The Ressabiator

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Se não podes pô-los a pensar uma vez, podes pô-los a pensar duas vezes

História Concisa e Pessoal do Estágio

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Ontem, uma amiga minha enviou-me um mail, indignada, a dizer que o workshop com o qual estava tão animada, em Inglaterra e onde participava o designer Ken Garland, era (nas palavras dela) “tipo Design Geral”. Percebi logo a referência: foi graças ao Design Geral que tomei conhecimento do Menina Design Group e das suas práticas de trabalho Neo-Victorianas. Tratava-se de um mini-estágio não-remunerado, marcado em cima de um feriado, anunciado por um cartaz a imitar o de uma greve geral recente.

E, como vim a saber pouco depois, o que se produzia naquela empresa era design de luxo, um armário imitando um cofre arrombado em ouro maciço (escala real) para vender numa feira de design para milionários (houve uma reportagem na TV); uma espécie de armário estilo Casa da Música violeta com patas douradas de leão barroco que apareceu na capa de um dos cadernos do New York Times e custa umas dezenas de milhares de euros. Leia o resto deste artigo »

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O Melhor Design do Ano

Dentro do design, não foi um ano onde consiga isolar um evento, um livro, um estilo ou uma exposição. Houve muita coisa e muita coisa boa mas no conjunto soube-me a pouco. Foi um ano que me pareceu vazio. Intermédio. Os estilos da última década, cansados: o chamado estilo holandês ou werkplaats no design gráfico (impressão em RISO, lombada cosida à vista, etc.); tudo o que seja hipster ou aquela coisa quase punk do pós-hipster (do sapatinho oxford até à Doc Martens). Não sei o que possa ser o estilo que se segue: algo mais agressivo, impaciente, espero. Leia o resto deste artigo »

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A Máquina de Fazer Crescer Relva

Já foi há uns meses, talvez mais de um ano, não tenho como saber. Acabava de entrar no Alfa Pendular em Campanhã. O comboio vinha de Braga, já com alguns poucos passageiros. Ocupei o meu lugar na carruagem 3, mesmo junto á porta do bar, de costas para a marcha. Abri o meu computador, tirei alguns livros da mochila. Uns lugares à minha frente, num daqueles grupos de assentos rodeando uma mesinha, reparei numa cara familiar, a dormir profundamente, boca escancarada e pregas de bochecha contra o vidro.

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Aprendizes de Feiticeiro

Talvez pareça irónico que, nem uma semana depois da manifestação de 15 de Setembro, o país se dedique agora em massa à Casa dos Segredos. Déficit de atenção, dirão. Falta de prioridades. Mas não há ironia nenhuma por aqui, antes pelo contrário.

Ainda me lembro dos velhos tempos, quando os concursos eram um longo percurso entre a parte onde se ganhava uma torradeira ou uma garrafa de sumol e o prémio de sonho, ao fim da noite, em geral um *magnífico* automóvel.

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O Design que Falhou

A última remodelação tornou o Público o jornal quase ideal para esta crise. Dá, diariamente, a cobertura sistemática, informada e útil, que esta actualidade política sustentada por doses industriais de treta precisa. Poderia ainda melhorar, claro. Mas não passo sem ele. Houve ocasiões no passado em que o lia com uma sensação de irritação. Agora, o momento em que a edição electrónica diária em pdf fica disponível, por volta das seis da manhã, é como a chegada do Pai Natal.

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Estágios nas Escolas

Falo de protocolos que permitem aos alunos, ainda durante o curso, estagiarem em empresas e instituições. Nunca gostei da ideia. Por um lado, permite aos alunos contactarem com a “realidade para além da escola” – escrevo isto entre aspas porque neste momento se no ensino superior português não há “realidade” que chegue, não sei onde haverá. Por outro, arrisca-se a ser apenas o primeiro de muitos estágios que, mais tarde, num currículo, se forem demasiados, acabarão por dar a ideia do aluno como inempregável. Já me aconteceu ver gente que defende o estágio na escola a dar uma má classificação a um candidato porque “só tem estágios no currículo”.

Depois, há a objecção mais óbvia, que o trabalho não-remunerado do estagiário faz concorrência ao trabalho remunerado, eliminando até postos de trabalho. O problema resolvia-se orientando os estágios para projectos que se escapem ao mercado – uma empresa poderia ter um conjunto de trabalhos pro bono aos quais seria circunscrito o trabalho estagiário e, claro está, as universidades seriam o sítio ideal para este género de iniciativas (e em alguns casos já são).

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Novecentos

Cheguei ao artigo n° 900. O ritmo do blogue tem sido mais rápido, portanto não é ocasião para grande celebração, apenas para algum exame de consciência ou ponto da situação.

