The Ressabiator

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Se não podes pô-los a pensar uma vez, podes pô-los a pensar duas vezes

Richard Hollis

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A colecção de textos dispersos de Richard Hollis, About Graphic Design, tem-me sido um consolo e um prazer. São o tipo de textos que se escreve quando se escreve por encomenda sobre design, para conferências, para introduções, para revistas, para obituários. Como o próprio Hollis refere na curta introdução, cobrem assuntos que permaneceriam estrangeiros aos seus interesses não fosse o ser espicaçado pelos editores. Trata cada um desses assuntos com interesse, aquele sentido de perplexidade organizada que os melhores críticos cultivam. Diz ele, designer, que, para escrever sobre colegas, «it helps to puzzle out what is meant by “Graphic Design”.» O consolo deriva disso, desse puzzle out. Não escreve, como tantos, para apregoar o que é ou devia ser o design, e quem é ou não devia ser designer. Não trata o design como uma colecção de chavões, de certezas, mas como um problema constante.

O seu Graphic Design – A Concise History foi a primeira história do design que tive a boa sorte de comprar. Falo de sorte apenas no sentido coloquial, porque na verdade me limitei a beneficiar dos bons dons de estratego do próprio Hollis: fez uma história acessível, que se pode comprar por dez libras, pouco mais de onze euros e meio. Podem-se comprar cinco destas histórias pelo preço que custa a ainda muito usada história do design gráfico de Philip Meggs, e fica-se bem melhor servido.

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Decorativos e felizes

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O Notícias Ilustrado, suplemento semanal do Diário de Notícias, era provavelmente o periódico português de grande circulação com o grafismo mais inovador. Foi durante muito tempo o único impresso em rotogravura, uma técnica que fazia da página uma só unidade, uma só imagem, valorizando a fotografia, a colagem e a sua interacção com o texto. Leitão de Barros, hoje mais conhecido como cineasta, foi o seu director artístico. Ensaiou em Portugal técnicas de edição e composição editorial ao nível do que de melhor se praticava no mundo. Leia o resto deste artigo »

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Influências: Eros

 

Ontem falei de uma das influências da monumentânea, a TM. Hoje republico um texto antigo sobre outra, a Eros, que me deu vontade de fazer uma revista (ou coisa parecida) de capa dura, um formato mais associado a álbuns de bd e fotográficos e a livros infantis:

Só foram publicados quatro números da revista Eros, entre a Primavera e o Inverno de 1962, altura em que a revista acabou, em grande medida porque o seu editor, Ralph Ginzburg, foi processado por obscenidade e considerado culpado. Não pelo conteúdo “gráfico” da revista, que pelos padrões actuais era bastante mais casta que qualquer revista de supermercado, nem pelo facto de ter tentado enviar a revista através dos correios de terras com nomes como Blue Ball ou Intercourse, na Pennsylvana, decidindo-se finalmente por Middlesex, em New Jersey.

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Os Limites do Empreendedorismo

Lembro-me perfeitamente do Prós e Contras onde apareceu o Miguel Gonçalves. Eu falava no Skype e até virei o computador para a televisão só para a pessoa do outro lado poder ouvir também aquilo. Na altura pareceu-me apenas uma versão mais pura e ainda mais estúpida do género de discurso que costumava aparecer na segunda parte do programa, uma espécie de catarse, de transe quase religioso. A plateia a confessar os seus problemas, as suas ânsias, aos quais se ia respondendo com um reafirmar da fé nos dogmas do empreendedorismo. Tipicamente, se um desempregado se queixava, alguém lhe perguntava porque não pedia uma linha de crédito e criava o seu próprio negócio. Leia o resto deste artigo »

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Casa de Ferreiro

Na era pós-Bolonha, fala-se muito do design como área científica e o que significa realmente isso? Na prática significa que a administração de uma instituição dedicada ao ensino de design (artes) se torna igual à das ciências exactas. A ciência é aqui um sinónimo de avaliação de desempenho, de progressão de carreira, papers, etc. Resumindo numa palavra: burocracia.

Se não, vejamos. Leia o resto deste artigo »

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Os Outros 66 Cêntimos

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Os leitores mais atentos terão reparado no estranho preço que paguei pelo livro que serviu de mote ao texto de ontem: 33 cêntimos. A explicação é simples: comprei-o numa promoção de “leve 10 por 1 euro” e só trouxe 3. Os outros dois foram estes magníficos Albatross, os primeiros que apanhei ao vivo. Para quem não saiba a sua história, parecem imitações da Penguin quando na verdade é o oposto. A editora Alemã de livros de bolso de língua Inglesa (que não podiam ser vendidos dentro do Império Britânico como se avisa a capa) inventou muitas das características que seriam aproveitadas mais tarde pelos seus rivais ingleses: o formato em proporção Áurea; as capas com uma cor indicando o género; e o próprio logo do Pinguim começou por ser uma versão tosca, quase sem asas, do elegante Albatroz. O designer é Hans Mandersteig, um clássico quase esquecido. Leia o resto deste artigo »

