The Ressabiator

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Se não podes pô-los a pensar uma vez, podes pô-los a pensar duas vezes

Casa de Ferreiro

Na era pós-Bolonha, fala-se muito do design como área científica e o que significa realmente isso? Na prática significa que a administração de uma instituição dedicada ao ensino de design (artes) se torna igual à das ciências exactas. A ciência é aqui um sinónimo de avaliação de desempenho, de progressão de carreira, papers, etc. Resumindo numa palavra: burocracia.

Se não, vejamos. Leia o resto deste artigo »

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Será que é possível reindustrializar o design gráfico?

Há muitos, muitos anos, praticamente desde que a disciplina se institucionalizou em Portugal, um dos maiores e mais consensuais objectivos do design gráfico tem sido estabelecer uma ligação com a indústria. Esse era um dos propósitos do falecido CPD. E já perdi a conta a todas as ocasiões oficiais em que ouvi a ideia ser solenemente repetida, todos os papers, artigos e teses onde a li. A aproximação do design à indústria lembra o que se diz de todos os filmes do 007 desde, pelo menos,1983:[1] que nunca se tinha apresentado um Bond tão frágil e humano. Três décadas depois, o agente secreto já tinha obrigação de ser mais humano que a maioria das pessoas. Quatro décadas depois, o design gráfico português já tinha obrigação de ter a sua ligação à indústria. Leia o resto deste artigo »

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A Máquina de Fazer Crescer Relva

Já foi há uns meses, talvez mais de um ano, não tenho como saber. Acabava de entrar no Alfa Pendular em Campanhã. O comboio vinha de Braga, já com alguns poucos passageiros. Ocupei o meu lugar na carruagem 3, mesmo junto á porta do bar, de costas para a marcha. Abri o meu computador, tirei alguns livros da mochila. Uns lugares à minha frente, num daqueles grupos de assentos rodeando uma mesinha, reparei numa cara familiar, a dormir profundamente, boca escancarada e pregas de bochecha contra o vidro.

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Corrupções

Há duas definições possíveis de corrupção, uma legal e outra ética. No primeiro caso, o mais simples, alguém paga (em favores ou dinheiro) a alguém para ser favorecido, em geral lesando outras pessoas. Os exemplos são muitos: desde o político que faz uma lei que prejudica toda a gente menos um “amigo”, até ao instrutor de condução que “agiliza” a carta em troca de uma “atençãozinha”. Chama-se a isto tudo corrupção porque adultera um processo desviando-o do seu propósito original, deformando ou destruindo os seus princípios em nome de outros, em tudo menos na aparência – por exemplo, um concurso público feito já com um vencedor em vista dá uma legitimidade meritocrática a um processo que não o é de todo. Leia o resto deste artigo »

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Lata

Talvez nunca tenha havido uma Idade de Ouro ou uma Idade de Prata, mas esta é sem dúvida nenhuma a Idade da Lata. Quase nem é preciso comentário: dinheiros públicos a pagarem escolas privadas onde professores são regularmente coagidos a darem mais aulas e com turmas maiores que o definido por lei; onde os professores de educação física pintam a escola e fazem manutenção como quem pinta a sua própria casa “por gosto”, os de matemática ajudam na contabilidade; onde não há dinheiro para nada excepto para a colecção de carros dos donos (Rolls Royce, Porsche, Ferrari). E o desplante com que se justifica isto como se fosse a coisa mais natural do mundo devia ser embalsamado e exposto pela Europa fora, porque nunca houve um exemplar mais robusto do que este. E, para quem diz que o Ensino Privado não é só isto, só tenho a dizer que não há dia em que o Público não seja destruído via legislação, ou difamado via notícias.

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A Gentinha

É habitual argumentar-se que a privatização de serviços públicos garante a liberdade do utilizador porque pode escolher o serviço que mais lhe convém, sem o Estado a ditar-lhe qual o ensino ou a saúde que deve ter.

Mas, para muitos liberais, essa liberdade resume-se a, muito disfarçadamente, não ter que lidar com “a gentinha”, tanto no sentido de não ser obrigado a pagar-lhes a escola e o centro de saúde através de impostos, como no de simplesmente não ser obrigado a estar fisicamente com eles numa situação de igual para igual, em que dinheiro, estatuto ou família não fazem diferença. Leia o resto deste artigo »

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Declínio e Queda do “Designer Como Deve Ser”

Muito do que seria considerado design noutros tempos automatizou-se, concentrou-se nos Macs, iPads e iPods. Muito do conhecimento e das ferramentas necessárias para o fazer está embutido nos programas e, se houver alguma dúvida, pode-se sempre fazer uma busca no Google. Pelo preço de um computador e de uma ligação à net, exerce-se o design de uma maneira que os velhos praticantes só sonhariam se consumissem, numa base diária, doses industriais de ficção científica – e (talvez) substâncias psicotrópicas. Ainda é preciso algum talento para navegar nesta abundância de recursos, claro, ou pelo menos um ouvido para o que está ou não na moda, mas, para isso, uns anos de escola dão o empurrão inicial, e um ambiente de trabalho estimulante e exigente fazem o resto. Leia o resto deste artigo »

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Anibáis Racionais

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Esta senhora diz que o Cavaco dela fala.

