The Ressabiator

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Se não podes pô-los a pensar uma vez, podes pô-los a pensar duas vezes

Muito para lá do cacilheiro

Ao longo da discussão do cacilheiro, argumentou-se (Alexandre Pomar, por exemplo, mas também uma ou outra pessoa nos comentários) que nada disto era ainda crítica porque ninguém tinha visto o objecto final.

A minha definição operativa de crítica, não apenas de arte, mas literária, musical ou cultural, é que se trata de uma especialização dentro da área mais geral da opinião – que inclui os comentários sobre política, religião, futebol, etc. Leia o resto deste artigo »

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Edição, Curadoria, Intimidade e Opinião

Ontem em Guimarães, o encontro Edição e(m) Curadoria valeu a pena. Gostei mesmo muito da parte da manhã, mais teórica e crítica, com uma exposição sobre a história da edição experimental portuguesa, desde Palla e Martins até E. M. Melo e Castro, com a possibilidade de folhear alguns desses livros que circulavam pela plateia.

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Sociedade Anónima

Este é mais um texto em grande medida inútil; tal como este outro, pretende ser um pequeno ensaio argumentativo sobre discussões que não vale a pena ter. Quem o ler agora, verá nele restos da polémica entre Manuel Loff e Rui Ramos, mas escrevi-o em parte como um esboço para uma reflexão mais alargada sobre discutir na internet.

O ponto de partida são certos posts, artigos e, mais frequentemente, comentários onde um anónimo, assinando ou não com uma alcunha, se queixa que tal pessoa (perfeitamente identificada) não é ninguém: “Mas quem é ele para dizer aquilo?” – e expressões do género, onde alguém, cuja única reputação é não ter qualquer tipo de reputação (para além da pequena amostra de identidade apresentada naquela discussão) declara que a reputação de alguém não existe. Podia ser uma daquelas situações clássicas onde se tenta perceber se é possível confiar num ateniense que diz que todos, mas mesmo todos, os atenienses são mentirosos. Anónimo só confia em currículos sólidos.
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Comissariado & Crime

A ver na RTP Memória Alexandre Melo, Clara Ferreira Alves e – acho eu – Edson Athayde a falarem sobre crítica em 1997. Melo com um grande blazer enchumaçado e camisa abotoada até cima sem gravata. Tudo em tons saturados. Perguntam-lhe como se torna conhecido um artista. Fala de galeristas, de compradores, do mercado, de como o crítico nem tem assim tanta importância. Espero um pouco e nada. Voltam a falar do mercado e dos galeristas. Outra vez dos críticos. Mas nada de comissários. Não se falava disso em 97.
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Design para o umbigo e mais além

Aqui em Portugal como em outros sítios, vou lendo e ouvindo muitas queixas em relação ao chamado “design de autor”: que não é útil, que é feito para o umbigo, por iniciativa própria e não para um cliente; que se dá demasiada importância à personalidade do designer; que, pelo contrário, os designers deveriam dedicar-se a cumprir um serviço eficiente, humilde e anónimo.

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Cesuras e Censuras, Recortes e Rasuras

Há livros que nos obrigam a reavaliar tudo o que já lemos de um autor e o veredicto acaba por não ser positivo. Tree of Codes, que Jonathan Safran Foer produziu para a Visual Editions, é uma dessas obras que nos fazem, de um momento para o outro, mudar de ideias.

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A Morte (e Autópsia) do Autor

Não sei como, só apanhei esta história na semana passada, anos depois de ter começado a ler e a reler os livros de Laurence Sterne. São objectos que parecem ter sido escritos para fascinar um designer com as suas páginas negras, marmoreadas, deixadas brancas para o leitor preencher, os seus padrões de travessões e asteriscos, a numeração de página que salta porque um capítulo considerado chato foi omitido pelo autor, os gráficos e arabescos resumindo de vez em quando a narrativa complicada – toda uma panóplia de efeitos cómicos que, tendo sido usados a meio do século XVIII, ainda parecem mais frescos e milagrosos.

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Apresentação da Tese

The  Liberated Page – Herbert Spencer

De hoje a oito, quinta-feira, às 15h, nas Belas Artes do Porto, vou defender a minha tese de doutoramento sobre autoria no design gráfico e intitulada “O Big Book – Uma Arqueologia do Autor no Design Gráfico”.