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Publicidade não endereçada, não obrigado

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Depois do cacilheiro apareceu um Toyota da Joana Vasconcelos. Edição limitada a cinco exemplares. Preço só revelado a quem encomenda. Diz Bruno Galante, do departamento de comunicação e marketing da marca: “Estes exemplares podem vir a tornar-se nos mais valiosos que a marca produziu, pelo facto de serem obras de arte.” E qual é o problema? Leia o resto deste artigo »

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O Futuro das Artes

Há umas semanas, dizia eu que para se perceber o futuro das artes em Portugal era uma boa ideia olhar para a cena do Porto durante a última década, uma economia cultural abandonada – pelos financiamentos, pelos media, pelas grandes instituições – e que encontrou uma identidade e uma saída a produzir dentro do contexto da viagem low-cost, que lhe traz um público de turistas internacionais, mas permite também a circulação de objectos e artistas. Neste contexto, percebe-se bem como a música, a comida, a roupa e a ilustração, formatos portáteis por excelência, ganham protagonismo. O melhor exemplo será talvez o livro de ilustração: pequeno, cabe numa mochila, agrada a crianças mas também a adultos, incluindo aqueles que não falam bem a língua.

Pois bem, podemos confiar no nosso governo para f***r tudo, com particular perigo para o que esteja a funcionar bem: a venda da ANA arrisca-se a dar cabo desta cena toda muito rapidamente.

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Realidade Aumentada

Ontem terminou Fringe. A última temporada não foi excelente, mas conseguiu encerrar a história com muito mais dignidade do que Lost, por exemplo. Em homenagem, partilhei no facebook a primeira coisa que escrevi sobre a série, sobre o seu design, em particular o modo como as suas legendas pairavam como grandes objectos entre as árvores ou as casas, reflectidas nas janelas, um efeito cuja estranheza se foi dissolvendo com o tempo. Nem me lembro se o usavam nos últimos episódios. Leia o resto deste artigo »

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Será que é possível reindustrializar o design gráfico?

Há muitos, muitos anos, praticamente desde que a disciplina se institucionalizou em Portugal, um dos maiores e mais consensuais objectivos do design gráfico tem sido estabelecer uma ligação com a indústria. Esse era um dos propósitos do falecido CPD. E já perdi a conta a todas as ocasiões oficiais em que ouvi a ideia ser solenemente repetida, todos os papers, artigos e teses onde a li. A aproximação do design à indústria lembra o que se diz de todos os filmes do 007 desde, pelo menos,1983:[1] que nunca se tinha apresentado um Bond tão frágil e humano. Três décadas depois, o agente secreto já tinha obrigação de ser mais humano que a maioria das pessoas. Quatro décadas depois, o design gráfico português já tinha obrigação de ter a sua ligação à indústria. Leia o resto deste artigo »

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Listas

No guia das 100 melhores escolas de design e arquitectura da Europa da revista Domus, há quatro instituições portuguesas. A Esad das Caldas da Rainha e a Universidade de Aveiro (Design de Produto), as Belas Artes de Lisboa (Design Gráfico) e Arquitectura do Porto (Arquitectura, claro).

O meu amigo, designer e antigo editor Pedro Nora é finalista dos Design’s of the Year 2013 do Design Museum de Londres com a identidade e publicidade do Doc Lisboa de 2012.

Não duvido que muitas destas escolhas tenham o dedo do Frederico Duarte, que andaria à vontade numa lista das pessoas mais influentes do design português.

Parabéns a todos!

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Outras ruas para ocupar

Quanto ao vídeo da Samsung, o tal da blogger de moda cujo desejo para 2013 seria comprar uma mala Channel, e que tem andado a gerar um coro de assobios na internet, não vejo nada de particularmente reprovável no que a rapariga disse. Terminou o mestrado, arranjou um emprego, tem menos tempo e o desejo “consumista” dela para 2013 seria “poupar dinheiro” para comprar uma mala Chanel.

Talvez soasse melhor se dissesse que andava a angariar dinheiro para uma campanha de combate à fome. Mas se ela acrescentasse que achava mal que uma família fizesse sacrifícios (poupasse) para ir a um concerto rock (ou comprar um filme, ler um livro ou comprar uma mala), muita gente (talvez a mesma) a criticaria também. Leia o resto deste artigo »

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O Futuro das Artes Está No Porto

Querem saber como vão ser os próximos anos da cultura aqui em Portugal? Olhem para o Porto na última década. É a segunda cidade do país, empobrecida e periférica. Preterida pela televisão e pelos jornais, apontados quase sempre a Lisboa. Teve um momento de abundância com o Porto 2001, uma dinâmica sustentada por uma geração inteira de artistas plásticos locais, que se aguentaram precariamente, consolidados numa cena frágil durante mais meia dúzia de anos, depois da Capital da Cultura acabar e de Rui Rio chegar a presidente da câmara, ironizando que quando ouvia falar de cultura puxava logo do livro de cheques.

