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Se não podes pô-los a pensar uma vez, podes pô-los a pensar duas vezes

Onde estão as conferências de design?

Esta semana, mais uma vez se perguntou (aqui, aqui e aqui) porque não há um equivalente às Personal views dedicado ao design português. Contudo, parece-me que embora não haja muitos eventos com o calibre internacional das Personal Views (ainda assim houve a Experimenta, a Atypi e agora o Offf), não me parece que haja falta de conferências de design em Portugal.

São raras as semanas em que não recebo a divulgação de um destes eventos, muitos deles apresentações de papers académicos. Este género de conferência é, regra geral, muito mais formal do que uma conferência como o Personal Views. Destina-se apenas a cumprir regras de progressão na carreira académica e, tendo em conta que os empregos das pessoas e o financiamento das instituições dependem destas apresentações, tende a ser bastante cauteloso – não seria muito realista esperar aqui muita polémica ou mesmo excitação.

Há também ocasiões mais informais, conferências de designers mais ou menos conhecidos que são convidados a apresentar o seu trabalho em escolas, por exemplo. São eventos bastante comuns e, em geral, pecam pela pouca, ou pouco atempada, divulgação – uma conferência que é anunciada e promovida com menos de um mês de avanço está destinada a ser uma coisa estritamente local. Em geral, estas conferências – e este também não é um problema português – limitam-se a ser uma versão escolar e idealizada das apresentações de trabalhos a um potencial cliente ou patrão. São raros os designers que conseguem discorrer de uma forma articulada sobre o seu próprio trabalho e mais raros ainda são aqueles que conseguem produzir sobre ele um discurso critico, usando estas apresentações, não para se autopromoverem de uma maneira mais ou menos directa, mas para oferecerem ao público uma visão mais profunda dos problemas do design (mais uma vez, isto não é um problema português).

Uma das razões possíveis para estes eventos todos não encherem as medidas é a tendência para o design português fugir à polémica: “o design é uma coisa nova, portanto precisa de ser apoiado e não de ser criticado” e por aí adiante. Ora, as coisas interessantes são por natureza polémicas; interessam, não por produzirem consenso, mas por serem problemáticas.

Pelo contrário, muitos dos eventos associados ao design português tentam transmitir uma ideia optimista, infantilizada e condescendente do design – imaginem se todas as reportagens sobre política, medicina ou desportos fossem dadas no mesmo tom e profundidade que a maioria das reportagens sobre design? O design é considerado superficial porque os próprios designers cumprem esse preconceito sempre que podem. (Este não é apenas um problema português, mas do próprio design, mas seria tão bom se fosse resolvido aqui por perto.)

Filed under: Conferências, Crítica, Cultura, Design, Ensino,

5 Responses

  1. É aqui em que nós costumamos discordar.
    Desculpa Mário…

    Eu, o eterno optimista, ainda acho que há lugar para (pelo menos) uma edição muito especial da, ou de uma outra “Personal Views”. A edição Tipografia em Portugal. São poucos mas bons os Type Designers por cá – ainda hoje estive com o Dino do Santos, Ricardo Santos e Rui Abreu.

    Em tom jocoso o Dino afirmava que se caísse ali uma bomba, 3/4 do corpo de criadores de tipos em Portugal se perdia… pois, é bem verdade (tanto quanto sei). Mário Feliciano fecha esta lista.

    Trazendo “de lá de fora” ainda podemos chamar o Hugo D’Alte e a Susana Carvalho.

    Outros autores a convidar, por excelência profissional incluiriam (a meu ver) o próprio Howard, o Eduardo Aires, Mealha, Providência e R2 (para nomear alguns). A nível de escrita e crítica, o nosso anfitrião nesta página, o Paulo Silva, o Paulo Heitliger e, se ainda tivessem paciência, aqui o comentador de serviço para insistir no mundo livre AKA Open Source e Web 2.0.

    “Só” e assim de repente, conto, pelo menos 14 intervenientes ainda com alguma coisa a dizer sobre o estado do Design Tipográfico em Portugal.

    Por isso não, não acho que ainda não há conferências suficientes em Portugal. Agora a questão é… será que há público? Creio que a edição da ATypI em LX 2006 e a sala cheia hoje durante o painel tipográfico aqui no OFFF indicam qualquer coisa… Embora tenha quase a certeza que o Design de Tipos (e a sua discussão) não suscita interesse nos Designers profissionais, e entristece-me a ideia que também possa não encontrar essa apetência no ensino…

    Depois da ATypI em Portugal, quero um TDC, quero um Letras Latinas, quero um Linotype, enfim, quero um “Personal Type Views”!… Andrew?

  2. Não queria dizer que as conferências em Portugal são suficientes; excepto na quantidade, estão bastante longe disso.

    A intenção do texto era chamar a atenção para as conferências em Portugal não pecarem por serem poucas, mas por terem pouco efeito.

    Parece-me que acabam por falhar por razões bastante corriqueiras: falta de persistência, falta de divulgação, falta de objectivos e até, em demasiados casos, falta de design.

    Há um público interessado e capaz de se mobilizar, mas em muitas ocasiões esse público acaba por ser maltratado por estas faltas todas, que na prática acabam por ser uma forma persistente de timidez colectiva.

  3. Pedro Gonçalves diz:

    Olá Mario.
    Antes de mais obrigado por proporcionar um espaço deste tipo á comunidade. Soube dele através da entrevista do Andrew na Arte Capital, y confesso que era certamente um grande lapso nao o ter conhecido antes.