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Modinhas

É costume dizer-se que o design gráfico é uma actividade interdisciplinar, mas o que quer isso dizer realmente? Que está aberto a todo o tipo de conhecimentos ou experiências? Esta não é uma resposta particularmente interessante ou esclarecedora, na medida em que dá a entender que o design aceita tudo e todos de braços abertos, enquanto, na verdade, seria talvez mais rigoroso afirmar que escolhe bem os seus aliados, pesando bem o que pode ficar a ganhar com a ligação. Algumas disciplinas são bem-vindas enquanto outras nem por isso – ninguém gosta de ouvir dizer que aquilo que faz tem pontos comuns com o secretariado, por exemplo, mas toda a gente gosta de se associar ao cinema, à fotografia ou à literatura.

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Paginar no Word (mas ao contrário)

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Uma das coisas que mais irrita o designer gráfico médio são aqueles chico-espertos que, armados de Word, Powerpoint ou pior, se dedicam a tentar paginar, fazer cartazes ou até sites. É uma irritação antiga, já muito comentada, que não vale a pena desenvolver aqui. Por mera simetria, talvez fosse mais produtivo ou interessante fazer um inquérito na Faculdade de Letras, a ver se por lá acham piada àqueles designers que escrevem um livro inteiro no Quark. 

Tenho a sensação que não diriam muita coisa, em parte porque poucos terão ouvido falar do programa – pensarão talvez que é um novo processador de texto. Mas, apesar da aparente improbabilidade, há pelo menos dois designers que, usando o Quark, já escreveram um livro com mais de duzentas páginas, de ficção, com personagens e enredo, daqueles que as pessoas normais até lêem e gostam, daqueles que aparecem nas listas dos melhores livros do ano. 

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Dexter Sinister

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“Eu costumava dizer [que era] ‘tipógrafo’, no tempo em que a profissão tinha de aparecer no passaporte. Era uma forma de comprometimento um tanto ou quanto romântica, porque nunca pratiquei isso da mesma maneira que muitas pessoas o fizeram. Também escrevia muito, e agora faço muita edição – o que significa ler o que outras pessoas escrevem, lidar com textos e trabalhar com outros designers. Assim, acho que agora sou um editor, no sentido continental e francês de ‘editeur’, que também significa alguém que publica. Sinto-me bem com essa ideia; tem algumas das boas qualidades associadas a ‘tipógrafo’. Não é tanto produção visual quanto verbal. É isso que eu faço.”[1] Foi assim que o designer Robin Kinross respondeu quando, numa entrevista, lhe perguntaram qual era a sua profissão, e foi citando-o que Stuart Bailey se apresentou a si mesmo numa conferência em 2006[2]. Era uma maneira elegante de resumir o seu próprio percurso, que em muitos pontos se aproximava ao de Kinross: Bailey também era um designer gráfico de formação que, sem abandonar de todo a sua área, a considerava, de alguma forma, limitada demais.

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Design Ficcional

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Há alguns anos, enquanto via um filme de acção, o segundo da série Blade, em que Wesley Snipes aniquila com espalhafato uma quantidade absurda de vampiros, apercebi-me de uma coisa curiosa. Os interfaces gráficos dos computadores que os vampiros usavam eram uma mistura estranha de gótico e de hi-tech, com formas que evocavam caninos e sangue a escorrer, embora em tons de amarelo (tanto quanto me lembro), o que me pôs a pensar se, dentro da história, teriam sido feitos por designers humanos ou por designers vampiros.

Como seria trabalhar para um cliente assim? Imaginei um designer humano a tentar convencer os seus clientes vampiros que seria mais interessante usarem uma estética kawaii, tipo Hello Kitty; imaginei um vampiro designer fazendo uma directa ao computador pelo dia dentro, num atelier todo calafetado contra a luz do sol.

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Arte de autor?

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Há um ano, por esta altura, era de bom tom lastimar-se os grandes logótipos bancários que cobriam a cidade toda. Na Casa da Música ou em Serralves, cada cartaz tinha, bem visível, o logo de um banco; cada praça do Porto tinha a sua cúpula em plástico transparente abrigando carrosséis e ringues de patinagem, tudo sob a protecção de um banco. Com os bancos em crise, o que lamentará agora o mundo da arte?
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Cadernos

Não se trata dos cadernos genéricos que se pode comprar em qualquer papelaria, mas dos cadernos que um designer faz para oferecer aos seus amigos ou clientes, por auto-promoção ou por gosto. Às vezes, são coisas simples, só a capa, o formato ou a cor do papel são “design”, outras vezes, são mais preenchidos, com temas e jogos como um almanaque, datas e utilidades como uma agenda. Alguns chegam a ser experimentais, quase livros de artista, como um caderno pautado com as linhas deformadas vectorialmente que vi na secção de livros experimentais de Fully Booked.

