The Ressabiator

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Se não podes pô-los a pensar uma vez, podes pô-los a pensar duas vezes

Vais daqui, vais de carrinho

Ainda sou do tempo em que “ir ao Passos” significava sair à noite no Porto, ir beber um copo ao Passos Manuel, antigo cinema reconvertido em bar/cinema/sala de concertos/etc., aninhado numa das dobras modernistas do Coliseu do Porto. Abria às dez, mas só se sabia se aquilo ia animar entre a uma e a uma e meia. Se animava, durava até às quatro; nos dias especiais até às seis. A seguir ainda se podia tentar um dos sítios mais tardios, que só fechavam quando a manhã seguinte já ia a meio. Não era um horário invulgar. Já era assim quando, antes do Passos, havia o Aniki e o Meia Cave, antes da noite do Porto se deslocar da Ribeira para o eixo Poveiros-Aliados-Rua de Ceuta-e-suas-perpendiculares. Leia o resto deste artigo »

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Eu sou uma bola de berlim (update)

E é este o filme do Marcelo. Acho que as “autoridades alemãs” até lhe fizeram um favor. A coisa faz o Duarte & Cia. parecer um filme do Tarkovsky. É claro que deve ser difícil fazer um filme publicitario sem dar a sensação que se gastou um tostão. E agora já sabemos como seria um filme do Ed Wood se ele gostasse mais do Wes Anderson que do Orson Wells. Leia o resto deste artigo »

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Quem pode, pode

Ao que parece, o Professor Marcelo resolveu fazer um vídeo a explicar a situação portuguesa – os sacrifícios, que trabalhamos mais horas, pagamos mais impostos – junto dos Alemães, que têm “uma ideia péssima dos portugueses.” Era suposto passar na praça Sony em Berlim mas as autoridades locais não deixam.  Leia o resto deste artigo »

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Mercado de Valores (ou estátuas a vender automóveis)

Quando ouvi Passos a citar uma parte substancial de Os Lusíadas, pensei: lá está ele, aconselhadinho pelo marketeiros de serviço, a apelar aos sentimentos nacionais, ao heroísmo tradicional dos portugueses, tradicionalmente pontuado de medo e reticências (mas tudo se resolve no fim).

Depois pensei que o mais provável é já ninguém confiar numa única palavra que pareça ter saído do cérebro do Primeiro Ministro, seus colegas ou assessores, portanto mais vale pô-lo a dizer o que outra pessoa já disse. Uma citação clara. Leia o resto deste artigo »

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Genética e Tipografia

Hoje dediquei-me a ler um tratado Vitoriano sobre legibilidade tipográfica com quase 130 anos. Frágil e encadernado a pergaminho, já falava sobre Daltonismo, das suas consequências na segurança ferroviária e como atenuá-las. De como se poderia melhorar a leitura através do tom do papel, da largura da coluna, da forma das letras e da distância entre linhas. Das experiências que Charles Babbage realizou para averiguar quais os algarismos mais legíveis para usar na impressora do seu computador mecânico. De como se acreditava na altura que havia diferenças genéticas entre analfabetos e as classes educadas que afectavam a robustez da sua visão:

“The descendant of many generations of manual labourers is called upon, by the system of education at present nearly universal, for a comparatively far more violent and sustained visual effort than the child of what may be called the literary class, upon whose capacity the standard of attainments is regulated.”

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A Garrafa de Pedra

(foto: Susana Gaudêncio)

Reparei na garrafa de pedra há quase vinte anos, quando o meu primeiro emprego – ou mais exactamente “estágio” – me obrigava a atravessar todos os dias a ponte D.Luís numa daquelas carreiras privadas mal-cheirosas que faziam os autocarros dos STCP da época parecerem vaivéns espaciais. Do lado de Gaia, quase invisível a meio da ladeira do lado esquerdo da ponte, um pouco abaixo do tabuleiro superior, via-se a custo da janela da carreira um edifício em ruínas coroado por uma garrafa de vinho do Porto, provavelmente moldada em cimento.

