The Ressabiator

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Se não podes pô-los a pensar uma vez, podes pô-los a pensar duas vezes

Livros do Ano

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Não me apetece fazer uma lista de novidades editoriais que se resumiriam a fazer coro com editoras, jornais e revistas. Portanto, esta é uma lista de coisas – livros, revistas, coisas – que me apeteceu ter este ano e que por sorte consegui entalar nas minhas estantes. Leia o resto deste artigo »

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O Fim da Sociedade de Consumo

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Dei-me conta outro dia que a sociedade de consumo acabou. Não sei quando foi.¹ Mas acabou com toda a certeza. E não foi a esquerda que deu cabo dela mas o neoliberalismo. Sim. É verdade.

Dentro da doutrina neoliberal não há pior do que um consumidor. Só os idiotas, os inúteis e os parasitas consomem. É o que significa o discurso do “vivemos acima dos nossos meios”. E aqueles artigos que se surpreendem quando os portugueses gastam o seu dinheiro numa Bimby ou vão muito a concertos. Comem fora, mesmo com sacrifícios.

O país reestruturado pela austeridade neoliberal não consome; produz coisas  para exportar, o que significa consumidas longe, noutro lugar, mais estúpido e esbanjador do que nós – é essa a receita que a Alemanha não se cansa de apregoar. À deslocalização do trabalho juntou-se a deslocalização do consumo. É por isso que, num país pobre, se fazem tantas merdas gurmê e de luxo. Obviamente, não são feitas para serem consumidas aqui. Leia o resto deste artigo »

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Portucall Center

Hoje (um eufemismo para as últimas 48h), tentei em vão cancelar a internet no meu iPad. O aparelhómetro expirou uns dias depois da garantia de dois anos ter feito o mesmo. E, de qualquer modo, já há uns tempos que tinha dificuldade a reconhecer o cartão de internet. Escarafunchando com um clipe ainda se conseguia resolver o problema durante períodos cada vez mais curtos, mas entretanto percebi que podia viver sem internet e sem iPad. Decidi ir a uma loja da tmn acabar com a assinatura. Leia o resto deste artigo »

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Leituras de Natal

O Natal foi bom, com net pouca, lenta e coada pelo telemóvel. Não actualizei o blog. Voltei a comprar o jornal em papel e a ver as notícias pela tv. Tinha coisas sérias para ler mas preferi reler O Nascimento da Biopolítica, o seminário que Foucault dedicou ao neoliberalismo em 1979. Devia ser leitura obrigatória, sobretudo para os nossos comentadores qualquercoisóliberais que claramente nem daquilo que defendem percebem – explica, por exemplo, aquela aparente contradição de como um Governo neoliberal pode ser intervencionista e policial ao extremo. Leia o resto deste artigo »

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Holocausto Gurmê

Ontem manifestei aqui o meu repúdio e perplexidade pelo projecto, entretanto apagado, de um cofre de luxo inspirado nas emoções de judeus enquanto eram arrebanhados pelos Nazis para serem levados para campos de extermínio. Se é possível tirar alguma lição desta estupidez é que se tornou demasiado fácil ser empreendedor à custa dos outros. Já se tornou habitual ver design de luxo, eventos e objectos de elevado orçamento sustentados por centenas de pessoas que trabalham de graça meses a fio. Ainda choca que se façam versões gurmê do Holocausto; já quase não choca que se produzam versões gurmê de pobreza e de austeridade menos óbvias. Leia o resto deste artigo »

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2013

Não ia fazer listas do ano mas concluí que afinal até dão jeito:

1. Governo do ano: PSD/PP.

2. Oposição do ano: PSD/PP (pela sua oposição persistente e incansável ao Governo Sócrates).

3. Artista do regime do ano: Joana Vasconcelos.

4. Arte pública do ano: o relógio-despertador de Portas.

5. Arte privada do ano: o Crivelli.

6. Privatização do ano: ainda ninguém se lembrou de privatizar o ano.

7. Escritor Infantil do Ano: João César das Neves, pelo seu livro de economia para crianças. Margarida Rebelo Pinto. Ex-Aequo.

8. Privatização Infantil do Ano: Grupo GPS, pela sua contribuição para a privatização das criancinhas.

9. Colunista com o ar mais sério do ano: José Manuel Fernandes.

10. Colunista com o ar de um tio que está prestes a mostrar aos sobrinhos aquele truque do polegar que se destaca do ano: João Miguel Tavares.

 

 

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E entretanto…

…já eliminaram todas as referências ao holocausto do site. Agora é só um guarda jóias chamado warsaw.

Update: vestigios aqui.