Ainda há uns dias admitia em conversa com amigos que já não me apetecia tanto escrever sobre design mas, mal disse isso, reparei que este é o sexto texto seguido que dedico ao assunto. Tenho preferido a intervenção política e as artes em geral. Se calhar o regresso ao design é culpa da silly season, que tende a secar as coisas sérias, deixando apenas as trivilialidades.

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Inovação Pimba

Já o tinha dito por aqui umas tantas vezes, mas o que assusta nesta versão portuguesa da crise é o apagamento de umas tantas décadas de cultura, com gerações inteiras a voltarem ao mesmo tipo de negócios que os seus bisavôs e trisavôs: tascas, mercearias, artesanato, bibelôs, tudo adjectivado de “urbano”,  tudo com uma fina camada de design, com uma exposição de qualquer coisa pendurada a um canto, uma inauguração ou um djset de quando em quando. São o negócio e a cultura possíveis mas também uma espécie de desistência.

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Design de Luxo

A propósito das participações portuguesas na Millionaire Fair de Amesterdão, “um dos eventos mais exclusivos e dominantes do sector do luxo” e da declaração de Carlos Aguiar sobre esse assunto, gerou-se uma discussão acalorada com várias frentes, sobre, por um lado, a contradição deste design de luxo estar a ser produzido por estagiários não-remunerados, e sobre – assumindo que este design de luxo está a ser pago justamente – a própria moralidade de haver um design de luxo.

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Teoria Geral da Escravatura

Há uns tempos apanhei um texto antigo de Paul Krugman explicando de modo bastante sucinto o que levava uma sociedade a escravizar pessoas. O artigo usava como fundamento um modelo económico desenvolvido em 1970 pelo economista russo Evsey Domar, cujo exemplo base era o sistema de servidão do campesinato russo que vigorou entre meados do século XVII e meados do século XIX. Por lei, os servos não podiam abandonar as terras onde viviam, cujos donos eram grandes proprietários rurais. Se estes as vendessem, a “propriedade” dos servos passava para o novo dono.

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Maus Hábitos

Não foi o design que nos trouxe esta crise, mas será sem dúvida uma das profissões mais afectadas por ela, pelo menos em Portugal. Sempre foi uma área muito dada à precariedade, ao ponto desta estar firmemente embutida no ciclo natural de vida do designer, onde se espera que a grande maioria passe por um estágio não-remunerado entre a universidade e uma carreira a sério.

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Hã?

Uma leitora chamou-me a atenção para este anúncio que graficamente se aproveita da imagem da greve geral para promover uma “iniciativa inédita para lutar criativamente e impulsionar a economia portuguesa”, apelando a todos os designers e artistas portugueses que se juntem em oito dias de trabalho intenso “com 2 feriados incluidos”. Só a referência aos feriados já daria a entender que forma e conteúdo não encaixam aqui muito bem: um dos pontos da Greve Geral é o plano do Governo para cortar até quatro feriados sem compensação.

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Viver acima dos meios

Uma das frases feitas desta crise é que “temos vivido acima dos nossos meios”, significando que nos endividámos e que agora chegou a altura de pagar a factura. É inevitável. Para isso teremos que assumir uma austeridade digna, trabalhando mais por menos.

Mas, para muita gente, trabalhar mais por menos é o pão nosso de cada dia (ou a falta dele): estagiários a fazerem design de graça durante meses só para serem dispensados em direcção ao estágio não-remunerado seguinte.

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A Mão de Obra (Mais ou Menos Anotada)

1. Este texto não trata de design gráfico, mas de oficinas de impressão, mais conhecidas como tipografias, litografias (nome mais raro) ou simplesmente gráficas (mais comum). Na altura não havia em Portugal nada a que se pudesse chamar “design gráfico”, uma expressão sugerida em 1922 por W.A. Dwiggins e que só viria a pegar bastante tempo depois. Em Portugal, só viria a ser aceite de modo geral na transição da década de oitenta para a década de noventa – e mesmo nessa altura ainda era considerada um estrangeirismo. Na ficha técnica da revista K, por exemplo, ainda não havia um “designer”. Pode-se argumentar que José Pacheko ou Fred Kradolfer foram designers, mas estaríamos a cair num anacronismo. Esses profissionais trabalharam numa fronteira entre a edição, a direcção de arte, a publicidade e a tipografia, semelhante mas distinta da prática actual do design. Muitas das instituições que enquadram actualmente o exercício do design – escolas, bienais, legislação e tecnologia – não existiam na época.