Só vejo televisão muito de vez em quando, em geral no ginásio, enquanto corro. Hoje a Sic Notícias fez algum estardalhaço à espera que Cavaco quebrasse o seu silêncio. Não sei se o chegou a fazer. Só vi um directo do presidente a inaugurar um hotel de luxo do Grupo Pestana no Parque das Nações. Sublinhou que a solução para Portugal seria investir no turismo, presumo que de luxo. Aí terminou a minha corrida. Se calhar disse qualquer coisa aos jornalistas à saída. Não faço ideia. Para mim, um Presidente a inaugurar um Hotel de Luxo, privado como é evidente, parece-me uma excelente mensagem sobre a crise e o modo como se está a resolvê-la: uma cultura que celebra o luxo mantida com o trabalho de gente que se espera pague para trabalhar – desde senhoras da limpeza a designers. Leia o resto deste artigo »

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Concertação, ética e civismo

A discussão mais séria e central sobre a crise portuguesa e as suas consequências não é entre quem se ilude achando que não vamos empobrecer (a caricatura que se vai fazendo da esquerda) e quem se ilude dizendo que merecemos empobrecer (a caricatura que se vai fazendo da direita). Desde há muito tempo que é claro que vamos empobrecer, seja qual for a saída que se escolha. A discussão é qual o caminho a seguir e quais as suas consequências.

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A Bolsa é a Vida

Fiz parte do meu doutoramento com uma bolsa parcial do FCT, que me deu durante algum tempo 250 euros mensais para além do meu salário, me pagou as propinas e me deu finalmente um subsídio generoso para a impressão da tese de 750 euros (que por burocracias várias, não relacionadas apenas com o FCT só me chegou um ano e meio depois de a ter impresso). Enquanto recebi a mensalidade, ela foi um alívio financeiro considerável. Leia o resto deste artigo »

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O Design que Falhou

A última remodelação tornou o Público o jornal quase ideal para esta crise. Dá, diariamente, a cobertura sistemática, informada e útil, que esta actualidade política sustentada por doses industriais de treta precisa. Poderia ainda melhorar, claro. Mas não passo sem ele. Houve ocasiões no passado em que o lia com uma sensação de irritação. Agora, o momento em que a edição electrónica diária em pdf fica disponível, por volta das seis da manhã, é como a chegada do Pai Natal.

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Estágios nas Escolas

Falo de protocolos que permitem aos alunos, ainda durante o curso, estagiarem em empresas e instituições. Nunca gostei da ideia. Por um lado, permite aos alunos contactarem com a “realidade para além da escola” – escrevo isto entre aspas porque neste momento se no ensino superior português não há “realidade” que chegue, não sei onde haverá. Por outro, arrisca-se a ser apenas o primeiro de muitos estágios que, mais tarde, num currículo, se forem demasiados, acabarão por dar a ideia do aluno como inempregável. Já me aconteceu ver gente que defende o estágio na escola a dar uma má classificação a um candidato porque “só tem estágios no currículo”.

Depois, há a objecção mais óbvia, que o trabalho não-remunerado do estagiário faz concorrência ao trabalho remunerado, eliminando até postos de trabalho. O problema resolvia-se orientando os estágios para projectos que se escapem ao mercado – uma empresa poderia ter um conjunto de trabalhos pro bono aos quais seria circunscrito o trabalho estagiário e, claro está, as universidades seriam o sítio ideal para este género de iniciativas (e em alguns casos já são).

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Abundância em Tempo de Crise

Ainda não estou de férias. As aulas terminaram e as avaliações também. Faltam ainda relatórios, mas já é possível dedicar mais atenção a outras coisas.

Neste momento, termino alguns projectos de longo curso, dos quais ainda não posso falar, o que significa passar boa parte do dia a escrever, aproveitando o balanço que sobra para actualizar o blog.

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“Fui neles formado, é a partir deles que ensino e continuarei a ensinar.”

