The Ressabiator

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Se não podes pô-los a pensar uma vez, podes pô-los a pensar duas vezes

Mercado de Valores (ou estátuas a vender automóveis)

Quando ouvi Passos a citar uma parte substancial de Os Lusíadas, pensei: lá está ele, aconselhadinho pelo marketeiros de serviço, a apelar aos sentimentos nacionais, ao heroísmo tradicional dos portugueses, tradicionalmente pontuado de medo e reticências (mas tudo se resolve no fim).

Depois pensei que o mais provável é já ninguém confiar numa única palavra que pareça ter saído do cérebro do Primeiro Ministro, seus colegas ou assessores, portanto mais vale pô-lo a dizer o que outra pessoa já disse. Uma citação clara. Leia o resto deste artigo »

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Gosto pois

 

Do João Alves Marrucho. Gostei de o ver na rua, impresso e colado. Contrasta bem com as cores estridentes, fotográficas e letras arredondadas dos outros posters, mas ao mesmo tempo também se desfaz na parede. À distância, parece quase um papel rasgado. Mantém um toque modernista nas letras, mas o contraste esborratado lembra alguns dos habitantes da Emigre (Keedy, etc.). Quando já só faltava aplicar o estilo holandês aos folhetos do continente, é bom ver outras coisas, igualmente depuradas, mas mais estranhas.

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Pelas Paredes

Ainda é possível encontrar estes cartazes espalhados pela baixa do Porto. Colados na parede, impressos em papel grosseiro, acastanhado, parecem fazer parte do granito, a textura dos desenhos e cor do papel aproximando-se à da rocha, o que só torna mais forte o seu impacto. A imagem é ambígua e – talvez por isso – mais forte, os dedos contorcidos a parecer que tentam fazer uma figa que é também um cifrão. Poderá haver outras interpretações mas é o cartoon político perfeito, o comentário perfeito à economia retorcida da crise que encontra o seu lugar numa parede e não num jornal ou numa revista – o que não espanta, porque a ilustração tem abandonado as publicações de papel e o que vai sobrando é decorativo, não fazendo mais do que servir de contraponto ao texto.

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Quem vê caras.

Entre os cartazes de cinema deste ano parece haver uma tendência: fotografias a cores de planos muito aproximados de caras. Não são imagens intimistas. São caras de gigantes, onde cada poro é visível. Prometem-nos uma familiaridade demasiado próxima – uma distância social inaceitável e tensa.

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Le Design?

TOFFE

Depois de ler o texto French Graphic Design: A Contradiction in Terms?, de Véronique Vienne, fica-se na dúvida se a autora gosta ou não do design gráfico francês ou até se acha que este existe de todo[1]. Trata-se de uma daquelas coisas que irrita pela condescendência bem intencionada, mas que ainda assim merece a pena ser lida, quanto mais não seja porque ajuda a perceber os mecanismos actuais de legitimação internacional do design.

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Ípsilon

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Hoje, no Ípsilon aparece um artigo de José Marmeleira sobre a exposição de cartazes políticos no MUDE , para o qual fui entrevistado [Update: link corrigido].

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Design Ficcional

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Há alguns anos, enquanto via um filme de acção, o segundo da série Blade, em que Wesley Snipes aniquila com espalhafato uma quantidade absurda de vampiros, apercebi-me de uma coisa curiosa. Os interfaces gráficos dos computadores que os vampiros usavam eram uma mistura estranha de gótico e de hi-tech, com formas que evocavam caninos e sangue a escorrer, embora em tons de amarelo (tanto quanto me lembro), o que me pôs a pensar se, dentro da história, teriam sido feitos por designers humanos ou por designers vampiros.

Como seria trabalhar para um cliente assim? Imaginei um designer humano a tentar convencer os seus clientes vampiros que seria mais interessante usarem uma estética kawaii, tipo Hello Kitty; imaginei um vampiro designer fazendo uma directa ao computador pelo dia dentro, num atelier todo calafetado contra a luz do sol.

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Não posters, mas capas de filmes

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Não sei exactamente a data, mas os primeiros DVDs apareceram na Europa há cerca de dez anos, por volta de 1998. Parece que foi há mais tempo, porque, tal como sucedeu com o multibanco ou o telemóvel, os DVDs mudaram, de maneira subtil mas radical, o nosso estilo de vida. Mais do que as cassetes de vídeo, objectos bastante frágeis e maljeitosos, que só se podia ver umas quantas vezes antes de perderem a qualidade,os DVDs consolidaram a transformação de filmes e séries de televisão em objectos de consumo.
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A Morte do Poster?

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Na semana passada, enquanto ia para o Metro, um antigo aluno parou-me na rua, chamando-me a atenção para a qualidade de uma série de posters colados num tapume ali perto. Eram bastante diferentes entre si, mas via-se claramente que faziam parte de um conjunto, parecendo-se um pouco com cartazes antigos de Jazz, embora em versão vectorial. Nesse mesmo dia, à noite, dois amigos meus tinham uma opinião mais negativa: achavam o pastiche bastante forçado, abaixo do nível habitual do atelier Martino & Jaña. Perguntei-lhes onde os tinham visto, e eles descreveram o mesmo tapume – a caminho do Metro, à entrada do Campo 24 de Agosto.