No final, esta cena incipiente não se extinguiu propriamente – dissolveu-se. Leia o resto deste artigo »

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O Melhor Design do Ano

Dentro do design, não foi um ano onde consiga isolar um evento, um livro, um estilo ou uma exposição. Houve muita coisa e muita coisa boa mas no conjunto soube-me a pouco. Foi um ano que me pareceu vazio. Intermédio. Os estilos da última década, cansados: o chamado estilo holandês ou werkplaats no design gráfico (impressão em RISO, lombada cosida à vista, etc.); tudo o que seja hipster ou aquela coisa quase punk do pós-hipster (do sapatinho oxford até à Doc Martens). Não sei o que possa ser o estilo que se segue: algo mais agressivo, impaciente, espero. Leia o resto deste artigo »

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Crise de Identidade

Resumindo o que já escrevi em outros textos: as artes, incluindo o design ou a arquitectura, não têm ferramentas para enfrentar esta crise. Porquê? Porque são, neste momento estruturas de serviços onde anomalias como a precariedade, o estágio e o resto se tornaram banais e até identitárias. Leia o resto deste artigo »

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“Ninguém Compreende o Neoliberalismo”

Às vezes, quando estou mais cansado, tento perceber as pessoas que acreditavam neste Governo e entretanto se desiludiram. Não falo dos que só queriam ver-se livres de Sócrates e votarão pela mesma razão contra Passos, mas dos que realmente acreditam numa agenda neoliberal (o que interessa é a iniciativa individual; o Estado que melhor governa é o que governa menos; que sai do caminho da iniciativa privada; o mercado, se for deixado em paz, garante a harmonia da sociedade bem melhor que o Estado; na prática, para o neoliberal o mercado acaba por ser uma ocorrência natural da democracia, embora poluída pelos interesses de políticos e medrosos que preferem a segurança imediata e egoísta à possibilidade de uma sociedade mais justa e dinâmica.)

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Caridade e Design

Houve uma altura mágica, entre 1999 e 2008, onde se falava muito de ética e política no design. Começou mais ou menos com o First Things First 2000 e terminou com a Crise. Não foi coincidência. O design ético e político só vingou enquanto havia dinheiro para investir em caridade. Para atrair donativos e mecenas, certas causas começaram a comportar-se mais como empresas com logótipos, powerpoints, inovação e empreendedorismo – daí os designers,que ajudavam as diferentes caridades a competir entre si. Leia o resto deste artigo »

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Arte e Sociedade

António Pinto Ribeiro ontem no Ípsilon dedica um artigo a dizer o óbvio: que um artista não é necessariamente contestatário ou de esquerda. Isso é só e evidentemente um preconceito: como ele próprio inventaria, há artistas de todas as sensibilidades que fazem arte de intervenção, que não a fazem mas intervêm politicamente enquanto cidadãos, que são conservadores, de direita, etc. Leia o resto deste artigo »

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Missão: Demissão!

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Já vamos nesta crise há quatro anos, mais ou menos dois desde que chegou aqui a Portugal, e foi-se tornando enjoativo ver as mesmas falácias a serem repetidas e rebatidas todos os dias. Desde o “viver acima dos meios” até “ao temos que empobrecer”, passando pelo “não há alternativas”. Nada disto é verdade; há argumentos convincentes contra tudo isto e muito mais. Torna-se cansativo escrevê-los aqui outra vez. Até se torna penoso lê-los. Não porque não sejam mais elegantes, articulados e estruturados que tudo o que este governo alguma vez tenha dito, mas porque simplesmente são ignorados por quem está no poder. É um desgaste que é também um desgaste da própria ideia da discussão racional e informada como base da democracia. Leia o resto deste artigo »

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Parábola

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A história é conhecida. Peter Saville queria usar uma reprodução de um quadro de Fantin-Latour na capa do disco, mas não se sabia bem quem detinha os direitos de autor. Pressionado por Tony Wilson, o director da National Gallery respondeu que pertenciam ao “povo inglês” ao que Wilson respondeu que o povo inglês queria mesmo usá-la na capa de um disco. Se a história tem piada, se é subversiva, é porque pouca gente se lembra de usar o que é público literalmente, como se fosse realmente nosso. Cada vez que entregamos dinheiro ao Estado em impostos ou segurança social, estamos a investi-lo, quase como se o puséssemos  num banco. Se algum dia fizermos como Wilson e formos levantar esse dinheiro, ou pelo menos usar aquilo em que ele foi gasto, será que ainda vai lá estar? O nome do disco dá talvez uma pista.

 

 

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Mário Moura

Mário Moura, blogger, conferencista, crítico.

Autor do livro O Design que o Design Não Vê (Orfeu Negro, 2018). Parte dos seus textos foram recolhidos no livro Design em Tempos de Crise (Braço de Ferro, 2009). A sua tese de doutoramento trata da autoria no design.

Dá aulas na FBAUP (História e Crítica do Design Tipografia, Edição) e pertence ao Centro de Investigação i2ads.

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