The Ressabiator

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Se não podes pô-los a pensar uma vez, podes pô-los a pensar duas vezes

Mal Entendido?

Pelos vistos, a exposição de Joana Vasconcelos em Versalhes custou 2,5 milhões de euros, divididos entre mecenas privados e apoios públicos, o artigo no Expresso não permite avaliar quem paga quanto, mas garante que o Turismo Portugal pagou pelo menos 150 mil euros. A quantia é quase um quarto da totalidade do que foi pago em apoios pontuais às artes em 2010 (800 mil). Em todo o caso, a totalidade do que se gastou na exposição é mais de três vezes isso.

Calculo que muito desse dinheiro acabe por vir parar a agências publicidade ou de design que com um bocado de sorte ainda são portuguesas, estimulando um pouco a nossa economia, mas não seria mais sensato gastar esse dinheiro todo num programa de apoio às artes, por exemplo, e não apenas numa só artista? Não seria melhor ser representado lá fora por um iniciativa que mostrasse organização, visão estratégica e um pouco de humildade, em vez daquilo que o Expresso designa por “trilogia de luxo Arte Contemporânea-Fado-Gastronomia”?

É claro que muito deste dinheiro é mecenato privado, conseguido pela intervenção do nosso infatigável Ministro dos Negócios Estrangeiros (que nome tão feito à medida de tais intervenções), mas pergunto-me se também aqui não seria muito mais simples que essas empresas e particulares, em vez de darem dinheiro que lhes garante deduções de impostos, não pagassem simplesmente um pouco mais de impostos, e que um governo que acreditasse um bocadinho mais no serviço público o distribuísse mais democraticamente e por mais gente, talvez até na cultura.

É que gastar assim tanto dinheiro na coisa lá por fora até pode dar a entender que a temos cá dentro, e se calhar até dava jeito ter uma amostrazita por aqui, não venha alguém cá espreitar, convencido que até gastamos dinheiro com isso.

Filed under: Arte, Crítica, Cultura, Exposições, Não é bem design, mas...

2 Responses

  1. Marco diz:

    como diz o povo: “é à grande e à francesa”
    ou então: “é para inglês ver” (neste caso, francês)

    mais uma vez, não entendo o modo como esta joana vasconcelos tem sido “apadrinhada” pelo poder público. é certo que a parolice dos governantes deve ajudar, mas pensar que os bonecos dela são a exaltação de uma portugalidade monumental, é como acreditar que que em auschwitz os judeus e os ciganos morreram a fazer banho turco.
    será que é tão dificil ver que as obras dela são monumetos aos icones representativos da nossa mente tacanha e da incapacidade de afirmação? sinceramente, colocar isso com todo aquele aparato num outro país, deixa-me envergonhado.

    de uma coisa tenho a certeza: mesmo tendo uns kilitos a mais a senhora tem sido levada ao colo a torto e a direito…

  2. […] destruição patrimonial e ecológica causada por umas tantas barragens; ali, promove-se a trilogia luxo-fado-gastronomia; acolá, usam-se artistas/empresários para produzir instalações gigantes a partir de objectos […]

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