The Ressabiator

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Se não podes pô-los a pensar uma vez, podes pô-los a pensar duas vezes

Que Interessa o Design?

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É o que me ocorreu quando li a notícia sobre a cadeira do Cavaco. A iniciativa é bem intencionada: emparelha-se designers com personalidades públicas e o resultado é uma cadeira, cujo leilão reverte para a causa dos refugiados. Promove-se o design e empregos no sector do móvel. Toda a gente fica a ganhar.

Mas a pergunta que serve de título a este texto não é retórica. É uma pergunta que importa mesmo responder. Calculo que o editor do Público a tenha feito quando decidiu dedicar a primeira página à iniciativa. A resposta – inesperadamente – diz muito sobre o design nos tempos que correm.
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Design: Identidade e Instituição

É habitual proclamar-se o design como uma actividade universal, praticada desde a aurora dos tempos, sempre que alguém concebe um instrumento, uma casa ou a configuração precisa de uma mensagem, mas este chavão esbarra de frente com o modo como o design é realmente praticado. Por exemplo, apesar da suposta universalidade, assenta num treino particular, ensinado em universidades. Por vezes, defende-se mesmo que só pode ser exercido por profissionais credenciados, mas credenciados a fazer o quê, exactamente? A tal actividade universal, que já é praticada desde a aurora dos tempos, muito tempo antes de haver cursos que a ensinam ou uma palavra para a nomear?

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Design para o umbigo e mais além

Aqui em Portugal como em outros sítios, vou lendo e ouvindo muitas queixas em relação ao chamado “design de autor”: que não é útil, que é feito para o umbigo, por iniciativa própria e não para um cliente; que se dá demasiada importância à personalidade do designer; que, pelo contrário, os designers deveriam dedicar-se a cumprir um serviço eficiente, humilde e anónimo.

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A grande barreira

Não me lembro onde o li, nem quem o escreveu, muito provavelmente não é algo confirmável, apenas outra daquelas lendas urbanas do design, mas aparentemente, no meio da informação da embalagem de um iogurte, a seguir a uma linha que avisava que em certas condições “alguma separação podia ocorrer”, aparecia um pequeno asterisco. Procurando com muita atenção podia encontrar-se, do outro lado da embalagem, impresso num corpo quase pequeno demais para ser lido, a nota que o asterisco referenciava: “mas o papá e a mamã ainda gostam muito um do outro.”

Era daquelas coisas que só um designer podia fazer, à última da hora, mesmo antes do trabalho ir para a gráfica, depois de passar por todas as revisões possíveis. Quase conseguimos imaginá-lo, num momento de cansaço, de humor ou daquele género de rebeldia que só quem já trabalhou num grande escritório compreende.

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Saber discutir

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Surpreende-me que frequentemente se desvalorize uma opinião apenas por ser uma opinião. “É só uma opinião”, diz-se. Ou então, mais grave: “Há opinião a mais”.

Ao dizer-se coisas deste género, está-se a estabelecer uma oposição implícita entre opiniões e factos – uma opinião é falível, enquanto um facto é sólido. Contudo, isto é apenas uma forma de dar a entender que as nossas opiniões são factos, enquanto as das pessoas com quem discordamos são apenas opiniões.

Os designers gráficos, por exemplo, são por vezes treinados na escola para verem o design como algo indiscutível, que basta mostrar o design a um cliente para que este não tenha outro remédio senão ficar convencido – o design é um facto e contra factos não há argumentos.

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Paginar no Word (mas ao contrário)

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Uma das coisas que mais irrita o designer gráfico médio são aqueles chico-espertos que, armados de Word, Powerpoint ou pior, se dedicam a tentar paginar, fazer cartazes ou até sites. É uma irritação antiga, já muito comentada, que não vale a pena desenvolver aqui. Por mera simetria, talvez fosse mais produtivo ou interessante fazer um inquérito na Faculdade de Letras, a ver se por lá acham piada àqueles designers que escrevem um livro inteiro no Quark. 

Tenho a sensação que não diriam muita coisa, em parte porque poucos terão ouvido falar do programa – pensarão talvez que é um novo processador de texto. Mas, apesar da aparente improbabilidade, há pelo menos dois designers que, usando o Quark, já escreveram um livro com mais de duzentas páginas, de ficção, com personagens e enredo, daqueles que as pessoas normais até lêem e gostam, daqueles que aparecem nas listas dos melhores livros do ano. 

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Altos e Baixos

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Uma das histórias mais típicas de Hollywood é a do herói bem estabelecido, com uma vida feliz e segura que, por qualquer razão – a acção de um inimigo, do destino ou dele mesmo –, perde tudo, tendo de trabalhar arduamente para o recuperar. No fim, acaba por alcançar uma existência mais sólida que a original, vivendo feliz para sempre.

Na vida real – sobretudo se essa vida pertence a um designer –, as coisas nunca são assim tão simples.
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A Morte do Poster?