No Público Ípsilon de hoje, lá para o fim, um artigo de opinião do historiador Diogo Ramada Curto sobre os problemas e as distorções que a moda do paper académico em inglês levanta. Chama-se “O Livro: Contra a Corrente?” e vale a pena ser lido (não sei se o link é só para assinantes). Já me queixei por aqui das mesmas coisas, usando outros argumentos.

Ramada Curto refere (e prefere) a centralidade do livro, da sua escrita e da sua leitura, à fragmentação do paper e da busca numa base de dados. Eu acrescentaria que para dar uma cadeira, especialmente mas não apenas se for teórica, não basta somar aulas, sobretudo se forem dadas por convidados, cortando e colando conteúdos sem lhes dar um tratamento de fundo. A cada cadeira deveria corresponder de facto um livro ou (pelo menos, pelo menos) a investigação que a ele leva. Neste momento, pela multiplicação das cadeiras e dos alunos, esse rigor torna-se praticamente impossível.

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E entretanto na 5ª Dimensão

O último caso Relvas tem servido de pretexto para se criticar o ensino superior privado português, que depois da Moderna, da Independente e agora da Lusófona, não anda propriamente com excesso de credibilidade.

Há até quem use estes maus exemplos todos para duvidar da validade de uma das crenças centrais do neoliberalismo: que um serviço privado, sujeito apenas às leis do mercado e com o mínimo de intervenção estatal, é sempre mais eficiente que um serviço público.

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Cenas da Vida Privada

Haver gente que ainda consegue defender Miguel Relvas não é muito surpreendente; afinal, antes disto tudo, já havia gente a defender José Sócrates, em circunstâncias parecidas. O que surpreende são os argumentos usados.

Tem-se usado, por exemplo, o argumento que não se deve julgar uma pessoa pelo seu grau académico –  um péssimo hábito, reconheço, sobretudo no país dos Doutores e Engenheiros. Porém, no caso de Relvas não se trata de discriminar o Ministro por ter ou não o curso, mas por declarar no seu currículo um curso feito em circunstâncias muito pouco claras. À primeira vista, fica a dúvida se Relvas infringiu a lei ou mentiu. Mas, mesmo que não tenha chegado a nenhuma destas situações, o que fez já é grave o suficiente, como demonstraremos a seguir.

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Percursos Académicos e Outras Coisas do Género

E é claro que Passos veio em defesa de Relvas, dizendo mais uma vez que não ocorreu nada de ilícito.

Já nem me vou dar ao trabalho de lembrar qual é a diferença entre lei e ética, propondo apenas um método expedito de identificar um chico-esperto português: está sempre a dizer “É legal” (no caso do chico-esperto brasileiro o processo levanta alguns problemas evidentes).

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A Geração Desenrasca

Sem grandes surpresas, fica-se a saber que mais um ministro obteve a sua licenciatura na idade madura, já bem depois dos quarenta, concluindo um curso com 36 cadeiras em apenas um ano, por lhe terem sido concedidas equivalências que convertem a sua experiência profissional em créditos.

Ou seja, obteve numa universidade um certificado que garante não valer a pena frequentar sequer uma universidade, excepto para obter um certificado. É a demonstração perfeita que neste momento o ensino superior já quase só cumpre funções de legitimação.

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Desironizar

Nos últimos dias, foi ocupada uma pequena biblioteca pública abandonada no jardim do Marquês no Porto. Tanto quanto se pode perceber, o processo é o mesmo usado na Escola da Fontinha: um edifício público devoluto é ocupado pacificamente, não apenas por pessoas mas por actividades próximas às  projectadas originalmente para aquele local. Aulas, actividades recreativas, espaços de leitura, tudo pontuado por assembleias populares.

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Primeiros, Segundos e Terceiros Ciclos Viciosos

Pela décima milionésima vez, ouvi mais alguém sentenciar que o problema do nosso ensino superior é o excesso de cursos, com excesso de alunos, condenados assim ao desemprego, e que, portanto, se deveria cortar os fundos às universidades, para elas encontrarem o seu próprio financiamento, mesmo sendo públicas. Mas como vão elas assegurar o seu próprio financiamento?

Em primeiro lugar, e em desespero de causa, arranjando mais alunos, através de turmas maiores e, se possível, mais cursos, mestrados, doutoramentos. Tudo isto sem contratarem mais gente e portanto sobrecarregando ainda mais o corpo docente, etc.

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Mário Moura

Mário Moura, blogger, conferencista, crítico.

Autor do livro O Design que o Design Não Vê (Orfeu Negro, 2018). Parte dos seus textos foram recolhidos no livro Design em Tempos de Crise (Braço de Ferro, 2009). A sua tese de doutoramento trata da autoria no design.

Dá aulas na FBAUP (História e Crítica do Design Tipografia, Edição) e pertence ao Centro de Investigação i2ads.

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