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Pequenas e boas

Não tem data, mas é do tempo em que consumir sardinha em lata era apoiar a indústria nacional e gerava emprego, um belo panfleto cheio de ideias para as cozinhar – grelhadas, em crepes, com presunto, sanduíches – e ainda secções dedicadas ao atum e às anchovas. Tudo muito sério, interpelando directamente a dona de casa: “V. Ex. que tão bem sabe o que representa em trabalho, imaginação e… dinheiro, a apresentação diária, às horas das refeições, de pratos originais e atraentes, não deixará decerto de nos ficar reconhecida e quando, esta tarde, o seu marido voltar das suas ocupações, ficará encantada por lhe ser servida uma iguaria tão diferente da vulgaridade”. Uma lindíssima capa mostrando um padrão quase abstracto de sardinhas, sobre um fundo patriótico e ilustrações a duas cores a meio caminho entre o cubo-futurismo e a caligrafia decorativa.

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As coisas não mudam

Uma boa reflexão sobre pedagogia e democracia apanhada no fabuloso Vision in Motion, de Moholy-Nagy, um dos meus livros de design favoritos, editado em 1947, pouco depois da sua morte. Fica aqui um bocadinho, só para aguçar o apetite:

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O Portugal dos Pequenitos do Sr. Passos

Quando vi a notícia, quase escondida no canto de baixo do Público nem queria acreditar, pensei que era dia das mentiras ou até um daqueles anúncios bem disfarçados de notícias que às vezes aparecem nas primeiras páginas dos jornais e só se identificam como publicidade por uma legenda discreta imposta pela lei.  Neste caso, não havia legenda nenhuma, era mesmo a realidade que estava a ser patrocinada e não o seu relato: iam mudar o nome da estação Baixa-Chiado para PT Bluestation.

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Uma revista

Durante as últimas semanas, tenho perguntado às pessoas se conhecem a revista DirectArts. Perguntei a designers, alunos e professores no Porto e em Lisboa, gente interessada em revistas, exposições e escrita sobre design, cerca de quinze pessoas em ocasiões distintas. Ninguém a conhecia.

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Pentagram Marks

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Habituei-me a só escrever sobre livros que pude consultar com vagar – meus, porque os comprei, porque me foram oferecidos; ou emprestados, por amigos ou por bibliotecas. De algum modo, sinto que só posso avaliá-los se tiver passado por esse ritual de posse, mesmo que temporário. Apercebo-me que a minha crítica acaba por funcionar como uma critica de consumo – como um direito básico de reclamar objectos mal feitos ou de elogiar (gabando-me um bocadinho) os bons negócios que fiz.

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Cabeças Flutuantes e Quadros Vivos

Já há algum tempo que os meus hábitos de espectador mudaram. Tenho prestado mais atenção às séries de televisão que aos filmes que, neste momento, me parecem um formato demasiado breve. Deixei praticamente de ir ao cinema; faço-o mais pela ocasião social do que pelo filme em si, e calculo que a maioria das pessoas vai pelas mesmas razões, porque se tornou comum ouvir gente a falar ou até a atender o telemóvel durante a projecção.

Tendo em conta que o cinema se reduziu para mim a um bom pretexto para falar sobre civismo, acabo por preferir esperar que o filme saia em dvd ou passe na televisão. Posso assim vê-lo no silêncio da minha casa e, se o estiver a ver no computador, posso até “marcá-lo” como a um livro, retomando a “leitura” dias, semanas ou meses depois. Em quase todos os aspectos, ver um filme tem sido, para mim, uma experiência muito próxima à de ler um livro.

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Queda Livre

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No vocabulário do design português, não há uma tradução exacta para “pitch”, o que não é grave, apenas irónico, tendo em conta que também não há uma tradução exacta para a palavra “design”.

O “pitch” é aquele momento em que o designer apresenta a sua proposta ao cliente. Pode querer dizer “apresentação” ou “proposta”, mas também conota “lance” ou “jogada”; uma tradução – mais honesta do que aproximada – poderia ser “atirar o barro à parede”.

É um dos momentos mais ritualizados e mitificados na vida de um designer; é o momento do tudo ou nada – a negociação dramática onde se concentram todas as capacidades de argumentar um projecto, uma solução. Se a vida dos designers fosse uma série de advogados, o “pitch” seriam as alegações finais; se fosse uma série policial, seria aquele momento em que o detective consegue finalmente resolver o caso; se fosse um Western, seria um duelo ao meio-dia.