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Na semana passada, enquanto ia para o Metro, um antigo aluno parou-me na rua, chamando-me a atenção para a qualidade de uma série de posters colados num tapume ali perto. Eram bastante diferentes entre si, mas via-se claramente que faziam parte de um conjunto, parecendo-se um pouco com cartazes antigos de Jazz, embora em versão vectorial. Nesse mesmo dia, à noite, dois amigos meus tinham uma opinião mais negativa: achavam o pastiche bastante forçado, abaixo do nível habitual do atelier Martino & Jaña. Perguntei-lhes onde os tinham visto, e eles descreveram o mesmo tapume – a caminho do Metro, à entrada do Campo 24 de Agosto.

Era interessante que os mesmos posters, colados no mesmo tapume, despertassem opiniões tão antagónicas, tendo em conta que, nos últimos anos, se tem declarado com bastante frequência que o poster é um formato morto.

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Cadernos

Não se trata dos cadernos genéricos que se pode comprar em qualquer papelaria, mas dos cadernos que um designer faz para oferecer aos seus amigos ou clientes, por auto-promoção ou por gosto. Às vezes, são coisas simples, só a capa, o formato ou a cor do papel são “design”, outras vezes, são mais preenchidos, com temas e jogos como um almanaque, datas e utilidades como uma agenda. Alguns chegam a ser experimentais, quase livros de artista, como um caderno pautado com as linhas deformadas vectorialmente que vi na secção de livros experimentais de Fully Booked.

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Jorge Silva


Não foi uma conferência, mas uma coisa mais simples e privada, a apresentação do programa de uma cadeira sobre direcção de arte aos outros professores de um mestrado, mas chegou bem para demonstrar que Jorge Silva é um dos poucos designers portugueses com um discurso articulado e crítico, quer sobre o seu próprio trabalho, quer sobre o estado mais alargado da profissão, a sua história e as suas tendências actuais.

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Chavões

“Design & Inovação” é uma das expressões mais irritantes do vocabulário político dos últimos anos. Em geral, aparece em plena campanha eleitoral, quando um político no governo, um ministro ou secretário de estado, inaugura um complexo agro-industrial numa terra com três nomes no interior do país. Nessas ocasiões, o “Design & Inovação” costuma ser a chave para o “Progresso & Desenvolvimento”, desde que se consiga as “necessárias sinergias” com a “Ciência & Tecnologia”, e por aí adiante.

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Identidade Cultural?

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Costuma dizer-se que o design resolve problemas, mas seria mais correcto dizer que é um processo de negociação, e que cada objecto de design não é uma solução, mas a materialização de um problema, um compromisso que se objectivou. Desta forma, é possível olhar para um livro, por exemplo, e ver nas continuidades e contradições entre forma e conteúdo, entre paginação e assunto, um conjunto de relações sociais, de antagonismos, de aspirações e compromissos.

Em c/id, isto começa por ser evidente na maneira como o seu público alvo é representado. Segundo o texto da contracapa, este livro destina-se a designers que trabalham para clientes culturais e a pessoas que lidam com branding e gestão das artes. Mas no único índice do livro estão apenas clientes e não designers. Nos textos que apresentam cada um dos projectos, o designer é referido de forma discreta, quase no fim, só depois de identificado o cliente, a sua história, e a razão porque decidiu criar ou modificar a sua imagem gráfica. É preciso esperar pela última página para encontrar, finalmente, no meio da ficha técnica, uma lista de agradecimentos onde aparecem os nomes dos designers representados e das suas firmas, mas, mesmo aqui, estão ordenados alfabeticamente por cliente, com o nome deste último destacado a bold.

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Stuart Bailey: Reutilização e Autoria

Era um dia de chuva leve, e não estava muita gente à espera que as portas abrissem; mesmo assim, o pequeno auditório da Esad de Matosinhos foi-se enchendo para a primeira conferência do quinto e último ciclo das Personal Views. No palco, o convidado, Stuart Bailey, esperava pacientemente que a sala sossegasse, enquanto o seu currículo era projectado em loop no ecrã atrás dele: co-editor da revista Dot Dot Dot, fundador da editora e “livraria ocasional” Dexter Sinister, designer de revistas, autor de artigos, artista, etc.

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Queda Livre

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No vocabulário do design português, não há uma tradução exacta para “pitch”, o que não é grave, apenas irónico, tendo em conta que também não há uma tradução exacta para a palavra “design”.

O “pitch” é aquele momento em que o designer apresenta a sua proposta ao cliente. Pode querer dizer “apresentação” ou “proposta”, mas também conota “lance” ou “jogada”; uma tradução – mais honesta do que aproximada – poderia ser “atirar o barro à parede”.

É um dos momentos mais ritualizados e mitificados na vida de um designer; é o momento do tudo ou nada – a negociação dramática onde se concentram todas as capacidades de argumentar um projecto, uma solução. Se a vida dos designers fosse uma série de advogados, o “pitch” seriam as alegações finais; se fosse uma série policial, seria aquele momento em que o detective consegue finalmente resolver o caso; se fosse um Western, seria um duelo ao meio-dia.

