The Ressabiator

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Se não podes pô-los a pensar uma vez, podes pô-los a pensar duas vezes

Subculture, The Meaning of Style, 1979

Ando a ler cada vez mais jornais, política e economia, mas desconfio que devia ler ainda mais sobre estética, estilo e cultura. Afinal, defender a cultura argumentando que é boa para a economia é ceder a uma petição de princípio: se aceitarmos que a economia é tudo, só se pode salvar o que for bom para a economia. Mas, fazendo-o, aceitamos que a economia é tudo. E nessa altura o caldo já está entornado. Leia o resto deste artigo »

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Cesuras e Censuras, Recortes e Rasuras

Há livros que nos obrigam a reavaliar tudo o que já lemos de um autor e o veredicto acaba por não ser positivo. Tree of Codes, que Jonathan Safran Foer produziu para a Visual Editions, é uma dessas obras que nos fazem, de um momento para o outro, mudar de ideias.

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Dexter Sinister

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“Eu costumava dizer [que era] ‘tipógrafo’, no tempo em que a profissão tinha de aparecer no passaporte. Era uma forma de comprometimento um tanto ou quanto romântica, porque nunca pratiquei isso da mesma maneira que muitas pessoas o fizeram. Também escrevia muito, e agora faço muita edição – o que significa ler o que outras pessoas escrevem, lidar com textos e trabalhar com outros designers. Assim, acho que agora sou um editor, no sentido continental e francês de ‘editeur’, que também significa alguém que publica. Sinto-me bem com essa ideia; tem algumas das boas qualidades associadas a ‘tipógrafo’. Não é tanto produção visual quanto verbal. É isso que eu faço.”[1] Foi assim que o designer Robin Kinross respondeu quando, numa entrevista, lhe perguntaram qual era a sua profissão, e foi citando-o que Stuart Bailey se apresentou a si mesmo numa conferência em 2006[2]. Era uma maneira elegante de resumir o seu próprio percurso, que em muitos pontos se aproximava ao de Kinross: Bailey também era um designer gráfico de formação que, sem abandonar de todo a sua área, a considerava, de alguma forma, limitada demais.

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Barbara Says

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Na última quarta-feira de 2005, entre o Natal e o Ano Novo, fui a Lisboa para falar com o António Gomes, dos Barbara Says. Desde 1999, quando os Barbara vieram dar uma conferência nas Belas Artes do Porto, que eu já conhecia e apreciava o seu design gráfico. Na altura já tinham um estilo que, apesar de ser assumidamente digital, conseguia ser também muito táctil e físico, recorrendo a efeitos que eram ao mesmo tempo sofisticados e lo-fi. Usavam tecnologias quase obsoletas de maneira criativa e recorriam com à vontade a um imaginário urbano especificamente lisboeta. Não faziam, no entanto, uma mera apropriação – havia um genuíno respeito por aquilo que recolhiam e citavam. Desse primeiro contacto, lembro-me particularmente de uma série de flyers recortados em formas exóticas – círculos, estrelas, caixas de medicamentos – realizados com cortantes antigos recolhidos em gráficas. Era uma ideia ao mesmo tempo económica, elegante e inesperada, qualidades que estão presentes em todos os trabalhos dos Barbara. Agora, uma editora francesa, a Pyramid, estava interessada em publicar um livro recolhendo os dez anos de trabalho dos Barbara, e o António tinha-me pedido para escrever o texto de introdução. Esta era uma boa ocasião para conhecer melhor o trabalho dos Barbara e aceitei de imediato.
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Lázaro ou Elvis?

Quando uma espécie que se julgava extinta há muito, por vezes só conhecida através de fósseis, aparece viva e de boa saúde, há duas explicações possíveis. A primeira – e mais simples – é que a espécie nunca esteve realmente morta; evitou sensatamente os seres humanos, talvez durante milénios, acabando no final por ser “apanhada” – a estas espécies, porque voltaram de entre os mortos, chamam-se espécies Lázaro. A segunda explicação é mais complicada, mas também mais interessante: pode não se tratar de uma única espécie, mas de duas espécies diferentes: uma realmente extinta e outra que se tornou, por coincidência evolutiva, semelhante à primeira – estas são as espécies Elvis, porque tal como o Rei, estão sempre a ser vistas em todo o lado, embora estejam – realmente, definitivamente – mortas.

Por um lado, isto lembra-me vagamente o enredo do filme de Christopher Nolan, The Prestige (não vou estragar o fim, mas envolve duplos e ilusionistas); por outro, lembra-me também a relação entre design gráfico e tipografia: o design assume-se como um descendente actual da tipografia, dando a entender uma linhagem ininterrupta desde Gutenberg até ao design mais recente. Mas será que a coisa é assim tão simples? Será o design um Lázaro da tipografia? Ou simplesmente um Elvis?

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Como se diz “Sumol” em Inglês?