Update: E uma cópia do artigo todo em pdf.

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Já agora

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Já agora só para dar contexto: os génios que acharam que a melhor maneira de evitar a banalidade do mal era criar-lhe um modelo de luxo são os mesmos que anunciaram um mini-estágio não-remunerado durante feriados com um cartaz a imitar o de uma greve geral e que, com ajuda desse trabalho não-remunerado, produziram um cofre arrombado forrado a ouro para vender numa feira de milionários. A pobreza-gurmê não era suficiente, tinham que inventar o holocausto-gurmê.

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Aposto que vai ser um sucesso em Israel

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Pensava que não era possível o design de luxo português descer ainda mais baixo, em pura inanidade ofensiva, mas a realidade insiste em fazer de mim um optimista: olhem para este “cofre de luxo” de “edição limitada” inspirado nas malas dos prisioneiros dos campos de concentração nazis. Nem vale a pena comentar.

Update: E entretanto já eliminaram o texto a relacionar esta pérola do design com o holocausto. Agora é só um cofre de luxo feito de réplicas de malas dos anos trinta chamado Warsaw. Boa sorte com isso.

Update: Para memória futura, fica aqui um print screen parcial.

Update: E uma cópia do artigo todo em pdf.

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Olhó Robô!

Ontem, a meio numa discussão sobre economia – será que há outras, neste momento? –, alguém sugeriu que a principal razão para o desemprego é a automatização. É uma ideia comum, mas que me parece errada. Mesmo em Portugal, como se pode verificar em qualquer site de classificados, não há falta de ofertas de emprego. Há é falta de vontade ou capacidade de pagar um salário decente ou de todo. Dá-me a sensação que nos velhos tempos, quando se investia num negócio qualquer, parte do capital era destinado a pagar salários. Agora, parece quase de mau tom dar a entender que se vai pagar alguma coisa. E isto não se passa apenas em start-ups mas em firmas estabelecidas, que dão lucro.

O problema não é portanto a automatização, mas uma assimetria cada vez maior na distribuição dos dividendos, que prejudica o trabalho humano em favor da sua gestão. Essa assimetria não tem a sua raiz num imperativo estrutural da economia mas é uma convenção social. Repare-se como em áreas de difícil automatização, como as artes plásticas, a ênfase mudou de uma valorização de aptidões físicas, características do trabalho subalterno – destreza, precisão, coordenação – para aptidões administrativas, com a hegemonia do curatorial.

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Ir para fora cá dentro

Os números que anunciam a melhoria são mínimos. Tirando o optimismo do Governo, pouca gente os terá visto. A economia cresce mas os salários descem e os impostos sobem. A economia cresce para meia dúzia de pessoas que já não eram pobres quando tudo isto começou. O emprego cresce mas é mais precário e pior. Para a maioria do país acreditar ou duvidar da economia é o mesmo que torcer ou não por uma equipa de futebol – tirando a sensação de ganhar ou perder, não tem efeito nenhum sobre a sua vida. A sensação de pertencer a algo maior, a uma economia, a um país, é só mesmo isso: uma sensação. Não interessa quem ganha ou perde. Cá fora, fica tudo na mesma – ou seja, vai piorando. E, aos poucos, há cada vez mais “cá fora”. Cada vez mais gente nas margens. O triunfo do Governo depende de ir aparando o que corre mal, o que dá trabalho, o que fica mal na foto. Desde o começo que o discurso oficial lamenta os desempregados ou a pobreza mas sublinha tudo o que corre bem para além disso – na realidade, por causa disso. É como se vivêssemos em dois países, um que cresce cada vez mais, vai ficando mais pobre e desintegrado, e outro que vai reduzindo enquanto enriquece brutalmente.

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Modes of Criticism

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A convite do Francisco Laranjo, publico no site Modes of Criticism uma versão ampliada deste texto sobre a identidade da Trienal de Arquitectura que agora encerra.

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Pastoral dos Patos

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Um dos meus autores favoritos de banda desenhada de todos os tempos é Carl Barks, o inventor de Patópolis, do Tio Patinhas, do professor Pardal. Mesmo anónimo entre os tarefeiros da Disney, obrigado a assinar com o logo do patrão, brilhava e bem.

