difíceis das reuniões mais aborrecidas, encontrei sempre algum consolo irónico neles, em particular numa pequena pintura quase impressionista de Prometeu com o seu fígado a ser devorado por uma águia.

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O Design Público

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Quando estava a tirar o curso de design, lembro-me de ter discutido muitas vezes com os meus colegas e professores o logótipo de José de Guimarães para o Turismo de Portugal. Para nós, era uma humilhação ter sido um “pintor” e não um designer a conceber algo que, para todos os efeitos, simbolizava tanto a nossa identidade nacional como a bandeira ou o hino. De certa maneira, aquele logótipo representava o atraso e a ignorância nacionais em relação à nossa área, o design.

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Culto Cargo

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A maioria dos Cultos Cargo apareceu pouco depois da Segunda Guerra Mundial, quando a marinha americana começou a desmantelar as suas bases aeronavais no Pacífico Sul e o fluxo de mercadorias usado para manter os nativos satisfeitos foi cortado. Algumas tribos, descontentes com a gestão americana, resolveram tomar o assunto em mãos, e começaram a construir pistas de aviação em terra batida, com aviões falsos de bambu e torres de controle de madeira, onde sacerdotes, equipados com auscultadores de madeira, tentavam chamar os aviões dos deuses e a sua mercadoria sagrada.

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O “Estágio”

Já foi há uns anos que ouvi pela primeira vez alguém defender a noção de um preço mínimo por trabalho de design. O designer em questão pretendia elaborar um abaixo-assinado onde exortava os designers a cobrarem os seus trabalhos sempre acima de um determinado preço (um logótipo seria cobrado sempre acima do preço X; uma paginação acima do preço Y, igual para todos os designers portugueses). Ele argumentava que, de outra maneira, muitos clientes acabariam por preferir trabalho mais barato, mesmo que tivesse menos qualidade ou fosse realizado por designers amadores ou sem experiência, obrigando os designers profissionais a baixarem os seus preços para poderem competir. Pelo contrário, com a criação de um preço mínimo, o cliente seria “encorajado” a escolher o designer com melhor qualidade.

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O Direito à Burocracia

Recentemente, a AND e a APD entraram em guerra aberta. Tudo começou com um mail da APD contendo uma petição para apresentar à Assembleia da República. Segundo a APD, esta “petição assinala[va] uma situação anómala: uma classe profissional geradora de mais valias para a economia e cultura do país, com cerca de 10.000 licenciados, não tem um código próprio no IRS, devendo os profissionais inscrever-se como artistas indiferenciados.” Se a reivindicação fosse bem sucedida, os designers deixariam finalmente de ser obrigados a escrever “Outros Artistas Plásticos” nos seus recibos verdes, o que pode parecer insignificante a um não-designer, mas aliviaria uma das angústias existenciais do designer, que consiste em ser confundido regularmente com “artistas” e “arquitectos”.

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A Resistência à Teoria

O ponto de vista tradicional e aceite afirma que a crítica e a teoria do design gráfico se devem centrar sobre a personagem heróica do designer ou sobre a entidade colectiva do atelier. Se tomarmos estas duas figuras e as suas variações como pontos assentes, sujeitos a pequenas variações pontuais mas essencialmente estáveis, este texto podia parar aqui. No entanto, é minha convicção que estas figuras não são nem tão estáveis nem tão centrais como poderia parecer, sobretudo se levarmos em conta as ambições mais alargadas da própria disciplina.

O que se segue é uma enumeração não exaustiva de dúvidas e argumentos sobre a prática profissional do designer como origem e objecto da actividade teórica da disciplina.

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Bartleby, o Designer

Uma das primeiras vezes que tive consciência da importância da tipografia na leitura de um livro aconteceu quando li o Moby Dick do Herman Melville. Foi um processo aventuroso que levou alguns meses e três edições diferentes. A primeira foi uma Penguin Popular Classics, com capas beges, que acabei por perder numa mudança de casa. Para não perder o ritmo, substitui-a por uma edição da Wordsworth Classics que durou mais algum tempo. A história era agradável e estimulante, mas a leitura em si era cansativa. O entrelinhamento era demasiado curto, a impressão esborratada. Tudo contribuía para uma mancha de texto pouco uniforme. Raramente conseguia ler mais do que uma dúzia de páginas de cada vez. Em desespero de causa, acabei por comprar uma edição anotada da Penguin Classics, de capa preta, muito bem paginada e impressa, com boas hierarquias e boas margens, que li de um fôlego. (O próprio enredo abordava questões de design de livros. Moby Dick é um livro tão obcecado por livros como por baleias. A certa altura estas chegam a ser classificadas por ordem de tamanho como se fossem livros: havia baleias folio, octavo, duodecimo.)

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Designers, Gráficos & Gráficas

A designação “designer gráfico” incomoda certas pessoas, sobretudo quando é abreviada para “gráfico”. Por exemplo, o Departamento de Design da Fbaup é muitas vezes chamado o Departamento de Gráficas pelos serviços administrativos, provocando algum ranger de dentes por parte de alguns professores.

Se a expressão “designer gráfico” é, como tudo na vida, uma mera tradução do inglês, porque é que incomoda tanto neste caso? Talvez porque parece a descrição de um sujeito que lida com as “Gráficas”, uma coincidência estúpida que só acontece na lingua portuguesa.

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Mário Moura

Mário Moura, blogger, conferencista, crítico.

Autor do livro O Design que o Design Não Vê (Orfeu Negro, 2018). Parte dos seus textos foram recolhidos no livro Design em Tempos de Crise (Braço de Ferro, 2009). A sua tese de doutoramento trata da autoria no design.

Dá aulas na FBAUP (História e Crítica do Design Tipografia, Edição) e pertence ao Centro de Investigação i2ads.

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