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A Ética Laboral do Designer

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Quando folheamos catálogos de design gráfico, é difícil perceber se o trabalho que vemos foi realmente concebido pela pessoa que o assinou, se esse trabalho foi pago, ou se o designer que o fez foi ética, política ou religiosamente condicionado. De alguma maneira, os designers parecem existir num plano de mediação abstracta e neutral, acima das realidades mais duras da sua própria sociedade (a mera presença de design gráfico num determinado pais pode ser apresentada como um indicio de liberdade de expressão); no entanto, os modos subtis de repressão e controle que também atravessam as salas brancas e forradas a revistas dos estúdios de design raramente são investigados com rigor.

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O Design enquanto Negociação

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It is well enough understood that design is a socially negotiated discipline, and there are telling respects in which design questions are political questions. [Norman Potter, What is a Designer]

A proposta era simples: fazer três cartazes sobre um tema à escolha – neste caso, uma série de filmes –, e a coisa estava a correr bem. O aluno tinha-me mostrado o trabalho na véspera da entrega e eu fiquei entusiasmado. Eram cartazes elegantes, económicos; apenas o nome do filme e uma imagem vectorial, quase abstracta. Mas, no dia da avaliação, o coração caiu-me aos pés. De um dia para o outro, tinham-se enchido com os nomes do realizador, do produtor, dos actores, e o trabalho tinha piorado consideravelmente. Perguntei-lhe porque tinha posto aqueles nomes todos. Respondeu-me que o tinha feito porque o cliente tinha pedido. Lembrei-lhe que aquilo era um trabalho de escola. O cliente, neste caso, não existia.

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As Duas Interdisciplinaridades

A ideia de interdisciplinaridade dá a entender não uma “coisa”, mas uma relação entre “coisas”. Pretende ser uma oportunidade para ultrapassar fronteiras e limitações disciplinares, aproveitando conceitos e recursos de outras áreas, conotando flexibilidade e mobilidade, por oposição a rigidez e estabilidade. Mas, se parece realmente opor-se à ordem estabelecida, pode também ser apenas um nome mais informal, mais “sexy”, para um poder que se procura sobrepor a tudo e a todos, minimizando as regras dos outros e ocultando as suas próprias.

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História (Muito Abreviada) do Design

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Poder-se-ia traçar uma história do design gráfico português como uma lenta disputa territorial entre formas e conteúdos, entre design e linguagem.

Nos posters de Francisco Providência, ou nos de João Machado, por exemplo, há uma separação clara entre texto e imagem, entre título e ilustração, com raras e tímidas interacções. Cada elemento ocupa o seu lugar numa hierarquia gráfica bem definida, que corresponde também a uma separação técnica de responsabilidades, típica da era pré-computador.

Nessa altura, a ilustração era feita por um ilustrador, a fotografia por um fotógrafo, o design e a tipografia maquetizados por um designer, que supervisionava também a concretização final do processo na gráfica, onde a tipografia era composta, as gralhas revistas, as ilustrações e fotografias reproduzidas, e o objecto final impresso.

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A Cultura em Versão Demo

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O primeiro Photoshop que usei foi o 1.0.7, que corria num Macintosh IIfx na velha sala de computadores das Belas Artes. Com a ajuda de um colega mais experiente, digitalizei uma fotografia a 150 dpi, uma tarefa que levou pouco mais de meia hora, gasta sobretudo em tempo de espera. Atrás de mim, uma fila de cinco ou seis colegas olhava com desconfiança para a barra de progresso que se tinha imobilizado há alguns minutos. Os mais fatalistas opinavam de vez em quando que o computador tinha “crashado”, embora tudo tenha acabado por correr bem.

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Concorrência

De acordo com o Dicionário Oxford, um cartel é o acordo de um conjunto de empresas do mesmo ramo para fixar o preço de um serviço ou produto, impedindo a concorrência livre e prejudicando clientes ou consumidores. Na maioria dos países com economia de mercado, incluindo Portugal, o cartel é ilegal.

É estranho portanto que no Público de 8 de Junho se noticie que a principal decisão do 1º Encontro de Empresas de Design seja a sugestão de um preço mínimo para o Design – estabelecendo de facto um cartel – através da criação de um acordo deontológico para combater a “prática generalizada no mundo do Design em Portugal [d]as empresas oferecerem o seu trabalho, apresentando propostas que não são remuneradas”. De acordo com os organizadores, “este tipo de concorrência leva a um grande grau de falências entre as empresas de design”, e, por outro lado, prejudica os clientes porque não garante que seja escolhido o melhor trabalho, mas o “mais barato ou o mais simples de fazer”.

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Mário Moura

Mário Moura, blogger, conferencista, crítico.

Autor do livro O Design que o Design Não Vê (Orfeu Negro, 2018). Parte dos seus textos foram recolhidos no livro Design em Tempos de Crise (Braço de Ferro, 2009). A sua tese de doutoramento trata da autoria no design.

Dá aulas na FBAUP (História e Crítica do Design Tipografia, Edição) e pertence ao Centro de Investigação i2ads.

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