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“Arte ou Design? Ou.”

Estavam exactamente noventa e seis pessoas na conferência de Daniel Eatock na Esad de Matosinhos. Este não é um número atirado ao acaso, nem o fiquei a saber por ter contado pela minha própria iniciativa os presentes. Sei-o porque Eatock, no começo da conferência, pôs a plateia a participar num trabalho chamado “cada número dito pelo mesmo número de pessoas que esse número representa” – a primeira pessoa, o próprio Daniel, dizia “um”; Daniel e a segunda pessoa diziam “dois”; e por aí adiante, até às noventa e seis pessoas presentes, em conjunto, dizerem “noventa e seis”. Provavelmente, a ideia foi pôr a plateia à vontade, “incluindo-a” no evento, mas, pessoalmente, a estratégia não me descontraiu – no fim de contas, não havia ali nenhuma escolha: recusar seria uma pirraça embaraçosa; aceitar, foi mero comodismo. No final, toda a descontracção que senti foi por aquilo ter acabado rapidamente.

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Stuart Bailey: Reutilização e Autoria

Era um dia de chuva leve, e não estava muita gente à espera que as portas abrissem; mesmo assim, o pequeno auditório da Esad de Matosinhos foi-se enchendo para a primeira conferência do quinto e último ciclo das Personal Views. No palco, o convidado, Stuart Bailey, esperava pacientemente que a sala sossegasse, enquanto o seu currículo era projectado em loop no ecrã atrás dele: co-editor da revista Dot Dot Dot, fundador da editora e “livraria ocasional” Dexter Sinister, designer de revistas, autor de artigos, artista, etc.

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História (Muito Abreviada) do Design

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Poder-se-ia traçar uma história do design gráfico português como uma lenta disputa territorial entre formas e conteúdos, entre design e linguagem.

Nos posters de Francisco Providência, ou nos de João Machado, por exemplo, há uma separação clara entre texto e imagem, entre título e ilustração, com raras e tímidas interacções. Cada elemento ocupa o seu lugar numa hierarquia gráfica bem definida, que corresponde também a uma separação técnica de responsabilidades, típica da era pré-computador.

Nessa altura, a ilustração era feita por um ilustrador, a fotografia por um fotógrafo, o design e a tipografia maquetizados por um designer, que supervisionava também a concretização final do processo na gráfica, onde a tipografia era composta, as gralhas revistas, as ilustrações e fotografias reproduzidas, e o objecto final impresso.

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Autoria, Roubo, Apropriação & Consumo

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Há uns tempos, ao passar por uma sala de aula do primeiro ano de design, ouvi uma rapariga sussurrar a outra qualquer coisa do género: “Não acredito! Aquela vaca também usou um quadrado!” A acusação era sentida e ilustrava bem as estranhas expectativas que muitos designers têm em relação à originalidade. Geralmente, os mesmos que negam o “designer como autor”, que acham que ser chamado “artista” é o pior dos insultos, também acreditam – sem muita coerência – que a falta de originalidade é um problema.

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Incidentes de Fronteira

1.Conflito e Identidade

Design desires to be art and not-art simultaneously — and fears it’s nothing.

Kenneth Fitzgerald, Émigré #48

Existe um tema que divide regularmente os designers: alguns defendem que o design é arte, outros afirmam que, pelo contrário, não é. Nenhuma conclusão duradoura é alcançada e pouco depois a discussão recomeça, com outro autor, outro público e, por vezes, outros argumentos. Por vezes, declara-se sem muita convicção que o conflito acabou, foi resolvido, não tem interesse.

A coisa começa durante os tempos de escola e continua na vida profissional, tornando-se menos paciente, mais subterrânea, reaparecendo subtilmente nas discussões com os clientes, na forma como se elogia ou se menospreza o trabalho de colegas.

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Mário Moura

Mário Moura, blogger, conferencista, crítico.

Autor do livro O Design que o Design Não Vê (Orfeu Negro, 2018). Parte dos seus textos foram recolhidos no livro Design em Tempos de Crise (Braço de Ferro, 2009). A sua tese de doutoramento trata da autoria no design.

Dá aulas na FBAUP (História e Crítica do Design Tipografia, Edição) e pertence ao Centro de Investigação i2ads.

História Universal do: Estágio

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Zombies Capitalistas do Espaço Sideral
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