Dizia no post anterior que o poder no design está ligado a uma visualidade negativa (“o melhor design é invisível”).
Muito se tem falado do poder do design, em geral ligando esse poder a outros poderes (o poder político, a democracia, a ditadura, o patriarcado, o racismo).
Mas há um poder específico ao design gráfico. É um poder ligado à administração de um fronteira do sensível: a que separa o visível do legível.
Quando o designer invoca a legibilidade como imperativo não está só a dizer que certos objectos devem poder ser lidos facilmente, mas a afirmar a supremacia do legível sobre o visível.
Garantir a legibilidade não é polir e afinar algo que já é um texto, mas é exigir que seja um texto ou como um texto. Trata-se de marcá-lo como um texto.
Muita da história do design gráfico avança num ciclo: uma nova tecnologia vem baralhar as fronteiras entre texto e imagem (a litografia, a fotocomposição, os computadores). A estes períodos de indefinição segue-se sempre uma viragem textual, um novo tradicionalismo que se traduz numa preocupação pela legibilidade.
A actual viragem tipográfica que se seguiu às Legibility Wars é talvez o mais longo destes períodos conservadores. Design gráfico é tido como sinónimo de tipografia. O advento da Inteligência Artificial, que gera texto como imagem promete ser um novo abalo.
(imagem: pedi ao Dall-e para gerar a imagem de um poster integrado na paisagem das Festas da Senhora da Agonia em Lamego, que não sei se existem.)
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