    Gostaria de dar a conhecer um pouco do meu background para facilitar a compreensão do que vou propor neste texto.
    Sou designer, criado e formado no Porto, ex aluno e colaborador em regime freelance do Andrew. Há dois anos, aproveitando a minha juventude, procurei criar raízes em Barcelona, uma cidade que me sugeria um respeito e uma fluencia na profissão em que me queria estabelecer. Chegado e instalado, acabei por dar-me conta de múltiplos exemplos de vontades semelhantes à minha, de jovens que procuraram um lugar para sí fora do elitismo profissional, e falta de investimento publico e privado no nosso sector no norte de Portugal, regiao onde também habita uma espécie estranha de facilitismo estético e estrutural que nada ajuda á expansao da boa forma para lá dos limites do mercado cultural. O nacional-porreirismo aplicado ao design… (ou será esta frase um exemplo do – nao menos tradicional – nacional-pessimismo?)

    Assim ganhei afinidade com um ex-colega de universidade, sendo que agora trabalhamos juntos no mesmo estudio, rodeados de catalães.

    Esta estória tem certamente afinidades com muitas outras de outros profissionais que “desertaram” para outras regiões. Em conversa com este ex e novo colega, percebemos o interesse que poderia ter reunir estas pessoas comuns para mostrar estas estórias a jovens mais jovens que nós. Quer fosse no contexto da Esad ou noutro qualquer, creio que poderíamos dar resposta a muitas das dúvidas que assolam os profissionais emergentes, dos quais, pelos meus escassos 4 anos de exercício, me sinto muito próximo.

    Tudo isto feito sempre num contexto informal, e sobretudo de troca de informação. Tentando perceber que o resultado do nosso esforço profissional embora nem sempre recompensado, acaba por contribuir em boa conta para o bem comum. E principalmente, perceber que a nossa formação tem um nível semelhante, por vezes superando a média do nível dos outros profissionais de outras nacionalidades que vamos conhecendo.

    Também poderia servir para desmistificar a ideia pessimista que temos e carregamos para além fronteiras, de que fazemos tudo mal… Nao é verdade. Nos dois estudios onde estive, comparando a experiencia que levava com a que me rodeava, percebi que somos muito mais incisivos nas nossas acçoes do que pensamos, que gostamos mais de “fazer bem” do que nos fazemos a nós próprios crer.

    …Andrew? 🙂

  4. pedamado diz:

    Ainda sobre onde estão as conferências de Design, um breve “plug” de autopromoção: Esta semana vou dar uma aula aberta sobre o desenvolvimento de fontes no IPCA no âmbito das conferências “À conversa com…”

    Irei falar sobre o estado e influência das comunidades on-line, o projecto Typeforge e irei demonstrar como implementar uma fonte Open Source. Apareçam!

    Mais no meu blog: http://pedamado.wordpress.com/2008/05/12/autopromocao/

  5. Hmm, conferências. Design. Conferências. “Spread the word”. Conferências. Designer Inglês (internacional). Conferências. Designer Português. Conferências…

    Certamente, e consoante o optimismo de cada um, veremos que este criticar do “nosso” próprio design está mais ou menos assente aqui na “terrinha”. Bem sei que o OFFF trouxe grande excitação de quem se interessa no meio do Design (ao ponto de esgotarem 2 meses antes os bilhetes). Menor não terá valor os “Personal Views” aqui tão perto que passado ano para ano e conferência para conferência, ia ganhando fama e interesse a quem lhe diz respeito.

    Mas sim, concordo que se fala pouco (ou melhor), não o suficiente. Poderiam ser maiores estas discussões (sejam mais ou menos informais). Quer dizer, agora que penso, e pelo que me têm dito, todas estas conferências (pelo menos a OFFF e as PErsonal Views), são feitas de uma forma “amisgável” e informais. E para tal, não precisamos de chamar “estranjeiros” (não me interpretem mal, eles têm o valor merecido e disso não tenho dúvido, apenas tento suscitar algo diferente), e poderemos “nós por cá” instalar ambientes semelhantes.

    Divulgação, comunicação? Somos designers, acho que a esse nivel devemos safar-nos.
    Espaços? Conheço um ou outro (penso que mais fácil será para quem se encontrar ligado a uma universidade, de preferência de Design – agora digo eu Pedro Amado? Mario Moura?).

    Interesse? Bom, “porteguesmente” falando, uma “estrela” (e sem qualquer rancor ou pudor) chama mais à atenção do que um “Tuguês”. Mas, também me encontro errado neste discurso, porque nós temos estrelas acessíveis a nós. Tal como o Pedro Amado nos refere (mais ou menos competentes à área referida) temos vários nomes de renome ao nível do Design. Porque não promovermos estes debates, mais ou menos informais (tal como nos sugere Pedro Gonçalves).

    Considero-me motivado (apesar da desmotivação – dado à falta de tempo e excesso de carga horária), devido às “Personal Views”. Sim, também fico babado por uma estrela. Mas também temos estrelas entre nós (Pedro Amado? Mário Moura? Aires? Providência? João Faria? R2?, vale a pena continuar?).
    Já não é a primeira vez que vejo o Mário Moura a “queixar-se” (perdoe-me o termo), por não haver grandes discussões do trabalho de Design cá em Portugal, mas o que falta para promover então tal?
    Penso que Tipografia é um bom tema para começar, sendo esta possivelmente a coisa mais importante para o Designer (submetendo-me à minha ignorante opinião).

    Pronto, tema já temos, o que falta agora?
    Um salto à Lua?

    (espero não ser lido como o jovem rebelde e rancoroso, não foi essa a ideia 😉
    SP

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