Percebe-se porquê ao ler Vacation Time, publicada originalmente em 1950. A composição da página é inventiva cheia de ângulos e tensões. A riqueza da paisagem antecipa as melhores pranchas de Domingo de Calvin e Hobbes. Mas o que comove é a autenticidade da história. Leia o resto deste artigo »

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Fronteiras

Não estava à espera, mas gostei da rábula dos Gato Fedorento. Depois de semanas, a discutir o radicalismo e os supostos “apelos à violência” de Mário Soares foi refrescante pesar os prós e contras  de dar uma carga de porrada ao Primeiro Ministro ou simplesmente alvejar-lhe os tintins. Põe as coisas em perspectiva. Leia o resto deste artigo »

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Mau perder

José Manuel Fernandes não é economista mas andou a falar com um economista, catedrático, antigo membro do Governo e o resto, que lhe disse que “os economistas ainda são piores que os meteorologistas a fazer previsões”.

E porque invoca ele o bitaite? Porque há um ano, toda a gente (incluindo Cavaco) tinha aceite que tínhamos entrado numa espiral recessiva o que afinal não se verificou. E foi mais uma previsão de economistas que falhou, conclui. Calculo que as outras previsões que falharam sejam as do infalível Gaspar. Leia o resto deste artigo »

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“Boas Notícias”

A nova moda entre os comentadores pró-austeridade é acusarem os cépticos de mau perder. Dizem eles: Então a economia não está a crescer? Não aumentamos as exportações? Não saímos da recessão técnica? Até parece que preferiam que estivesse a correr mal? Leia o resto deste artigo »

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Actividade Febril

Passei em rápida sucessão por uma laringite, pedras nos rins, gripe, sinusite (minhas) e ainda estive a cuidar de outras pessoas com quase tanto azar como eu. Já estava a estranhar ter passado dois ou três dias sem medicação e com as narinas limitadas a deixar entrar e sair elementos gasosos (e não líquidos). Agora, vou na segunda gripe. O que me faz perceber como já não estou habituado a fazer só uma coisa de cada vez – o estado a que a doença me condena. Nos velhos tempos, demorava uma semana a escrever um texto para aqui. Agora, escrevo e publico uma revista sozinho num mês, enquanto termino outros textos de fôlego e cumpro a infinita sucessão de fretes que é Bolonha.

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O Avesso da Fé

Por experiência, sei que as grandes rupturas só muito raramente são rápidas. A fé tem a sua própria inércia. Continua a mexer-se mesmo depois da sua energia acabar. Deixamos de acreditar em alguém, numa instituição ou num país, mas leva algum tempo a haver consequências dessa descrença, até para nós, os novos infiéis. Podemos até insistir, com quem nos queira ouvir, que perdemos a fé, que já não acreditamos, mas ninguém nos leva a sério, porque continuamos a fazer as mesmas coisas, a seguir os mesmos horários, os mesmos hábitos. Até podemos dizer que já não acreditamos, mas é como uma oração em negativo, um pedido para que a nossa falta de fé se concretize. E em geral só é atendido quando já nem isso pedimos.

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Para acabar de vez com a “arte pública”

Como este governo bem sabe, as trincheiras também se aguentam no campo das palavras. Não admira que a formação de gente como Portas seja o pós-modernismo aplicado do Independente ou da Kapa. Multiplicar os significados já foi uma boa maneira de subverter dogmas. Agora, é só uma maneira de fugir, à maneira da lula ou do choco, deixando atrás de si uma nuvem de tinta de duplos, triplos, quádruplos sentidos.

Veja-se como João Miguel Tavares, um Miguel Esteves Cardoso de marca branca, se tenta escapar à designação de neoliberal, sem se aperceber que o nome é apenas uma maneira de abreviar um conjunto de políticas lesivas com as quais ele nunca escondeu concordar.

Assim, volto a insistir: numa era de privatizações impostas à má fila, o termo “Arte Pública” devia ser um campo de batalha. Em vez disso, serve apenas para descrever coisas feitas ao ar livre. E a EDP privatiza-se e faz roteiros de Arte Pública. E artistas altamente patrocinados, como Joana Vasconcelos, também fazem Arte Pública. E também aqui se opera uma subtil privatização.

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Amor da Perdição

Já tinha comentado este meu novo vício com amigos: ando atrás de histórias sobre losers. Não me bastam as aparências, não me basta o pseudo-loser que no fim ganha tudo, contra todas as probabilidades, preciso de gente que perca mesmo e muito. Leia o resto deste artigo »

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Mário Moura

Mário Moura, blogger, conferencista, crítico.

Autor do livro O Design que o Design Não Vê (Orfeu Negro, 2018). Parte dos seus textos foram recolhidos no livro Design em Tempos de Crise (Braço de Ferro, 2009). A sua tese de doutoramento trata da autoria no design.

Dá aulas na FBAUP (História e Crítica do Design Tipografia, Edição) e pertence ao Centro de Investigação i2ads.

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