Era interessante que os mesmos posters, colados no mesmo tapume, despertassem opiniões tão antagónicas, tendo em conta que, nos últimos anos, se tem declarado com bastante frequência que o poster é um formato morto.

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A Casa da Música e o seu Design

Outro dia, alguém me dizia que só se lembrava do trabalho mais pessoal de Stefan Sagmeister – uma mistura fina de raminhos, salsichas, fluidos corporais e aforismos –, mas não se recordava dos seus logótipos, papéis de cartas, relatórios de contas ou mesmo clientes. Para esse meu amigo, como para muita gente, parecia estranho que o trabalho mais conhecido de um designer internacionalmente famoso acabasse por ser auto-promocional – como podia Sagmeister ser um bom designer se o seu melhor cliente acabava por ser ele mesmo?

Chamei-lhe a atenção para a Casa da Música, um trabalho clássico de identidade gráfica, com aplicações e tudo o mais. A nível internacional já tinha sido considerado um dos exemplos do ano. “Ah! Pois…”, respondeu, “Não me tinha lembrado disso.”

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História (Muito Abreviada) do Design

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Poder-se-ia traçar uma história do design gráfico português como uma lenta disputa territorial entre formas e conteúdos, entre design e linguagem.

Nos posters de Francisco Providência, ou nos de João Machado, por exemplo, há uma separação clara entre texto e imagem, entre título e ilustração, com raras e tímidas interacções. Cada elemento ocupa o seu lugar numa hierarquia gráfica bem definida, que corresponde também a uma separação técnica de responsabilidades, típica da era pré-computador.

Nessa altura, a ilustração era feita por um ilustrador, a fotografia por um fotógrafo, o design e a tipografia maquetizados por um designer, que supervisionava também a concretização final do processo na gráfica, onde a tipografia era composta, as gralhas revistas, as ilustrações e fotografias reproduzidas, e o objecto final impresso.

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“Operações Tipográficas”

Por vezes, encontramos expressões familiares em situações inesperadas. Em Gödel Escher Bach – An Eternal Golden Braid, de Douglas Hofstadter, um livro complexo sobre – resumindo muito – matemática, lógica, ciências cognitivas, filosofia, entre outras coisas, aparece a certa altura aquilo a que o autor chama “operações tipográficas.” Não se trata porém da mesma coisa que um designer faria, mas de operações matemáticas. Quando fala de “operações tipográficas”, Hofstadter quer dizer operações em que se manipulam símbolos matemáticos sobre o papel, sem saber exactamente o que significam – ou seja, conhecendo pouco mais do que o seu aspecto e a sua posição na página.

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O Mapa enquanto Logo

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Da propaganda associada à Exposição Colonial de 1934, no Porto, fazia parte este mapa, organizado por Henrique Galvão, e intitulado “Portugal Não é um País Pequeno”. Seria usado durante quarenta anos pelo Estado Novo para representar, nas salas de aula e instituições do regime, as pretensões imperiais portuguesas, e era efectivamente um logótipo para Portugal como suposta grande potência europeia.

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Linguagem & Design

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Na edição portuguesa de The Shipping News, de E. Annie Proulx, os elementos habituais da capa de um livro – o nome e a biografia da autora, os habituais louvores e citações de imprensa, a referência à adaptação para filme, as fotografias dos seus actores, o nome da editora, etc. – aparecem sob a forma de notícias na primeira página de um jornal fictício, cujo cabeçalho é também o título do livro. Não são notícias feitas de texto simulado, mas de texto verosímil, legível, escrito de propósito para o efeito.

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Tapumes

Tenho saudades do Porto2001.

A cidade estava cheia de tapumes. Andávamos pela rua como ratos de laboratório, por túneis e valas, por corredores de arame. Cada percurso demorava o dobro do tempo e era arriscado e lamacento.

Um único consolo: em todos os tapumes havia cartazes. Foi uma curta e estimulante idade do ouro do cartaz. Os meus preferidos eram os da Drop, logo a seguir os da R2. Mas foi um património visual que se perdeu. Para mim, aqueles cartazes foram o ponto alto do Porto2001.

Depois, voltaram as soluções do costume. Os “construtores civis” do design conquistaram a cidade. As DINs e Helveticas encheram os tapumes e depois as paredes. Os cartazes recuperaram o seu texto alinhado à esquerda, quase, quase suíço, por baixo das imagens pouco inspiradas da praxe.

Nada de novo.

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Abril é Evolução

A supressão minimalista, quase tipográfica, de apenas uma letra vem inverter todo o sentido de um acontecimento histórico. É um trocadilho muito “design” (entenda-se “sofisticado” ou simplesmente “publicitário”). É o tipo de recontextualização que os designers e os copywriters gostam de engendrar. Neste caso, só chateia porque estamos a falar de coisas sérias ou (pelo menos) políticas.

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Mário Moura

Mário Moura, blogger, conferencista, crítico.

Autor do livro O Design que o Design Não Vê (Orfeu Negro, 2018). Parte dos seus textos foram recolhidos no livro Design em Tempos de Crise (Braço de Ferro, 2009). A sua tese de doutoramento trata da autoria no design.

Dá aulas na FBAUP (História e Crítica do Design Tipografia, Edição) e pertence ao Centro de Investigação i2ads.

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