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Na tradução dos filmes, há uma ética intrincada mas imperfeita: ver um filme na língua original com legendas, por exemplo, é sempre melhor do que ver um filme dobrado – talvez as legendas sejam consideradas mais autênticas porque são acrescentadas ao filme original, enquanto a dobragem é mais invasiva: apaga algo e ocupa o seu lugar. Porém, há filmes que são por natureza dobrados: será que se deve ver um Western Spaghetti em Inglês, com alguns actores italianos dobrados, ou em Italiano, com o Clint Eastwood e o Lee Van Cleef dobrados? Por questões de imperialismo linguístico (e porque se trata de um Western), talvez seja melhor ver a versão inglesa, mas a versão italiana é com certeza mais exótica, e talvez mais autêntica (trata-se, afinal, de um Western Spaghetti).

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Stuart Bailey: Reutilização e Autoria

Era um dia de chuva leve, e não estava muita gente à espera que as portas abrissem; mesmo assim, o pequeno auditório da Esad de Matosinhos foi-se enchendo para a primeira conferência do quinto e último ciclo das Personal Views. No palco, o convidado, Stuart Bailey, esperava pacientemente que a sala sossegasse, enquanto o seu currículo era projectado em loop no ecrã atrás dele: co-editor da revista Dot Dot Dot, fundador da editora e “livraria ocasional” Dexter Sinister, designer de revistas, autor de artigos, artista, etc.

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Livro de Código

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Há uns tempos, na secção de design da Fnac, apareceu um livro sobre sinais de trânsito. Tratava-se de Signs: Lettering in the Environment, de Phil Baines e Catherine Dixon, uma edição da Lawrence King com fotografias a cores de sinais de toda a Europa.

Pelo meio apareciam alguns exemplos portugueses e confesso que senti um certo orgulho pátrio ao folheá-lo: havia uma daquelas paragens em cimento pintado de branco com um autocarro preto em baixo-relevo, uma velha placa metálica dos STCP e um magote de setas algarvias indicando ambiguamente ruas, hotéis, monumentos e restaurantes. O preço proibitivo do livro (44 € e trocos) talvez surpreenda um não-designer mas ajudou-me a resistir-lhe — mais tarde, uma das minhas alunas de design sugeriu que seria mais barato comprar um livro de código.

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Nada

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Quando vejo uma boa peça de design gráfico pela primeira vez, sem aviso, numa livraria ou nas mãos de alguém, a sensação é sempre a de uma inevitabilidade que, por alguma razão, se manteve inesperada até àquele preciso momento. Como não pensei naquilo antes? Porque não estive a em casa a trabalhar dia e noite para fazer uma coisa assim? Foi o que senti quando vi, numa tabacaria, a capa do primeiro número da revista Nada.

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Autoria, Roubo, Apropriação & Consumo

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Há uns tempos, ao passar por uma sala de aula do primeiro ano de design, ouvi uma rapariga sussurrar a outra qualquer coisa do género: “Não acredito! Aquela vaca também usou um quadrado!” A acusação era sentida e ilustrava bem as estranhas expectativas que muitos designers têm em relação à originalidade. Geralmente, os mesmos que negam o “designer como autor”, que acham que ser chamado “artista” é o pior dos insultos, também acreditam – sem muita coerência – que a falta de originalidade é um problema.

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Incidentes de Fronteira

1.Conflito e Identidade

Design desires to be art and not-art simultaneously — and fears it’s nothing.

Kenneth Fitzgerald, Émigré #48

Existe um tema que divide regularmente os designers: alguns defendem que o design é arte, outros afirmam que, pelo contrário, não é. Nenhuma conclusão duradoura é alcançada e pouco depois a discussão recomeça, com outro autor, outro público e, por vezes, outros argumentos. Por vezes, declara-se sem muita convicção que o conflito acabou, foi resolvido, não tem interesse.

A coisa começa durante os tempos de escola e continua na vida profissional, tornando-se menos paciente, mais subterrânea, reaparecendo subtilmente nas discussões com os clientes, na forma como se elogia ou se menospreza o trabalho de colegas.

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As Fontes têm Memória?

Foi há uns meses que reparei no fenómeno. Tinha acabado de comprar um livro chamado Metro Letters – A Typeface for the Twin Cities, editado por Deborah Littlejohn em 2003, sobre o projecto de criação de uma fonte para as cidades de Minneapolis e St. Paul. Seis designers foram convidados, entre os quais Peter Bil’ak, Just von Rossum e Erik Blokland, e o resultado foi a família Twin, constituída por fontes de espessura uniforme, sem serifas, de desenho geométrico, embora com detalhes rebuscados e curvas exóticas. Na página 23 aparecia uma aplicação de uma das fontes, a Twin BitRound, ao título do jornal The Minnesota Daily que me fez lembrar bastante o jornal Futurismo de 1933, uma publicação claramente fascista com design de Enrico Prampolini.

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Mário Moura

Mário Moura, blogger, conferencista, crítico.

Autor do livro O Design que o Design Não Vê (Orfeu Negro, 2018). Parte dos seus textos foram recolhidos no livro Design em Tempos de Crise (Braço de Ferro, 2009). A sua tese de doutoramento trata da autoria no design.

Dá aulas na FBAUP (História e Crítica do Design Tipografia, Edição) e pertence ao Centro de Investigação i2ads.

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