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A Mão de Obra

Aqui fica o capítulo dedicado à mão de obra de O Problema das Artes Gráficas, de Luiz Moita, editado em 1935, do qual comprei um exemplar ainda por abrir há quase um ano. Não resisti a reproduzi-lo na integra, pela comparação que se pode fazer com o actual problema dos estágios não remunerados. Conto comentá-lo com mais vagar num futuro texto mas, para já, chamo a atenção para alguns pormenores: o processo de recruta do trabalho infantil; a crítica deste como uma forma de concorrência barata ao trabalho adulto; o ensino vocacional e profissional como novidade e enquanto solução para limitar a concorrência desleal; a ideia de salários para os alunos das escolas profissionais.

“Um dia uma Senhora das minhas relações vem ter comigo muito interessada. Empenha-se numa obra de caridade e deseja o meu auxílio. Descreve-se no ar um quadro de miséria onde há uma viúva rodeada de filhos, necessidades imediatas a socorrer. A mais velha das crianças é uma rapariga. Essa já está a servir. Depois, um rapaz de cerca de catorze anos, que há pouco fez o exame de instrução primária.

O sorriso da Senhora das minhas relações é luminoso e claro. Fixa-se exactamente no garoto de catorze anos, dando-me a entender que tenho de o empregar.

E começa o detalhe do contracto. O pequeno, a mãe do pequeno, não fazem questão de emprego, nem de ordenado. Ele não tem prática de nada, nada exige, portanto. Escritório? Oficina? ‘Qualquer coisa’ lhe serve.

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Aprovada nova legislação para os estágios extracurriculares

Que vão passar a ser pagos, no valor mínimo de 419,22 euros e ter a duração mínima de um ano. Segundo o Público, tem que haver um contrato escrito onde devem estar explícitas as funções que o estagiário vai fazer e onde. Deve haver também um orientador de estágio. Ficam de fora estágios “rápidos” de três meses que continuam a não ser pagos (e, claro, os estágios curriculares realizados ainda dentro dos cursos). Calculo que a pressão sobre as universidades vai aumentar, com as empresas a queixarem-se que os alunos não estão bem preparados, e que o pagamento é excessivo. Por outro lado, e embora não tenha dados sólidos, a maioria dos estágios extracurriculares não remunerados duravam à volta dos três meses – embora já tenha conhecido um ou outro caso que ultrapassou os dois anos. Provavelmente, a regra vai passar a ser o estágio de três meses ou – em alternativa – a passagem directa a falso recibo verde. Pela notícia, também  não percebi que tributação vai incidir ou não sobre esse valor mínimo.

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Soluções…

Tentei ver o Prós e Contras sobre a “geração sem remuneração” e fui ficando cada vez mais agoniado com a falta de preparação do programa (e da própria sociedade) para lidar seriamente com este problema. Seria difícil fazer um inventário de todos os chavões e condescendência despejados durante aquele par de horas, sem qualquer rasto de uma solução que não fosse um lugar-comum. Na melhor das hipóteses desfazia-se um lugar-comum atirando contra ele outro lugar-comum.

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Geração Espontânea

Aparentemente, o dia 23 de Janeiro arrisca-se a ficar para história como a data de nascimento da Geração Parva. Não fosse a austeridade, até se poderia  propor um novo feriado. Foi nesse dia que os Deolinda apresentaram no Coliseu do Porto a sua música “Parva que sou”, um lamento dedicado à chamada “Geração sem Remuneração”. Não vejo muita televisão, nem vou a concertos; só soube da canção através dos links que muita gente fez, associando um dos meus textos a essa música, mas tive a consciência clara que, naquele dia no Coliseu, nasceu uma  nova identidade.

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Trabalho a sério

Há assuntos aos quais preferia nunca mais regressar, mas, sendo isto um blogue – cada texto enterrando cada vez mais fundo os anteriores – torna-se necessário voltar a questões que, infelizmente, vão mantendo a sua actualidade. Esta semana, por exemplo, li um artigo no New York Times descrevendo a maneira como, numa época em que as oportunidades de emprego são cada vez mais reduzidas, o aumento dos estágios não remunerados levou a que o governo americano suspeitasse que muitos empregadores os estavam a usar como trabalho ilegal.

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Mário Moura

Mário Moura, blogger, conferencista, crítico.

Autor do livro O Design que o Design Não Vê (Orfeu Negro, 2018). Parte dos seus textos foram recolhidos no livro Design em Tempos de Crise (Braço de Ferro, 2009). A sua tese de doutoramento trata da autoria no design.

Dá aulas na FBAUP (História e Crítica do Design Tipografia, Edição) e pertence ao Centro de Investigação i2ads.

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