The Ressabiator

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Se não podes pô-los a pensar uma vez, podes pô-los a pensar duas vezes

20 anos: o Ressabiator na Universidade

Este mês marca os vinte anos do Ressabiator. Se fosse uma pessoa, e não um blogue, é possível que estivesse na universidade, a meio de uma licenciatura de três anos de Bolonha. Talvez um curso de Design.

A presença do Ressabiator na Universidade sempre foi frustrante. Nasceu de uma frustração: a ausência de um discurso público e cívico por parte dos designers. Abriu-me bastantes portas. Foi graças ao blogue que escrevi para livros e revistas. Dei conferências e aulas. A maioria delas foram feitas fora dos esquemas habituais com que se mede o sucesso das carreiras. Nos questionários de avaliação, quando consigo incluir a minha escrita, é quase sempre na categoria de «Outro/as:» (ou equivalente).

Sou citado em todo o tipo de papers, dissertações e teses. Sabe bem. A frustração é sempre o «Outros/as».

Deixei há muito de levar a sério certas ideias grandiloquentes do pós-Bolonha, nomeadamente a de fazer a universidade sair da sua torre de marfim e entrar pela sociedade e economia adentro. Já fazia isso quando mal havia centros de investigação em Design ou projectos financiados.

Não se recebe principescamente a escrever sobre design em Portugal, mas pode-se realmente ser pago por isso. É um vencimento tão incerto como os que se recebem via investigação universitária, mas tem a vantagem de garantir alguma liberdade.

O que se espera de um investigador é sobretudo que passe semanas ou meses a preparar propostas para concurso. Chega-se ao fim convencido que se deveria receber algum prémio só por completar a papelada toda. Há pessoas que fazem isso muito bem. Com elas já me candidatei a projetos e, às vezes, ganhámos. Faz parte desta vida.

No meu caso, a parte crua, desprotegida, não da minha carreira, mas do meu pensamento é isto. Literalmente isto. No vosso caso, que me leem, a parte concreta são os pixeis no vosso ecrã, que encena os conteúdos de uma base de dados num servidor. No meu, escrevo isto numa poltrona amarela da Ikea virada de costas para a janela, porque o contraluz me dá dores de cabeça se for prolongado. É sexta-feira e posso escrever com algum vagar porque as filhas foram para a escolinha e estou sozinho em casa. Quando acabar de publicar isto, lerei o trabalho de mestrandos. Prepararei a aula de História do Design da próxima segunda-feira. Depois lerei as leituras «selvagens», que não têm utilidade imediata (um livro de design de David Reinfurt e talvez umas bicadas numa autobiografia de Werner Herzog). À tarde, ainda não sei.

Filed under: Crítica

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