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Concentração

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A minha primeira experiência com a crítica foi através da revista de banda desenhada Tintin, que publicava histórias em continuação, duas a quatro páginas por semana. Uma bd de quarenta e oito páginas prolongava-se por vinte e quatro semanas, o equivalente a uma temporada televisiva actual.

É claro que, de semana para semana, o suspense era muito. Os autores adaptavam as suas histórias ao formato e cada página terminava sempre com um tiro, um grito, uma explosão, uma surpresa, que na maior parte dos casos era apenas um falso alarme. Lembro-me de ler compulsivamente, durante dias, a mesma página à procura de pistas que pudessem dar a entender o que podia suceder na semana seguinte.

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O Mapa enquanto Logo

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Da propaganda associada à Exposição Colonial de 1934, no Porto, fazia parte este mapa, organizado por Henrique Galvão, e intitulado “Portugal Não é um País Pequeno”. Seria usado durante quarenta anos pelo Estado Novo para representar, nas salas de aula e instituições do regime, as pretensões imperiais portuguesas, e era efectivamente um logótipo para Portugal como suposta grande potência europeia.

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Já reparou que ninguém repara no design português?

O anúncio ocupa uma página inteira. É a fotografia de uma sala pouco mobilada, de variação tonal reduzida – bege, branco e castanho – ilustrando o bom gosto espartano mas genérico que se pode comprar na Ikea ou na Habitat. Integrada na imagem, aparece a pergunta: “Qual destas peças conquistou mais prémios de design?” Calcula-se que uma pessoa normal diga que foi o candeeiro, o sofá ou a pintura. A resposta do anúncio – “Curiosamente, foi o jornal” – codifica um sentimento de inferioridade em relação ao design de equipamento, de moda ou de interiores, bem entranhado no design gráfico português (já referido noutro texto deste blog).

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Julgando pelas Aparências

Esta campanha política que nos é infligida diariamente é o pior que podia ter acontecido ao design gráfico português. Graças a ela, a acusação mais humilhante que se pode fazer a um bom cidadão é que se preocupa demais com a imagem em vez dos chamados assuntos de fundo.

Este discurso assenta numa ambiguidade propositada entre comunicação e publicidade: acusa-se o adversário de ‘vender o peixe’ em vez de falar ‘do que interessa’. É claro que a estratégia é reversível – quando se atira esta pedra ao telhado de vidro do outro, ele pode sempre reutilizá-la. A única maneira de alguém escapar é trancar-se em casa, caladinho e fora do alcance dos jornalistas, câmaras de televisão, microfones, etc – tipo Leonardo DiCaprio no The Aviator.

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Conversa de Vendedor

Há uns anos, quando houve o referendo em Timor, a opinião pública portuguesa discutiu— sem o saber e sem nunca ter usado a palavra em questão — um problema de design.

A coisa tinha a ver com os boletins de voto. Segundo parece, os timorenses tinham como hábito riscar as opções com que não concordavam, podendo votar inadvertidamente contra a autodeterminação. Não sei se esta era uma preocupação legítima ou um mero excesso de zelo democrático, mas alguns comentadores sugeriram possíveis alterações da configuração e preenchimento dos boletins de voto, a inclusão de instruções visuais, etc.

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Abril é Evolução

A supressão minimalista, quase tipográfica, de apenas uma letra vem inverter todo o sentido de um acontecimento histórico. É um trocadilho muito “design” (entenda-se “sofisticado” ou simplesmente “publicitário”). É o tipo de recontextualização que os designers e os copywriters gostam de engendrar. Neste caso, só chateia porque estamos a falar de coisas sérias ou (pelo menos) políticas.

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Mário Moura

Mário Moura, blogger, conferencista, crítico.

Autor do livro O Design que o Design Não Vê (Orfeu Negro, 2018). Parte dos seus textos foram recolhidos no livro Design em Tempos de Crise (Braço de Ferro, 2009). A sua tese de doutoramento trata da autoria no design.

Dá aulas na FBAUP (História e Crítica do Design Tipografia, Edição) e pertence ao Centro de Investigação i2ads.

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